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Xenofobia evangélica

A igreja evangélica do Brasil já é uma grande nação, tal como a igreja católica, de quem, aliás, sempre seguiu os passos.

Hoje, evangélicos possuem embaixadas de suas denominações em vários lugares do país e também ao redor do planeta, através das chamadas missões. Ou seja, nações ideológicas e religiosas dentro de outras nações.

No Brasil, já são dezenas de milhões de cristãos evangélicos pertencentes a subgrupos, maiores e menores, que possuem traços marcantes de identidade que os diferem entre si.

Seja na indumentária de homens e mulheres, o corte dos cabelos (ou o não corte), a utilização de véus, chapéus, a Bíblia debaixo do braço, ou ainda nos coletivos de jovens abarrotando cultos com shows de música gospel aos sábados – bem como pizzarias no pós-culto – enfim, grupos e subgrupos são formados praticamente todos os dias no Brasil, ganhando seu espaço na sociedade.

Ocorre que as mudanças que vem acontecendo geração após geração promovem cismas e os desligamentos são inevitáveis, quase nunca pacíficos e os que saem, chamados ‘rebeldes’ pelos que ficam, o fazem sempre motivados por algum tipo de demanda espiritualizada. Ou seja, um descontentamento com alguma linha de raciocínio, alguma postura escandalosa (que são muitas) de líderes mais elevados na pirâmide e, por fim, o despertamentos espirituais, moveres sobrenaturais, os chamados avivamentos, tudo é razão para a criação de novos grupos.

O argumento quase sempre passa por terminologias como: “Deus me mostrou que não podemos mais ficar aqui” ou então: “A Palavra diz: ‘saí do meio dela, meu povo’” e por aí vai.

Entrementes, esses casos que determinam novos conceitos, práticas e idéias que costumeiramente levam ao rompimento com determinadas tradições e ritos são capazes de produzir discriminação, a xenofobia teológica. Ou seja, havendo a permanência de um grupo ou indivíduo que se contrasta do convencional, dentro de um grupo, o próprio grupo trata de promover sua exclusão.

A exclusão pode ocorrer através de preconceitos velados, constrangimentos, assédios morais ou ainda por um convite expresso para ir embora. É uma situação que tem se tornado comum na história das igrejas evangélicas do Brasil e, sem dúvida, tem sido uma das fortes razões para a existência de tão grande diversidade de denominações e comunidades, as quais, sob um olhar superficial, parecem idênticas entre si.

Somente quem vive no âmago dessas questões entende e pode falar das ínfimas de suas discordâncias textuais, mas o fato é que elas acabam se fortalecendo de tal maneira, que se tornam as bases de fé, teologia, liturgia e doutrina de um novo grupo, praticamente igual ao outro.

Seria bem melhor se a Igreja Evangélica fosse capaz de construir uma situação que promovesse a igualdade do meio de toda essa diversidade. Infelizmente, a fragmentação está se tornando cada vez mais caótica e vem produzindo festivais de intolerância, além de gerar ambientes e pessoas fascistas.

Já é possível notar exemplos de fascismo nas imediações de grande parte das igrejas. Isso sempre foi notório nas igrejas americanas e também na África do Sul, onde negros e brancos nunca participavam dos mesmos cultos. Aqui no Brasil, temos igrejas elitizadas, grupos onde somente empresários de grosso calibre participam, igrejas de descolados, de artistas, igrejas de adoradores extravagantes, igrejas onde se fala em línguas estranhas e outras onde se acha ridículo falar, igrejas onde se ri descontroladamente e igrejas onde cultos mais parecem velórios, igrejas onde há iluminação, fumaça e telões de led, como num mega show, igrejas que transmitem cultos ao vivo por meios de comunicação de massa e igrejas onde só podem participar quem é batizado, ou quem é dizimista. Teria mais exemplos…

De fato, a história se repete sempre como um ciclo. Se formos notar bem veremos a Reforma Protestante potencializada por interesses políticos e econômicos. Diversas nações da Europa, cansadas de ter que se submeter ao cajado de Roma – a religião que virou império – e não querendo mais receber suas cartas no jogo político e econômico do mundo daquele tempo, fundaram suas próprias denominações. Luteranos na Alemanha, Presbiterianos na Suíça etc. etc. etc.

Mas nem tudo é um mar de lama e, mas formos considerar a religião cristã por sua contribuição histórica, teremos resultados dúbios.

Veremos atuações nefastas de verdadeiros déspotas cristãos que governaram o mundo com cetro de ferro, dignos do título de anticristo. Veremos contribuições pontuais fundamentais para a filosofia e a ciência, para a cultura, a educação e a formação de cidadãos ‘bons’. Esse ‘bons’, obviamente, é questão de conceito e em minha opinião, muitos dos benefícios trazidos pela igreja cristã na história tratam-se de medidas de domesticação, alienação, sempre a serviço da formação de sua própria nação, ou contratado por alguma outra.

Infelizmente, a conclusão é de que no fundo, todos os cristãos querem ser abraões, ou seja, pais de alguma nação, entendendo enganosamente que ser um abraão é ser um rei, alguém rico e que domina sobre outras pessoas.

É o que penso acerca da maior parte dos pastores da atualidade. Grandes ou pequenos, eles só querem ser reis e quando se tornam poderosos líderes de uma nação, fazem guerra, induzem ao preconceito, enfim, transformam-se em anticristos.

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