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Religiões orientais na capital paulista

Aos cinco anos você descobre que é uma versão brasileira de Dalai Lama. Sete anos depois, decide abrir mão de Nintendo e de namoro. Deixa o aconchego da casa no Alto de Pinheiros, região nobre paulista, para viver entre 4.000 monges da Índia. Michel Lenz Cesar Calmanowitz, filho de um engenheiro judeu e uma psicóloga presbiteriana, foi reconhecido como um lama – a reencarnação de um guru indiano – durante o aniversário de sua mãe, celebrado em um restaurante japonês. Um visitante do Tibete, trazido por um casal de amigos da família, lhe revelou: “Ei, garoto, você foi um grande budista em vidas passadas, sabia? De certa forma Michel sabia que sim Calmanowitz”.

O breve relato reproduzido acima faz parte da matéria “dalai sampa”, da jornalista Anna Virgínia Balloussier (Revista Serafina, Folha de São Paulo, p.35, 23/2). Segundo Balloussier, “já rapazinho, Michel fez a cabeça, raspou a cabeleira e foi morar num mosteiro indiano”. Hoje com 32 anos, mora com seu mestre na Itália onde dá conselhos pelo Twitter e busca ensinamentos no YouTube. De passagem por São Paulo, Michel falou à Serafina do Centro Dharma da Paz, um local de meditações filosóficas e prática do Budismo tibetano, localizado em Sumaré, zona oeste de São Paulo, e fundado em 1988, pelo Lama Gangchen Tulku Rinpoch, que frequenta o Brasil há mais de 23 anos e que teria sido o responsável pela identificação e ida de Michel à Índia e ao Tibete.

Construído em um terreno doado pelo empresário controlador da marca Parmalat, Marcus Elias – que teve seus bens bloqueados pela justiça por suspeita de “fraude”, em março de 2013 – o Centro Dharma da Paz também recebeu investimentos de Elias. À IstoÉ, revelou: “Não sou budista, sou lamaísta’, brinca Elias, que investiu R$ 10 milhões nas obras.”’ Ainda de acordo a revista, Elias conheceu o Lama Gangchen Rinpoch há quatro anos e, desde então, nunca toma decisões importantes sem ouvi-lo. Frequentemente viajam juntos pelo Tibete, Índia e Nepal. O empresário também doou um terreno na cidade de Campos do Jordão, onde foi construído o maior templo budista tibetano do Brasil, e para onde também acompanha o Lama Gangchen Rinpoch.

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Para além do Lamaísmo, a cidade de São Paulo também é base e porta de entrada para uma miríade de religiões orientais, como o islamismo que, além de duas mesquitas no Brás, também está presente em Santo Amaro, São Miguel Paulista e no Cambuci. Mas são as chamadas Novas Religiões Japonesas (NRJ) que ganham destaque na capital paulista. Segundo o doutorando em Geografia pela Universidade Federal do Paraná, Fernando Raphael Ferro de Lima, em “Geografia da Religião no Brasil: censos demográficos e transformações recentes”, a “migração de japoneses foi acompanhada da introdução de religiões orientais, como o budismo e o xintoísmo” (Revista de Geografia, p. 113, 2009). O templo budista de Cafeilândia (SP) foi construído no final do século XIX e é considerado o primeiro templo budista instalado na América Latina.

É do interior de São Paulo que também religiões como a Tenrykyo – que teve seu primeiro templo inaugurado em 1936, em Marília – chega à capital, estabelecendo-se na Rua Pelotas, 385, Vila Mariana. De Jundiaí, chega à Rua Domingo de Moraes, 1154, igualmente na Vila Mariana, a Heppy Science, a mais recente das NRJ (foi fundada em 1986, por Ryuho Okawa). A Perfecty Liberty também tem presença no bairro, além de 14 outras representações espalhadas pela cidade. O peso maior, porém, recai sobre a Seicho-no-iê, que mantém uma grande sede no Jabaquara, e a Igreja Messiânica Mundial, que possui uma área de 327 mil metros quadrados às margens da represa Guarapiranga, na Av. Profº Hermann Von Ihering, 6567, Jardim Casa Grande (antiga Estrada do Jaceguai), Parelheiros. Chamado de “Solo Sagrado”, o espaço é usado para ministração de cursos, Johrei e grandes concentrações de devotos de antepassados.

Com uma população quase quatro vezes maior que a do Uruguai, a cidade de São Paulo é mesmo uma concha de retalhos, de diversificação religiosa, racial e cultural. Quase que restritos à Índia e à Jamaica grupos religiosos compostos por hindus e rastafaris também tem presença em São Paulo. Na Pompeia, o Instituto de Cultura Hindu Naradeva Shala oferece aulas de yoga e tratamentos que envolvem técnicas alternativas de cura de enfermidades e moléstias. Outro centro hindu, a Aruna Yoga, no Paraíso, se diz “um dos mais conceituados e requintados lugares de São Paulo para a prática da Aruna Yoga”. A Aruna também se especializou na formação de instrutores. Embora oficialmente fundado em Nova Iorque, porém de orientação e fundador oriental, o Hare Krishna também tem base em São Paulo. Foi de Pindamonhagaba (SP) que os hare krishnas chegaram à capital, estabelecendo-se na Aclimação, no centro de São Paulo (SP).

Estimativas apontam que existam mais de 100 mil adeptos de religiões orientais na capital paulista. O fato de a cidade de São Paulo ser ponto de entrada ou estabelecimento de pessoas de várias nacionalidades, explica a grande diversificação religiosa, não somente característica das regiões centrais, mas também periféricas. Não somente as crenças, mas também aspectos comuns da religiosidade oriental – particularmente indiana e nipônica – se mesclaram ao cotidiano dos paulistas, na prática de atividades físicas, de yoga, em parques como o Ibirapuera, ou mesmo na Avenida Paulista, onde, entre executivos e empresários, circulam instrutores nacionais e estrangeiros, com livros de meditação, roupa típica dos países originários. O bairro da Liberdade, na região central, também é uma das áreas de maior presença de budistas, xintoístas, messiânicos e seichonoitas. Mas também há a presença de igrejas evangélicas nipônicas, como a Igreja Evangélica Holiness (IEH), fundada em 1925 por missionários japoneses. De São Paulo a IEH se estabeleceu em nove outros Estados da Federação Brasileira, além de possuir filiais no Japão.

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