Nestes últimos dias, fomos despertados para um inquietante desassossego perpetuado por dois jovens, segundo a noticia, fizeram explodir dois engenhos, perto da linha de chegada de uma prova de maratona internacional na cidade de Boston, EUA.
A mídia cobriu o evento da caça ao jovem que sobreviveu ao primeiro confronto com a Polícia, em que faleceu seu irmão. Uma cidade parou, e cerca de dez mil forças de segurança, passaram a pente fino até o esconderijo, onde se tinha escondido o suspeito terrorista. Uma grande encenação e os motivos parecem apontar para mais um episódio extremista de religião.
Já foi dito repetidas vezes que o homem mais perigoso é o fanático religioso. Compreende-se que o zelo por Deus está na justificação deste procedimento. É preciso que se instrua que Deus é amor e que cada homem tem o direito de crer naquilo que acredita. Passei a minha infância, parte da minha juventude e depois em adulto, numa terra maravilhosa com suave viver. Na cidade de Lourenço Marques, hoje Maputo, em Moçambique, conviviam islâmicos, hindus, judeus, cristãos católicos, protestantes, evangélicos, budistas, testemunhas de Jeová, crenças nativas, entre outras.
Na cosmopolita Lourenço Marques, também habitavam diversas raças. Um ponto de encontro de africanos, europeus, asiáticos e árabes. Pretendo aqui testificar que nunca assisti a nenhum conflito racial ou religioso. Não excluo que “milandos” (conflitos de ordem social) eram os casos de polícia. Podia-se andar nas ruas da cidade e na periferia a qualquer hora do dia e da noite, sem medos e sem assaltos.
No banco das escolas, no Exército e mais tarde na minha atividade comercial, convivi com pessoas de várias religiões e raças com suave viver. Ainda jovem, fui convidado por um colega para ir a sua casa, e era hindu. Sua mãe recebeu-me muito bem e mostrou-me o altar das suas devoções. Eu disse que era cristão e ela não se importou, disse-me que o filho gostava muito de mim e por esta razão, é que me queria oferecer um lanche.
Um amigo da vida militar era o Chiu, que era de origem chinesa. Mesmo com a sua fé, convidei-o para vir a minha casa e apresentei-lhe os meus pais. Este meu gesto não premeditado granjeou-me uma grande estima entre os chineses e ele apresentou-me à namorada Teresa Chang, como o amigo que o tinha convidado a conhecer os pais.
Em Quelimane onde eu era na altura representante da Pfizer, comi com o meu gerente que era islâmico, Ahmad Karim, em casa de islâmicos e pela primeira vez saboreei um ótimo caril comido à mão, pois vi que eles não usavam talheres. Na Ilha de Moçambique onde esteve Camões, Vasco da Gama, Afonso de Albuquerque, entre outros notáveis, passei tranquilamente entre a população de maioria islâmica, com suave viver.
O “modus vivendi” do moçambicano tinha um grande segredo, que era o respeito mútuo pela diferença de cada um e contrariamente a outros vizinhos, não tínhamos problemas raciais. Ainda éramos uma colônia e havia exploração econômica aos nativos, infelizmente.
Nos dias de hoje procuramos evangelizar pela Palavra, em vez de pelo testemunho. Até mesmo se assiste a um proselitismo entre igrejas, como se o Corpo de Cristo, também chamado de igreja, não fosse um só. Mas de onde vem estas pelejas? A resposta é do amor ao dinheiro. O status de quem tem mais e mais membros, maior igreja, é bem o sinal de que este mau testemunho cristão é o maior impedimento a uma evangelização.
São indesculpáveis aqueles que dizendo-se cristãos, procedem como fundamentalistas fanáticos pela sua denominação. Um amigo me falou que tinha comprado um carro à prova de bala, porque segundo ele, dois outros pastores tinham mandado matá-lo, também construíram casa de igreja ao pé da igreja, onde ele ministra e isto com o objetivo “espertalhão” de roubar umas ovelhas, que às vezes de tontas, se deixam seduzir por habilidades mágicas de como engordar mais, ter mais lã e mais leite, pela fé.
Quando o Papa Emérito Bento XVI esteve no Brasil, afirmou que quando os católicos derem um bom testemunho da sua fé e da sua maneira de viver, logo atrairão aqueles que se passaram para as seitas. É possível que no próximo mês de junho quando o Papa Francisco vier ao Brasil, para o encontro mundial dos jovens católicos, procure seguir o conselho deixado pelo seu antecessor.
Nas igrejas evangélicas já se nota uma certa fraqueza com a juventude que está mais a fim de ouvir músicas e cantores, do que a Palavra. Há uns anos atrás quando era Vice-presidente do Conselho de Pastores de Cabo Frio, a pedido do Presidente, representei o Conselho numa igreja local para a celebração de uma efeméride. Estiveram presentes cantoras famosas e à sua frente estavam muitos jovens com câmaras fotográficas para registar a participação. Depois foi a hora da pregação do pastor convidado e na sala ficaram apenas um terço das pessoas.
Depois houve uma recepção com cafezinho e uma das cantoras estava toda preocupada, porque dizia que tinha que ir embora, mas que não iam deixá-la ir sem dar autógrafos. Podíamos ver pela janela que os jovens a aguardavam , os mesmos que tinham dado o fora na hora de ouvir a Palavra de Deus. Então eu confrontei a moça e disse que a culpa era dela. A cantora ficou perplexa com a minha observação e eu nada mais acrescentei, porque para bom entendedor meia palavra basta!
Tempos de eclosão no meio evangélico virão. Esta afirmação não é uma profecia, mas uma constatação. Viver suave consiste em respeitar à Deus e ao próximo. Isto é amor e formosos são os pés dos que anunciam as Boas Novas.
Fraternalmente,
casal com uma missão,
Amilcar e Isabel Rodrigues