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Sob ataque: Julio Severo fala de censura em entrevista especial

Não há nada mais hediondo do que a censura, a interdição da palavra, o aprisionamento do pensamento.

Impedir uma ideia de ser transmitida – por via da força ou da sabotagem – é o que há de mais odioso em um regime que se vende como democracia. 

Procurei Julio Severo para esta entrevista quando verifiquei que o seu blog havia sido retirado do ar. O articulista explicou, mais tarde, que fora vítima de um ataque logo após a publicação do artigo “Ariovaldo Ramos na Igreja Batista da Lagoinha“.

Eu não afirmo – tampouco Julio Severo o faz – que os ataques têm como origem pessoas citadas no artigo. Convido o leitor a examinar atentamente a entrevista abaixo, sem pressa, e tirar suas próprias conclusões.

Tenho plena consciência de que, ao tomar esta iniciativa, farão de mim uma caricatura na tentativa de desqualificar as denúncias e ideias aqui expostas. Não terão êxito, contudo, em me reduzir ao velho espantalho do “conservador radical”.

Além da fraternidade cristã – algo que muita gente deixa na gaveta – o que me leva a expressar publicamente minha solidariedade a Julio Severo é a defesa do princípio de liberdade de expressão – algo que a esquerda só tira da gaveta quando lhe convém.

Não concordo com muitas das ideias de Severo. É claro que concordo com muitas outras. Mas convergências e divergências não importam aqui e agora.

O que está em jogo é a liberdade de expressão de alguém que pensa diferente do mainstream político. É bastante óbvio pra mim que Severo tem todo o direito de expressar o que pensa – gostemos ou não. 

Como dizia Rosa Luxemburgo – em um surto de lucidez que às vezes ocorre mesmo nas pessoas mais radicais – “A liberdade é quase sempre, exclusivamente, a liberdade de quem discorda de nós”.

Confira a entrevista na íntegra:

Você avisou aos leitores que seu blog poderia sair do ar. Por quê?

Julio Severo: Na manhã de sexta-feira (21), meu blog estava fora do ar, com uma mensagem que dizia que o blog havia sido removido. Isso, que não é um acontecimento frequente, deixou os leitores assustados, que se comunicaram pelo Facebook e Twitter perguntando sobre o fato. O bloqueio do blog, conforme verifiquei depois, foi resultado de tentativas de login em minhas contas. Com receio de que meu blog fosse bloqueado novamente, alertei os leitores para que ajudassem a divulgar o artigo que estava incomodando ameaçadores.

Os ataques começaram logo após a publicação do artigo “Ariovaldo Ramos na Igreja Batista da Lagoinha”?

JS: O bloqueio ocorreu um dia depois da publicação do artigo denunciando o esquerdismo de Ariovaldo Ramos.

Além dos ataques virtuais, você tem recebido ameaças contra sua família?

JS: No próprio dia da publicação do meu artigo, recebi ameaça me dando 24 horas para removê-lo. Se eu não cumprisse as exigências, a ameaça dizia que meus dados pessoais e de minha família seriam jogados ao público. Fui colocado sob direta ameaça de chantagem.

Você pode dar alguma informação sobre o conteúdo e provável origem das ameaças?

JS: Os detalhes são: a proibição de usar o nome de Ariovaldo Ramos nas denúncias que faço ao tratar de declarações públicas dele, com a ameaça de que números de documentos meus e de minha família, inclusive nosso endereço, seriam difundidos. A chantagem também ameaçava revelar muitos outros dados pessoais, indicando que foi feita uma investigação para obter informações para possibilitar essa chance de chantagem. Sobre a origem, dá para notar que não são ativistas gays, que são normalmente os grandes interessados na descoberta dos meus dados pessoais, especialmente meu endereço. Se a ameaça tivesse vindo de tais ativistas, a chantagem teria exigido, por exemplo, que eu nunca mais mencionasse o nome de Luiz Mott ou outro supremacista gay. Ter interesse em me calar eles têm de sobra. Desde 2010, por exemplo, há um comunicado interno, interceptado e registrado por nós, da ABGLT (Associação Brasileira de Gays, Lésbicas e Transgêneros) instruindo os grupos gays do Brasil a localizarem meu endereço.

Mas agora eles podem estar seguindo outras pistas. Quando, em 7 de agosto do ano passado um blog – que se diz evangélico e apologético – afirmou publicamente que eu havia mentido sobre minha saída do Brasil, e que provavelmente eu estava escondido em algum lugar do Brasil, poucos dias depois um grupo gay foi até um apartamento de São Paulo para “interpelar” um Julio Severo que eles achavam que estava ali, conforme registro (http://archive.is/adHUY) de Léo Mendes, um dos grandes ativistas gays do Brasil. O atual caso, envolvendo chantagem e ameaça de revelar dados pessoais e endereços, parece vir do meio evangélico “apologético,” que em grande parte tem aderido à apologia do socialismo, pois em vez de exigirem que eu pare de denunciar Luiz Mott, o maior líder do movimento homossexual, exigiram que eu parasse de denunciar Ariovaldo Ramos, o maior líder do movimento socialista evangélico.

Após todos os ataques, você recebeu algum apoio de expoentes da igreja evangélica?

JS: Não.

Considera possível a participação de pessoas ligadas ao governo federal nos ataques?

JS: Não dá para descartar essa possibilidade, pois não é qualquer um que consegue acesso a dados pessoais e documentais de uma família, especialmente de endereço de quem está no exterior. O tipo de vasculhamento de dados contido na ameaça de chantagem parece envolver indivíduos ligados ao aparato governamental. Ariovaldo Ramos tem forte ligação com o governo, publicamente registrada em seu encontro com Gilberto Carvalho, o homem forte do PT, numa igreja presbiteriana de Brasília no ano passado. Não estou acusando Ari de absolutamente nada, mas é certo que a origem da ameaça de chantagem veio de uma fonte fortemente dedicada a protegê-lo. Talvez até seja um fanático seguidor dele com quem ele não concorde. Assim esperamos.

Por que o artigo incomodou tanto?

JS: De fato, não compreendo. O texto, no caso, só repete declarações feitas por Ariovaldo Ramos que já estão registradas no blog pessoal dele e, portanto, amplamente acessíveis ao público. As informações se referem ao lamento que ele fez com a morte de Hugo Chávez, dizendo: “O melhor que se pode dizer de alguém é que, porque ele passou por aqui, o mundo ficou melhor! Isso se pode dizer de Hugo Chávez!”Eu já havia mencionado essa declaração dele antes e, mesmo que nenhum outro blog a citasse, o blog pessoal do Ari tem o lamento completo.

Uma hipótese do incômodo é que minha denúncia possa atrapalhar a primeira grande incursão da Teologia da Missão Integral, através de Ari, numa grande igreja neopentecostal, que é a Igreja Batista da Lagoinha, citada no meu texto.
Não dá, de forma alguma, para dizer que os incomodados agiram para defender a reputação de Ari contra alguma informação mais íntima da vida dele, pois meu texto não se envolveu nessa área. Mas um esquerdista se irrita facilmente quando suas declarações públicas são questionadas.

A defesa de Chávez por Ariovaldo pode ser explicada pela tendência da esquerda de apostar em salvadores (normalmente em trajes militares) e professar um messianismo político que substitui Deus pelo Estado?

JS: Exatamente. Na verdade, o messianismo socialista afeta todas as áreas da pessoa. Um Estado sob possessão socialista controla a economia da sociedade e dos indivíduos, sobrecarregando-os de impostos. Em essência, o trabalhador se torna um escravo do Estado. Na Bíblia, nos tornamos escravos, ou servos, de Jesus voluntariamente. O Estado sob possessão socialista não dá liberdade real para ninguém. A falta de liberdade afeta todas as outras áreas, nas quais o Estado socialista exige controle sobre a educação e saúde e sobre a educação e saúde de seus filhos. No Estado socialista, a palavra final sobre decisões de educação e saúde dos filhos pertence a ele mesmo, como se ele fosse um deus. O Estado socialista invade também áreas mais íntimas do indivíduo, inclusive opiniões pessoais. Vemos hoje a tendência socialista universal de criminalizar a “homofobia,” isto é, as opiniões contrárias às práticas homossexuais. O Estado socialista, como um deus tirânico e selvagem, invade descontroladamente todas as áreas mais intimadas das pessoas, especialmente das famílias, exigindo um lugar que deveria pertencer apenas a Deus.

Há coerência em criticar Bush e aceitar Maduro, condenar a Guerra ao Iraque e silenciar sobre a Venezuela?

JS: Nenhuma. Bush é evangélico e Maduro é apenas um ditador. Durante os dois mandatos de Bush, a esquerda evangélica brasileira parecia não ter outro assunto, condenando tudo o que Bush fazia, especialmente na questão da Guerra do Iraque. Quando Obama se tornou presidente, as críticas sobre o Iraque viraram silêncio! Todo aquele tumulto paranoico por causa da Guerra do Iraque cessou com o governo de Obama, mostrando que a motivação contra Bush era política e ideológica. Seja o que for que Bush fizesse, ele estava errado, para os que usavam a Guerra no Iraque para atacá-lo. A diferença é clara: Bush era pró-vida e pró-família, de forma geral, mas era criticado pela Guerra no Iraque. Obama é o presidente mais pró-aborto e pró-homossexualismo da história dos EUA, e não é criticado por guerra nenhuma. Daí, a motivação de ódio contra Bush só pode ser suas posturas pró-família.

Quanto a Maduro, ele segue o modelo cubano, e a Venezuela tem hoje milhares de agentes cubanos, inclusive militares, para manter o governo em segurança. A população venezuelana? Está totalmente insegura, com agentes cubanos agindo em todo o país e matando! Não podemos nos esquecer de que a ditadura cubana matou para impor o comunismo em Cuba, e depois continuou matando dezenas de milhares de pessoas, inclusive cristãos. Não há liberdade em Cuba, pois quem determina a liberdade e tudo o mais é o Estado. Na Venezuela, estão se aproximando da “liberdade” cubana. O cidadão que rejeitar a ditadura cubana na Venezuela corre risco de vida. Como esse país é vizinho do Brasil, a obrigação dos pseudopacifistas que se opunham veementemente à Guerra do Iraque (durante o governo Bush apenas, nunca no governo Obama) deveria ser se aliar ao oprimido povo venezuelano diante de uma ditadura sanguinária. O povo venezuelano está vivendo na pele o que é o marxismo: depois que você é enganado a aceitá-lo, ele o obrigará a mantê-lo até à morte.

A Missão Integral sofre da mesma distorção da Teologia da Libertação, cujos expoentes confundem Jesus com Che Guevara e o Paraíso de Cristo com o “Outro Mundo Possível” dos comunistas?

JS: O “paraíso” socialista de Che Guevara só foi possível com assassinatos e violências contra milhares de inocentes. O Paraíso cristão é possível porque o Único Inocente, Jesus Cristo, foi morto por nossos pecados. A Teologia da Libertação, predominante na Igreja Católica e também na Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, transforma o Evangelho em plataforma para as ambições socialistas totalitárias. A Teologia da Missão Integral, que é predominante nas igrejas evangélicas históricas, é a versão protestante da Teologia da Libertação. Ambas as teologias levam suas vítimas ao reino desde mundo, não ao Reino de Cristo. Ambas as teologias levam suas vítimas a admirar os barbudos da esquerda, inclusive Fidel Castro e Che Guevara, não o “barbudo” do Reino de Deus, Jesus Cristo. Trato mais amplamente desse assunto no meu e-book: “Teologia da Libertação versus Teologia da Prosperidade.”

 

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