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Júlio Severo e temas relacionados

Decidi escrever o presente artigo por dois motivos básicos: primeiro, dar uma breve resposta ao jovem Júlio Severo, às suas acusações gratuitas e paranoicas; segundo, demonstrar um pouco do que penso, do que sou, do que defendo em questões sociais. Não o faço por mera justificativa, por receio, mas simplesmente para colocar os pingos nos is. Ajustar!

Defendo princípios semelhantes aos defendidos por Severo, como a não legalização do aborto, da proteção da família, mas o que me preocupa são seus constantes ataques, suas críticas baseadas em um extremismo religioso semelhante ao islâmico, fundamentalista. Trata-se de um jovem que poderia ter um futuro pela frente, mas que não somente coloca a si mesmo, mas também a sua família em perigo, em uma grande crise social.

Síndrome de perseguição, afastamento do convívio social, da escola, dos amigos/as, dos parentes. Devemos protestar? Obviamente que sim. Temos de lutar por causas justas? Claro, mas também temos de olhar para nós mesmos, para nossos filhos, para o futuro que estamos ajudando eles a construir. É preciso pensar, analisar, refletir com calma. A família do Júlio está em crise, obviamente.

Pontuando

Se quiser saber, meu jovem, sou a favor de uma série de pontos, como a regularização da maconha, desmilitarização da PM, da plena laicidade do Estado, do Estado de bem-estar social etc. Grandes sociólogos como Fernando Henrique Cardoso não defende, por exemplo, a legalização da maconha? E outros cientistas sociais também assim não pensam? É necessário enumerar?

Mas por que regularizar a maconha? A questão é econômica, mas também estratégica. Mesmo os EUA, com sua parafernália militar, de segurança, não conseguiu acabar ou mesmo reduzir o tráfico de drogas em seu território. Militares, do sul do país, desviam armamentos para carteis do México, viabilizam a entrada de drogas no País. É uma guerra impossível de vencer, a não ser pelo meio legal, pela legalização, para após reduzir o uso por meio de campanhas de saúde preventiva.

Ao mesmo tempo – com a regularização da maconha – países como Brasil, Colômbia, Bolívia, Venezuela e outros mais – teriam redução nos gastos com a construção de presídios, diminuiriam a presença de adolescentes em centros de recuperação, teriam os índices de assassinato reduzidos a índices baixíssimos, e o principal: atingiria em cheio o poder de fogo do narcotráfico e, por extensão, à corrupção. FHC e outros sociólogos dão importantes contribuições ao trazer está discussão.

Sou a favor da justiça social, da igualdade de direitos, do acesso à educação, à saúde, ao lazer. São princípios que contrariam o Estado de Direito? São contra os direitos reivindicados em 1789, pela “Revolução Francesa”? Pelos Direitos Humanos? Minha posição política, ideológica, é a igualdade de direitos, a república, o bem-estar social. Estou errado? Por quê? Aponte os erros.

A Revolução Cubana foi necessária porque os cubanos eram explorados financeira e fisicamente pelos estadunidenses. A prisão de Guantánamo é um símbolo, um exemplo contemporâneo dos abusos cometidos pelos EUA em território cubano, contra as mulheres cubanas. A luta era contra a concentração do poder, da exploração do povo. O general Fugencio Batista servia aos interesses dos EUA, relegando aos pobres uma existência miserável, de fome, de inexistência social, humana.

Sou a favor de que a ausência de democracia é o grande erro pós 1959. Por outro lado, o analfabetismo e a mortalidade infantil foram erradicados, a medicina avançou consideravelmente. São méritos, devemos reconhecer, mas o ideal mesmo é que a ilha se abra ao mundo, permita aos seus cidadãos que tenham acesso aos bens produzidos por outros países, pensem por si mesmos.

Crise na Venezuela? Certo, o populismo, o protecionismo, o assistencialismo são elementos que enfraquecem uma sociedade, que a torna extremamente dependente do Estado, quando o ideal é o estado reduzido, que dê condições técnicas, logísticas, para que um país cresça, produza riquezas. Mas não devemos tirar alguns méritos do chavismo: igualmente o analfabetismo foi erradicado, foram construídas 11 universidades, mas também o erro é que a democracia foi posta em colapso.

Por outro lado, quem são os opositores ao presidente Nicolás Maduro? Que tipo de revolução está em curso? Revolução burguesa? As figuras carimbadas de Henrique Capriles e Leopoldo López – o primeiro cuja família domina vários meios de comunicação da Venezuela, e o segundo de formação em Princeton, de família rica – colocaram a massa em prol de interesses pessoais. O que está em jogo é o poder. Capriles quer o poder. Não é o povo, não é a massa que lhes interessa – é o poder!

Alcançado o Poder, os jovens, os universitários, serão esquecidos, abandonados à sua própria sorte. Todas as principais revoluções da História foram conduzidas pela burguesia, postas em curso pelo uso do proletariado, pela classe oprimida. O chavismo é populista? É Clientelista? Concordo e assino. É um erro que precisa ser corrigido, de maneira que o Estado seja direcionado à democracia, à livre concorrência, ao estado de bem-estar social. Mas sem priorizar o rico, o abastado. Governar para todos. Fazer o Estado crescer. Dar condições técnicas. Impulsionar.

Comunista, esquerdista? E mesmo se o fosse – a democracia não pressupõe liberdade de expressão, de escolha? Não teria sido este um dos erros dos EUA na Guerra Fria? O cerceamento aos direitos de seus próprios cidadãos e de estrangeiros? Dos sindicatos? Da pluralidade partidária? E os direitos humanos na prisão de Guantánamo? Nos guetos de Nova York? Os pobres do Sul, de Nova Orleans, da Califórnia, das regiões desérticas? E a saúde – é universal?

Sou a favor de um novo sistema, um sistema que concilie aspectos positivos de outros sistemas, como do capitalismo e do socialismo. Mas o capitalismo possui aspectos positivos? Evidente! E o socialismo? Justo! Crescimento econômico, democracia, tecnologia, mobilidade, acesso à educação, à saúde pública e gratuita, ao bem estar-social. Podemos sim equilibrar a balança, fazê-las mais justa, mais humana, mas sem atropelar direitos, sem atacar gratuitamente outros sem prévia acusação contra si.  É o caminho correto, dado o Estado de Direito, de resposta. Tem de ser assim!

O Estado de bem-estar social é um dos melhores exemplos a seguir.

 

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