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Sobre muçulmanos que sonham com Jesus e se tornam cristãos

Em Atos 10 vemos a história de um homem chamado Cornélio, um homem que embora piedoso, ainda não era um convertido ao Cristianismo. Era um gentio e por isso ainda não tinha tido acesso aos meios de salvação da Antiga Aliança. Contudo, como ele era um eleito, Deus lhe enviou um anjo a fim de guia-lo até Pedro para que ele lhes pregasse o Evangelho e Cornélio, juntamente com sua família fosse salvo. É mais ou menos o que aconteceu com os magos do Oriente quando Jesus nasceu e uma estrela no céus os guiou até Jesus, a fim de que eles conhecessem o messias e fossem salvos.

Quando leio histórias como essas na Bíblia não consigo deixar de pensar nos inúmeros casos que leio diariamente vindos de homens e mulheres piedosos que tem gastos suas vidas como missionários no Oriente Médio e em contextos de maioria islâmica. São relatos de muçulmanos que de formas miraculosas tem sonhos ou revelações com Jesus e a partir disso são guiados a alguma Igreja ou missionário, ouvem a pregação do Evangelho e se convertem. Estima-se que só Egito, mais de 200 mil muçulmanos tiveram acesso ao Evangelho dessa forma, em um país em que é proibido pregar o Evangelho a não crentes.

Muitas pessoas tem expressado ressalvas e críticas com relação a isso, pondo em questão a autenticidade dessas conversões. Por isso, gostaria de salientar alguns pontos que tenho percebido acerca desses eventos, levando em consideração, sobretudo a Bíblia, mas também alguns fatos.

Sonhos não são fins em si mesmos

Diversos teólogos, como o John Piper, expressam duvidar que muçulmanos possam através de sonhos terem conhecimento acerca de toda a mensagem do Evangelho e dessa forma se converterem, uma vez que Paulo é bem claro que a salvação só pode ocorrer através do Evangelho pregado por seres humanos: “Porque todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo. Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10:13-14). Concordo plenamente com isso, pois é exatamente o que a Bíblia afirma.

Contudo, creio sim que Deus pode se revelar aos muçulmanos através de sonhos a fim de leva-los a alguém que lhes pregue o Evangelho, do mesmo modo que fez com Cornélio e Pedro em Atos 10, como já citado. Exemplos disso nos dias de hoje não faltam. Um deles é a Igreja Kars El Dobara, situada no centro do Cairo, no Egito e maior Igreja do Oriente Médio. Essa é uma Igreja Presbiteriana fundada ainda durante o século XIX e hoje liderada pelo Sameh Maurice. Segundo ele, pelo menos metade dos 10 mil membros da Igreja se converteram lá, mas só chegaram até ela porque tiveram algum tipo de sonho ou revelação com Jesus. Ele reconhece que Deus mesmo não tivesse levado essas pessoas até sua Igreja elas provavelmente nunca ouviriam o Evangelho, uma vez que no Egito, assim como em diversos países islâmicos há severas leis que restringem a evangelização. Estima-se que só Egito, mais de 200 mil muçulmanos tiveram acesso ao Evangelho dessa forma.

Assim, os sonhos e revelações que hoje tem acontecido entre muçulmanos não são fins em si mesmos, mas meios que Deus tem utilizado para pregar o Evangelho aos Seus eleitos, sendo este um meio que Ele mesmo utilizou mais de uma vez ao longo do Novo Testamento. Ou seja, isso é algo bíblico.

Não é algo natural

Outros argumentos contra a existência desses sonhos hoje em dia como sendo parte da atuação de Deus é o fato de Jesus ser um personagem secundário no Islã, um profeta; o que para muitos justificaria as pessoas sonharem com Ele, já que é uma figura comum a eles. Entretanto, nem todos os muçulmanos tem um conhecimento profundo acerca de Jesus e as descrições acerca dEle no Alcorão não são suficientes para naturalmente lhes despertar a curiosidade a ponto de milhares de pessoas sonharem como Ele. Pensar dessa forma é totalmente ilógico.

Por exemplo, nós cristãos, assim como os muçulmanos temos diversos profetas. Uns mais notáveis do que outros, assim como Jesus para eles. Suponhamos que a importância de Jesus para o Islã seja semelhante a de Isaías para nós cristãos. Por mais que saibamos o quanto Isaías foi importante para preparar o caminho da vinda de Jesus e o quanto ele é citado nos Evangelhos, pouco sabemos acerca de sua vida e também geralmente não temos muita curiosidade em saber disso. Eu mesmo já li o livro do profeta Isaías diversas vezes e mesmo estando bastante familiarizado nunca tive nenhum sonho com ele. Desconheço outros cristãos que tenham sonhado com qualquer um dos profetas da Bíblia, por mais familiares que eles lhes fossem. Desse modo, não faz sentido pensar que com os muçulmanos seria assim.

Por outro lado, a Bíblia está repleta de casos em que Deus se revelou a pessoas através de sonhos a fim de cumprir um propósito maior. Até agora não encontrei nenhuma base bíblica que contrarie a ocorrência disso nos dias atuais. E a meu ver isso não é apenas uma questão de ser continuísta ou cessacionista. Se cremos que Deus é soberano sobre tudo, inclusive sobre as ações humanas, o que nos impede de crer que Deus permita que Seus eleitos sonhem com Suas verdades já reveladas na Bíblia a fim de lavá-los a alguém que possa lhes pregar o Evangelho, a fim de serem salvos?

Não justifica a falta de missionários

Outra objeção comum é a de que isso contradiz as ordenanças de Jesus em Mateus 28 e justifica a negligência da Igreja, sobretudo do Ocidente, de não enviar missionários ao mundo islâmico. Entretanto, vejo exatamente o contrário. Como já argumentei aqui, os sonhos são apenas um meio que Deus utiliza para levar Seus eleitos muçulmanos a ouvirem a pregação do Evangelho a fim de que se convertam. E para que isso aconteça é necessário que haja missionários, uma vez que a Igreja no Oriente Médio, embora em expansão, ainda é muito pequena e frágil, devido aos diversos conflitos na região, bem como por causa da perseguição. Sendo essa última uma das principais razões que impediram o progresso do Evangelho na região.

Assim, vejo esses sonhos como a resposta de Deus aos anos de oração da Sua Igreja por um verdadeiro avivamento e expansão do Evangelho entre os muçulmanos. Essa é a oportunidade pela qual o Corpo de Cristo tanto ansiou. Será que ainda não conseguimos entender o que significa o fato de milhares de pessoas estarem em busca de alguém que lhes pregue o Evangelho exatamente em uma região onde isso é proibido? Foi para que isso acontecesse que tantos homens, a exemplo do Raymund Lull derramaram seu sangue ao longo da História das missões! Vivemos em um momento único e temos que aproveitar essas oportunidades que o Senhor tem nos dado a fim de cumprimos Sua missão.

Imagino que eram oportunidades assim que Paulo desejava em Colosenses 4, quando estava na prisão. Por isso não consigo ver esses sonhos como um pretexto para não enviarmos missionários aos muçulmanos, mas exatamente o oposto. É exatamente por isso que mais do que nunca devemos investir em missões no Oriente Médio. Essa é a última fronteira missionária do Cristianismo e mais do que nunca Deus tem nos dado oportunidades de transportá-la.

Deus é soberano

Por fim, creio que tudo isso mostra o quanto Deus é soberano e fiel à Sua própria vontade e que Seu Reino está se expandindo ainda hoje na Terra independente de nossos esforços humanos. É claro que o propósito de Deus é que Sua Palavra seja pregada através de homens e ele certamente assim o fará. Mas isso não significa que Ele dependa de nós. Só nos cabe nos dispormos a ir e orar como Jesus nos ensina em Mateus 9.37-38:

“Então, disse aos seus discípulos: A seara é realmente grande, mas poucos os ceifeiros. Rogai, pois, ao Senhor da seara, que mande ceifeiros para a sua seara.”

Que o Senhor levante ceifeiros para a Sua seara entre os povos muçulmanos!

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