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Seguir homens, até quando?

“Ide à cidade, e um homem, que leva um cântaro de água, vos encontrará; segui-o”.
Marcos 14:13.

No contexto desse versículo, era tempo de Páscoa e, diferente da tradição que cultivamos hoje no ocidente, para o povo hebreu era um momento de memórias sobre a grande libertação de Deus da amarga e longa escravidão no Egito.

Naquele mesmo momento, Jesus enviou dois de seus discípulos mais fiéis – Pedro e João – com a missão de preparar um ritual especial que marcaria profundamente a alma de toda a cristandade em todas as gerações até os dias de hoje. O Mestre, reformador por essência e vocação, buscava um lugar onde pudesse ter um momento de intimidade com seus amigos, era a renovação da páscoa.

No caminho, vejam só, Jesus manda que seus discípulos sigam uma pessoa! Alguém sem nome, mas especial por ter em suas mãos algo notável. Um “homem com um cântaro d´água”. O que se sabe dele, apenas, é que não era alguém comum ser visto, até porque, ao que consta (me corrijam se estiver errado), tirar água do poço era prática comum entre as mulheres daquela cultura.

Fato é que aquele homem era alguém que, por algum motivo, se destacaria no meio da multidão e Jesus ordenou que seus discípulos o seguissem. Contudo, tal seguimento tinha começo e também tinha fim. Ele disse: “onde Ele entrar, entrem vocês também”. (Guarde essa informação que eu já volto a ela, lá embaixo).

Aquela Páscoa marcaria um outro momento na história espiritual do mundo, revelando uma nova visão acerca do sacrifício para a salvação dos homens. Para os cristãos habituados com esse ritual, talvez seja redundância uma tentativa de explicar sobre o que é a Santa Ceia do Senhor. Ainda assim, observo que o rito, apesar de ser assunto imenso e, mesmo reconhecendo que devam existir inúmeras linhas teológicas dentro do cristianismo definindo-a, quero compartilhar um pouco de minha visão sobre ela.

“Penso, particularmente, que o ritual remeta a uma nova instância de relacionamento com o Senhor, no Espírito, no qual em cada reunião erguemos um memorial que revela os preços e implicações do seguimento do Senhor. Através disso, acredito, Jesus pretende compartilhar um cálice um tanto amargo com os seus, através do qual deseja revelar suas dores e desafios aos seguidores de sua visão. Esse chamado à intimidade aponta no sentido de um compartilhamento de proporções profundas e sempre dolorosas. Ele remete ao sacrifício fatal da Cruz, o qual, ao contrário do que se prega em ‘empórios evangélicos’ espalhados pelas esquinas das cidades, estar em Cristo é algo que custa muito caro. Ser seu amigo e discípulo, beber seu sangue e comer seu corpo, significa ser alguém disposto a ir até as últimas conseqüências por amor a Ele. Sua intimidade não se limita a uma vida ritualista, obviamente, e comer e beber de Cristo consiste em partilhar com Ele do mesmo prato, beber do mesmo copo, sofrer as mesmas dores, chorar as mesmas lágrimas e também sorrir com as mesmas conquistas, enfim, compartilhar a vida em comunhão profunda”.

Não vejo intimidade de outra forma, aliás, intimidade com Jesus é algo bastante complexo e envolve, segundo podemos notar no próprio texto, momentos de confronto, transparência e sinceridade que contrariam a experiência de igreja-mercado, onde passamos despercebidos no meio da multidão, mascarados em falsas piedades que ocultam nossas intimidades. Foi nessa circunstância que Judas foi desmascarado!

O pão partilhado é símbolo de alimento físico e espiritual e na intimidade com Cristo todas as nossas necessidades são supridas; no vinho, símbolo do sangue, está a marca da aliança e da vida divina de Jesus e, ao compartilhar isso conosco, Ele nos dá acesso ao Espírito Santo com todas as suas virtudes, o vínculo de amizade e compromisso, uma adoração além de canções e uma oração além de palavras, linkadas diretamente com o sobrenatural. Sem essas características, nossas reuniões não passam de momentos recreativos.

Mas para chegar até esse lugar, Jesus ordenou que seus discípulos seguissem a outrem. (O homem com o Cântaro d´água – voltamos a ele).

Ele disse: “sigam o homem com o cântaro de água e onde ele entrar vocês também devem entrar”. Mas quem era aquele homem?

Imagino que o “homem com o cântaro de água” foi alguém que recebeu uma porção de revelação diferenciada da parte de Deus com a finalidade de conduzir as pessoas até o lugar de sua intimidade em Cristo. Alguém que possui um dom, um talento e uma chama extraordinária que atrai as pessoas até si, devendo conduzi-las à comunhão íntima, direta e pessoal com Jesus.

Hoje, ele pode ser um evangelista com dons de curas ou milagres, um profeta com capacidade de interpretar direções sobrenaturais e apontar os erros de alguém ou de uma geração da igreja, gerando arrependimento; pode ser ainda um mestre, com profunda revelação acerca das Escrituras, ensinando aos discípulos a andarem em conformidade com a genuína Palavra.

Essa pessoa é um servidor destacado entre o povo para ensinar e preparar a Igreja a andar em intimidade com Jesus. Em todas as gerações da Igreja na terra, o Senhor envia pessoas assim, dotadas de qualidades especiais com a missão de conduzir ovelhas até o cenáculo.

Todavia, um fenômeno de ocorrência comum entre nós tem sido o de que muitas pessoas enveredar por um ciclo interminável andando atrás de algum homem super-ungido, nunca chegando à intimidade com Jesus.

Devemos entender que o homem com o cântaro de água não é o fim, ele é um meio, um condutor apenas e que o alvo é Jesus, numa relação direta, sem mediadores. Não se iluda ou se encante com seu super líder, entre onde ele entrou, vá além, suba a um novo andar, leia o texto inteiro com carinho e deixe que o próprio Jesus o conduza na jornada da intimidade. Grandes homens com grandes talentos devem ser estímulos para nossa busca e não entraves! Devemos ter neles figuras heróicas e modelos de inspiração e nunca ídolos em um altar.

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