“O Senhor é a Nossa Justiça”.
Jr. 33:16
As posições dos cristãos que atuam na esfera pública sem ceder às ideologias seculares são conhecidas e propiciaram, ao longo dos últimos séculos, a própria formação das democracias ocidentais. Sem perceber a influência decisiva da fé cristã, a história da formação das instituições políticas do Ocidente não pode ser compreendida de forma adequada.
O respeito à individualidade e à vida, enquanto dádiva do Criador, a primazia da família, a defesa da propriedade, a gritante falibilidade humana, e a liberdade dada por Deus para que o homem faça uso dos seus dons, exerça suas vocações, e coma do fruto do seu trabalho, sem que os poderosos deste mundo abusem do seu poder para roubar e oprimir ao cidadão comum. Tais teses, de João Crisóstomo e Santo Agostinho a Edmund Burke e Samuel Johnson, mantiveram-se por séculos no consenso entre os cristãos que buscaram fundamentar sua visão sobre questões políticas de forma fielmente fundamentada nos princípios e prescrições das Sagradas Escrituras.
Quando lembramos deste legado intelectual, percebemos que nenhum cristão está autorizado a negar, na esfera pública, nada do que integra a cosmovisão cristã em favor de alguma formalidade ou conveniência jurídica ou política. Analisando friamente, negar as teses cristãs sobre a condição humana e suas implicações sociais, antropológicas e políticas é negar os fundamentos da liberdade política, tão valorizada na cultura ocidental, quanto ameaçada justamente por aqueles que, de forma cada vez mais notória, mostram todo o seu ódio contra os cristãos.
Lamentavelmente, porém, a Associação Nacional dos Juristas Evangélicos (Anajure), na figura de seu presidente, Uziel Santana, ao chamar Marco Feliciano de intolerante, chamou de intolerantes todos os cristãos que se mobilizam contra a caçada anticristã dos movimentos pró-aborto, gayzista e feminista. Reinaldo Azevedo, católico, mas com opiniões nem sempre muito alinhadas com a Doutrina Social da Igreja de Roma, defendeu Feliciano. Já Uziel criticou asperamente a atuação dos evangélicos e jogou ainda mais acusações sobre deputado do PSC, algumas muitos baixas, de natureza puramente subjetiva e de cunho estritamente pessoal. Afirmando que “não podemos ser intolerantes com os intolerantes”, só dá mostras de seu despreparo, não sabendo que é exatamente por isso que se proíbe a formação de partidos racistas ou nazistas no Brasil. Isso por que se diz jurista. E agora pretende, numa operação de contenção de danos e restauração da imagem pública da Anajure, alardear que o Brasil pode ser refúgio para vítimas de perseguição religiosa. O que, é verdade, não é má-idéia.
Mas, daí, impõe-se uma pergunta: e se essas vítimas da perseguição, como os cristãos do Oriente Médio, sempre firmes em suas posições, uma vez integradas na sociedade brasileira e recebendo cidadania, se opusessem, com todo o direito que lhes cabe, ao aborto, ao gayzismo, ao feminismo e a outros devaneios do marxismo cultural?
Uziel Santana os denunciaria como intolerantes? Ou ele também propõe um cursinho prévio (com exame ao fim, é claro) apresentando as vaselínicas teses da Anajure, para que tratem todas estas questões como assunto para plebiscito, ao melhor estilo da ampla aliança tecnocrata e progressista do Ocidente que há tanto tempo fala num governo mundial?
Uziel ordenaria seus assessores a pressionar os sites que expusessem as opiniões destas vítimas de perseguição caso discordassem dos posicionamentos públicos da Anajure, como já fez com sites como o Gospel Mais, Gospel Prime e o Portal Fé em Jesus?
Perguntar não ofende. Não que eu espere respostas. Até porque de agentes políticos, a prudência recomenda não apenas estar atento às suas incoerências e atos descabidos, como a reconhecer que, quando se pronunciam, visam, antes de qualquer coisa, resultados políticos concretos, e não coerência doutrinal e ética. Já para os que se afirmam cristãos, a atuação política deve ser alinhada com as Escrituras nas motivações, princípios, meios e fins. Neste sentido, do que é possível apreender, a atuação da Anajure tem sido simplesmente um desastre.
Mas, como eu há disse, não espero respostas. Nem da Anajure, nem da patota da “teologia” da Missão Integral, nem desses cristãos moderninhos que se acham muito espertos mas que se tornam idiotas úteis da esquerda mais anticristã, reverberando toda esta pressão contra Marco Feliciano, que só evidencia a ruína do Estado Democrático de Direito no Brasil. Que ninguém pense que outros cristãos teriam melhor sorte do que Marco Feliciano no comando da Comissão de Direitos Humanos. A tomada do poder político pelo PT e partidos-satélites está fazendo deste país não um abrigo para religiosos perseguidos, mas sim o paraíso de uma elite despótica cujo ódio contra os princípios da fé cristã é ecoado até mesmo por alguns que dizem agir em nome dela.
Por suas posições firmes contra o homossexualismo, Feliciano é acusado por Uziel de ser “intolerante com os intolerantes” e promover “guerra santa” (esta última é uma típica rotulação odiosa usada por esquerdistas). E quanto aos potenciais refugiados cristãos que viriam do Oriente Médio? Sabe-se que eles são muito duros na questão do homossexualismo. Eles também seriam acusados de “intolerantes com os intolerantes”.
E cá entre nós: há uma ironia perversa no fato de que Uziel Santana afirme querer abrigar religiosos perseguidos de outras nações enquanto acaba por fortalecer, com suas declarações, – e não só aquelas contra Feliciano -, os planos dos que querem criminalizar as posições cristãs em seu próprio país.