“Se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? E ele lhe disse: Que está escrito na lei? Como lês?
Respondendo ele, disse: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todas as tuas forças, e de todo o teu entendimento, e ao teu próximo como a ti mesmo. E disse-lhe: Respondeste bem; faze isso, e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se a si mesmo, disse a Jesus: E quem é o meu próximo?”
Evangelho de Lucas
Logo após, Jesus dá início à história conhecida de todos pela alcunha de “Parábola do Bom Samaritano”.
Nela, o Messias fala de alguém em situação de necessidade no meio de um caminho ante o qual passaram diversas pessoas, tipificadas por Ele como um sacerdote, um levita e, por fim, um samaritano.
Chama atenção a maneira de Jesus devolver a pergunta ao doutor da lei. Ele disse: “Que está escrito na lei? Como lês?” Na verdade, ele confronta ao letrado homem (doutor da lei) acerca da palavra nua e crua e também em sua interpretação acerca dela. O que está escrito? O que você entende disso?
Encantadora a didática e a elegância do Mestre. Ora, ele estava lidando com um “colega” e devolve a ele a oportunidade de responder àquela pergunta tão básica para um simples estudante das escrituras, quanto mais para um doutor.
Toda lei de Deus se resume no mandamento do amor, disso todos os que estudam a Palavra sabe, mas o doutor se entrega, dizendo “sei qual é a lei, mas quem é meu próximo?”
O inquiridor de Jesus se viu numa sinuca de bico e confessou: “eu sei que devo amar, mas não sei como amar”.
O fato aqui é que o mandamento é simples, a palavra é fácil de ser pronunciada, é romântica, linda, inspiradora de poesias e músicas… ah, o amor!!! Porém, sua prática, ou seja, amar, é algo bem diferente.
Li tempos atrás de algum pensador: “amar a humanidade é fácil, difícil é amar ao próximo”. #FATO
Conosco, hoje, é a mesma coisa, pois mesmo sabendo o teor da lei, suas tecnologias, suas sistemáticas, suas causas, seus efeitos, seus princípios, as profecias e seus cumprimentos, mesmo conhecendo as melhores versões, os melhores dicionários, mesmo tendo o Google trabalhando por nós, poucos de nós sabem de fato como se dá a prática natural, física, visível e real dessa lei. Creio que se soubessem, já teríamos transformado o mundo num lugar melhor.
Voltando ao método de ensino de Jesus, o vemos revelando, através de mais um de suas geniais metáforas, o sentido oculto da lei de prática tão complexa, a do amor.
Ele fala: “qual dos três te parece que foi o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? E ele disse: O que usou de misericórdia para com ele. Disse, pois, Jesus: Vá e faça a mesma coisa.”
Interessante como isso ainda carece de revelação para nós (ou será que é só pra mim?).
É aqui que entro onde quero, afirmando com convicção que estamos tão apagados em nossos sentidos espirituais, tão desligados do que acontece no mundo ao nosso redor, que temos sido impossibilitados de cumprir com esse mandamento de forma prática.
Permanecemos sabendo, mas não amando! Tudo isto por falta de luz, excesso de trevas; falta de generosidade, excesso de egoísmo; falta de identificação e, conforme os termos do próprio Senhor no texto, falta de misericórdia e excesso de indiferença.
De forma superficial, a palavra misericórdia, tem sua origem etimológica na união de outras duas, miser = miséria e córdia = coração. Ou seja, amar depende fundamentalmente de alguém se identificar do fundo do coração com a miséria de outrém.
Não se ama sem isso, não se cumpre a lei de Deus sem essa predisposição. Isto só é possível na vida dos que nasceram de Deus, pois eles são os únicos capazes de amar, pois só Deus e seus filhos são AMOR, em essência.
Quanto aos outros, os filhos deste mundo, que só pensam em si próprios e até nas boas obras que praticam, as fazem para seu próprio desfrute e descargo de consciência, eles não percebem quando os “próximos” estão atravessando seus caminhos, vivendo alheios às oportunidades de ajudar, de exercer misericórdia, enfim, de amar.
Até sabem o que deve ser feito, só não sabem, nem percebem como e quando!