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A Voz de Abel

“Pela fé Abel ofereceu a Deus um sacrifício superior ao de Caim. Pela fé ele foi reconhecido como justo, quando Deus aprovou as suas ofertas. Embora esteja morto, por meio da fé ainda fala.” Hebreus 11:4

 

Todas as vezes em que lia a “galeria dos Heróis da Fé” de Hebreus 11, a expressão utilizada pelo autor para se referir a Abel sempre me chamou atenção. Que coisa forte dizer que um homem mesmo morto ainda fala! Assim, mesmo essa sendo uma história bastante conhecida, decidi procurar analisar um pouco mais a fundo Gênesis 4 a fim de compreender quem foi Abel e o que ele ainda fala, mesmo após a sua morte.

Como nós sabemos, Abel foi assassinado por seu irmão Caim, após terem feito ofertas a Deus. A oferta de Abel foi aceita, a Caim, porém, abominada. Muitos afirmam que Deus não aceitou a oferta de Caim por causa de suas motivações. Mas na verdade, Deus não aceitou a oferta de Caim porque ele a fez de modo errado, da forma como o Senhor não havia prescrito. Embora naquele tempo Deus ainda não houvesse revelado a Sua Lei ao homem, Ele já havia estabelecido um padrão de como deveria ser adorado pelos homens e de que forma se daria a expiação. A saber, através da morte de um Cordeiro, o que prenunciava tanto os rituais de adoração do Antigo Testamento que seriam instituído mais a frente, como o sacrífico de Cristo.

A grande questão é: como foi que Abel consegui descobrir isso? É aí que ele mesmo morto começa a nos falar. Abel deduziu que essa era a forma correta de adorar a Deus por observar a forma como Deus tratou seus pais em Gênesis 3.21 após eles terem pecado, provendo-lhes roupas feitas com pele de um animal. Ou seja, por conta do pecado, foi necessário que houvesse a morte de um animal. A partir disso, ele deduziu que a forma correta de adorar a Deus seria sacrificando uma ovelha. Ele agiu por fé, e por isso foi justificado, segundo Hebreus. Mesmo que isso tenha lhe custado a sua própria vida.

Dessa forma, Abel nos fala que não podemos nos achegar a Deus, nem cultuá-lo de qualquer maneira. Ele é um Deus santo e estabeleceu as formas exatas para que nós o adoremos. Não podemos adorá-lo da forma que bem entendemos, como fez Caim. Se assim o fizermos, nossa adoração de nada valerá, apenas para nos distanciar de Deus e nos tornar ainda mais propícios ao pecado. Que mensagem dura para os nossos dias em que a adoração virou um comércio ao gosto do freguês e totalmente centrada no homem, não em Deus. Acho que isso explica os frequentes escândalos do mundo gospel relacionados principalmente a dinheiro. Infelizmente é isso o que dá adorar a Deus de forma errada. Nos distanciamos dEle e nos aproximamos ainda mais do pecado. Como disse Deus a Caim: “saiba que o pecado o ameaça à porta; ele deseja conquista-lo, mas você deve dominá-lo”.

Abel também nos fala sobre observamos a Lei de Deus e obedecê-la. Embora ele não tivesse nenhuma parte da Bíblia sequer, ele observou a forma como Deus se revelou aos seus pais e a obedeceu. É isso que temos que fazer em nossos dias. A Bíblia é a revelação infalível de Deus. É ela que devemos observar e através dela analisar todas as coisas. Mas não somente observar, obedecer. Conhecimento teológico é nulo se não for posto em prática.

Por fim, Abel nos fala que vale a pena adorar a Deus da forma correta mesmo que isso nos traga custos, inclusive a perda da nossa vida. A meu ver, ele pode ser considerado o primeiro mártir do Cristianismo, uma vez que morreu apenas por ter cultuado a Deus da forma correta. Eu sei que isso pode parecer estranho em nosso contexto brasileiro, no qual temos liberdade de culto e podemos adorar a Deus de qualquer forma. Mas em muitos países não é assim e ser fiel a Deus, adorando-O da forma que Ele prescreve, seja no culto ou no dia-a-dia, traz uma série de riscos.

Já há alguns anos venho acompanhando a situação dos cristãos que sofrem perseguição religiosa ao redor do mundo e tenho acompanhado desde casos extremos de torturas, violência sexual e morte até sofrimentos mais “leves” por assim dizer. Mas ao escrever esse texto, apenas uma história me veio à mente. A história de um homem de 35 anos do Egito. Ele é engenheiro, já fez diversos concursos públicos mas nunca foi aprovado simplesmente por ser cristão e por isso está desempregado. Mesmo tendo essa idade e desejando se casar e construir uma família, ele é impossibilitado por não ter um emprego e ter que ainda morar com os pais. Ele sabe que a partir do momento em que negar sua fé e deixar de adorar a Deus da forma correta, ele consegue um ótimo emprego e pode fazer o quiser. Ainda assim ele prefere ser fiel e sofrer dessa forma por amor a Cristo. O sofrimento dele não é físico. Mas imagine as angústias de um homem de 35 anos que não consegue trabalhar, não pode se casar e ainda é sustentado pelos pais. Tudo isso por ouvir a voz de Abel.

Abel fala à Igreja ainda hoje. Fala à cultura gospel no Brasil sobre como adorar a Deus de forma correta. Fala acerca da suficiência das Escrituras, mas também fala de obediência e fé prática. Ele fala a nós, Igreja Brasileira, mas fala também aos cristãos que sofrem perseguição ao redor do mundo.

Que ouçamos a voz de Abel, mesmo morto. Que adoremos a Deus da forma que o agrada, segundo os seus padrões e não os nossos gostos pessoais. Que não deixemos o pecado nos dominar. Que a Bíblia seja suficiente e praticada por nós. Que permaneçamos firmes apesar de tudo de todos. Que voltemos ao Evangelho!

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