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A verdadeira adoração extravagante e profética

Na última década se consolidou no cenário musical gospel brasileiro um tipo de música muito conhecido como adoração profética ou adoração extravagante. Segundo os defensores desse movimento, estamos vivendo o tempo da Nova Aliança e por isso temos que adorar a Deus com tudo o que temos de forma extravagante, demonstrando o nosso amor por Ele de todas as formas. Seja dançando, correndo, se deitando no chão ou até mesmo imitando animais. Quase tudo é válido, mesmo que nos escandalize, desde que “guiado” pelo Espírito Santo. É em meio a esse tipo de adoração que o Espírito Santo supostamente se manifesta trazendo revelações à Igreja e liberando palavras proféticas não apenas para os adoradores, mas até mesmo para nações inteiras.

Sempre que questionados se esse modelo de adoração é mesmo bíblico, aqueles que o defendem sempre se utilizam de textos como o de Mateus 26.1-13 para justificarem suas práticas. O texto em questão relata a atitude de Maria de Betânia para com Jesus alguns dias antes de ele ser crucificado. Ela entrou no local em que ele estava reunido com os seus discípulos e derramou sobre a sua cabeça um vaso de alabastro, um perfume muito caro. Todos ao seu redor ficaram escandalizados com aquilo e a reprenderam dizendo que seria mais útil se ela tivesse vendido aquele perfume e distribuído o dinheiro aos pobres. Jesus, contudo, os censurou e afirmou que ela havia agido profeticamente, uma vez que muito em breve ele seria crucificado e o seu corpo precisava ser ungido para isso. Como recompensa a esse ato profético, em todas as nações onde o Evangelho fosse pregado a história daquela mulher seria relatada como um testemunho.

Sempre que leio esse texto fico impressionado com a extravagância dessa mulher. Sim, eu realmente acredito que esse é um caso de adoração extravagante e profética e que ainda hoje podemos adorar a Deus como essa mulher o fez, mas isso não justifica o movimento de adoração profética que temos visto hoje no Brasil. O ato dessa mulher não tem nada a ver com o culto, mas sim com o significado de toda uma vida. Maria de Betânia um exemplo clássico do espírito de martírio que deveria fazer parte da vida de todo cristão.

Maria entendeu o propósito da vinda de Jesus ao mundo. Ela reconheceu que ele era o seu salvador e que precisava morrer em uma cruz para cumprir o plano de Deus. Isso é algo que para nós nos parece óbvio, mas não o era em seu tempo. Muitos discípulos, inclusive Pedro não conseguia conceber o fato de Jesus ter que ser crucificado e mesmo após Jesus os advertir sobre isso diversas vezes, eles ainda continuaram agindo como se nada daquilo fosse acontecer. Entretanto, não foi assim com aquela mulher. Diante da realidade da morte de Cristo ela não pôde ficar indiferente a isso. Ela tinha que fazer algo. Ela tinha que expressar o seu amor por Jesus e isso tinha que ser de forma extravagante, proporcional ao sacrifício que Jesus faria por ela.

Tendo isso em mente, aquela mulher decidiu abrir mão da coisa mais valiosa que tinha a fim de expressar o Seu amor por Jesus, que era exatamente o vaso de alabastro. Naquele tempo em Israel não havia previdência privada, nem INSS, então era comum as pessoas juntarem dinheiro ao longo de toda a vida para comprar um vaso de alabastro a fim de que quando estivessem velhas pudessem vende-lo e assim se sustentarem. É por isso que parecia tão irracional o que aquela mulher havia feito. Ela acabara de sacrificar o seu futuro, de pôr em risco a sua própria sobrevivência por amor a Jesus, por entender que Ele precisava ser morto para comprar para Deus os que procedem de toda tribo, língua e nação. Maria de Betânia amou mais a Cristo do que à sua própria vida. É por isso que a sua história seria contada onde quer que o Evangelho fosse pregado, como um testemunho da suficiência e supremacia de Cristo.

Ao mesmo tempo, aquele foi um ato profético não apenas porque se referiu à morte de Cristo, mas também por se referir ao martírio dos discípulos que estavam naquele lugar repreendendo-a. Ao fazer aquilo ela mostrou-os que Jesus era digno não apenas do perfume caro que ela acabava de derramar e consequentemente o seu futuro, mas também do sangue daqueles discípulos que seriam mortos para que o Evangelho fosse levado a todas as nações, juntamente com esse testemunho.

O Evangelho nos nossos dias tem chegado de fato aos confins da Terra, e nós brasileiros podemos sim nos considerar os confins da Terra da Palestina onde o Evangelho surgiu. Mas ainda há outros confins da Terra que precisam ser alcançados pelo Evangelho. Ainda há o Norte da África, o Oriente Médio, a Ásia, a Índia… É por isso que mais do que nunca precisamos ser lembrados do vaso de alabastro que foi derramado.

Sim, nós precisamos adorar a Deus de forma extravagante e profética, mas não fazemos isso ao agirmos irracionalmente no culto enquanto repetimos um mantra vazio de significado. Adorar a Deus de forma extravagante e profética é muito mais do que um simples momento de êxtase.  Adorar a Deus de forma extravagante e profética é estarmos dispostos a morrer para nós mesmos em todos os aspectos, até mesmo derramando o nosso sangue a fim de que Cristo tenha proeminência sobre tudo e todos e receba a recompensa dos seus sofrimentos entre as nações. Sim, isso é a verdadeira adoração profética e extravagante. Estamos dispostos a isso?

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