Colunas

Sem pai, sem mestre, sem líder – Apenas irmãos!

“[fariseus] gostam de ser cumprimentados nas praças públicas, e de que as pessoas os chamem mestre. Quanto a vocês, nunca se deixem chamar mestre, pois um só é o Mestre de vocês, e todos vocês são irmãos. Na terra, não chamem a ninguém Pai, pois um só é o Pai de vocês, aquele que está no céu. Não deixem que os outros chamem vocês líderes, pois um só é o Líder de vocês: o Messias”. Mateus 23:7-10

No texto acima vemos Jesus ensinando aos discípulos, advertindo-os sobre um traço do perfil dos fariseus, que, creio, possa nos servir nos dias atuais. Em sua arrogância, vaidade e ambição social, aqueles personagens icônicos da passagem terrenal do Cristo sobre a face da terra tinham um prazer apaixonado por serem reconhecidos nas ruas pelas pessoas comuns. Tais como artistas, ‘superstars’, os fariseus, “autoridades da interpretação da Lei” – segundo palavra do próprio Jesus – eram reconhecidos por cidadãos nas ruas e protagonizavam cenas de bajulação, coisa comum ainda nos dias de hoje.

Em determinados tipos, como por exemplo, médicos, advogados e políticos, é corriqueiro ver as pessoas dispensando tratamentos nominais como “doutor”, “excelência” ou “autoridade” e entre pastores, líderes eclesiásticos também é assim.

Para membros do clero, os tratamentos são vários também e demonstram os níveis de importância de cada um. O tratamento pode ser pastor (que não é pouca coisa não), reverendo, bispo, apóstolo, profeta e ainda há os que se agregaram ao vernáculo eclesial, como “servo de Deus”, “homem de Deus”, “ungido do Senhor”, entre outros.

Lembro-me do tempo em que as pessoas me chamavam “pastor” e, mesmo tendo vivido uma experiência curtíssima dentro de um trabalho eclesiástico dessa natureza, esse tratamento me perseguiu por muito tempo. Confesso que, após sair daquele modelo de cristianismo, adentrando num longo processo de conversão de valores e espiritualidade, passei anos com um sentimento constrangido, todas as vezes que alguém se dirigia a mim chamando de “pastor”.

Hoje, poucos me chamam assim e os apelidos Rafa, Rafito, Rafildes, Alemão, Gordinho, Careca ou Reparador me trazem maior conforto, soando melhor aos meus ouvidos do que pastor. Não me sinto pastor, nunca me senti, na verdade (apesar de ter aceitado e agregado esse tratamento por anos); e apesar da impessoalidade do termo ‘irmão’, acho-o muito mais adequado e bíblico, seja lá qual for o posto de serviço do obreiro.

Note que esta reflexão não está limitada ao simples ato de se anexar o serviço ao nome de alguém, coisa comum em todas as sociedades. Ou seja, não estou falando do peso da função que se agregou à identidade de uma pessoa, mas sim do caráter bajulador e, pior, do caráter posicional que tal codinome agrega a alguém.

Quando Jesus diz: “não se deixem chamar mestres, pois um só é o vosso Mestre”, Ele está dizendo: não se coloque numa posição que não é sua, mas Minha. Parafraseando: “não se intrometa entre Mim e meus discípulos”; e o Senhor ainda completa: “porque todos vocês são irmãos”.

Ora, na terra, na igreja, na vida, na sociedade, segundo palavras do próprio Jesus, todos temos devemos ter diretos, deveres e tratamentos iguais. Não é porque alguém exerce o serviço de pastor, evangelista ou apóstolo que está numa posição mais elevada entre o céu e a terra. “Esto non ecsiste!”

No modelo de Jesus não há mestre, não há pai, não há líder, pois todos são irmãos e aprendem uns com os outros.

Talvez você pondere consigo: “mas como haverá ordem, se não houver essa hierarquia?”

Eu digo que esse modelo que coloca pessoas no caminho entre Deus e seus filhos; que elege intermediadores humanos (normalmente escolhidos por adjetivos superficiais como eloquência, postura, ou até por cantar bem… pasmem!) está falido, naufragou e o que é pior, está gerando anticristos e bezerros de ouro (não é exagero).

Essa cadeia de vaidades, que determina autoridades e poderes humanos, elegendo principados e potestades dentro desse modelo administrativo eclesial decaído, são nada mais, nem menos, do que um eco da podre e fétida sociedade secular.

Repetindo: No modelo de Jesus, neste mundo, não há mestre, não há pai, não há líder, apenas irmãos.

Sair da versão mobile