Quando lemos o evangelho de Marcos podemos perceber uma pergunta que permeia o livro: “quem é este?” (Mc 4.41b). Essa pergunta está na boca da multidão e dos discípulos aos verem as obras e a vida de Jesus.
Quando lemos Marcos 11, percebemos que ele tem um estilo próprio de escrever. Relata o momento em que Jesus encontra uma figueira sem frutos e a amaldiçoa (Mc 11.12-14). Logo em seguida, Jesus entra no templo e o purifica (Mc 11.15-19), na sequência da narrativa, Marcos volta à figueira que fora amaldiçoada por Jesus, que agora está seca (Mc 11.20-26). Marcos fala da figueira, da purificação do templo e posteriormente da figueira seca, para mostrar que ela está relacionada ao templo, que também perdera seu propósito e seria destruído.
Quando olhamos para os capítulos 8 a 10 de Marcos, é possível ver esse estilo novamente onde em Mc 8.22-26 inicia-se com a cura do cego de Betsaida, e em Mc 10.46-52 com a cura do cego de Jericó, sendo que logo em seguida Jesus entra em Jerusalém para cumprir sua missão. O que está entre essas duas curas de cegos, nos explica a questão de quem é Jesus, e como seus discípulos e os homens não viam claramente isso.
Em Mc 8.22-26, Jesus cura o cego de Betsaida em dois estágios: em um primeiro momento, este passa a enxergar, não de forma clara, mas vendo homens como árvores. Em um segundo momento, aquele que era cego passa a enxergar claramente. Será que o poder de Jesus falhou naquele momento? Por que Marcos relata isto? Creio que a explicação encontra-se na visão do todo dos capítulos 8 a 10. Jesus mostra que seus discípulos ainda não viam claramente quem era ele. Logo após curar o cego de Betsaida, Jesus pergunta a seus discípulos quem ele era ao que Pedro responde ser ele o Cristo, o Messias, o Ungido (Mc 8.27-30). Parecia que compreendiam bem quem era Jesus. Entretanto, na sequência, Jesus começa a explicar sua missão como Cristo, sendo que morreria e ressuscitaria ao terceiro dia. Porém Pedro, chamando-o à parte passa a repreendê-lo. Como pode o Messias, o ungido, aquele que é o Rei de Israel, ser morto? Isso é algo inaceitável para ele. Porém Jesus responde: “Arreda, Satanás! Pois não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens”. Depois de falar sobre como seus discípulos devem levar a cruz (algo que não entendiam naquele momento pois ele ainda não havia sido crucificado), da transfiguração de Cristo e da incapacidade de seus discípulos de expulsarem um demonio de um menino, então novamente o Senhor Jesus explica sua missão em Mc 9.30-32 dizendo que morreria e ao terceiro dia ele ressuscitaria. Neste momento seus discípulos não questionam mais, porém Marcos enfatiza que não compreendiam isso. Tanto não compreendiam que logo em seguida (Mc 9.33-37) os discípulos disputam entre si qual seria o maior no reino. Todos queriam reinar com Cristo em seu reino, afinal, ele era o Messias, o Ungido, aquele que veio restaurar o trono de Davi e livrá-los da escravidão. Porém não compreenderam ainda. Vêem, mas como árvores.
Chegamos em Mc 10.32-34 quando pela terceira e última vez, Jesus explica sua missão predizendo que iria morrer em Jerusalém e ao terceiro dia ressuscitaria. Logo em seguida (Mc 10.35-45) Tiago e João lhe requisitam tronos ao seu lado direito e esquerdo quando ele vier a reinar. Pensavam que seria um Messias político. Queriam os lugares mais destacados entre os doze. Novamente eles não entendem quem é Jesus. Por fim, em Mc 10.46-52 Jesus cura o cego de Jericó. Em pouco tempo seus discípulos compreenderiam e enxergariam as coisas como o sol do meio-dia.
Agora Marcos nos revela Jesus chegando a Jerusalém. É recebido como rei, com ramos e toda pompa. Aqueles que o recebem assim são os mesmos que ainda não entendem e posteriormente o abandonarão para ser morto na cruz como ladrão uma semana depois. Jesus é crucificado e seus discípulos não compreendem, afinal a cruz é para homens que foram amaldiçoados por Deus. Seria o Messias amaldiçoado por Deus? Não deveria ele salvar o povo? Mas como pode um homem morto salvar o povo de Deus?
Naquela sexta-feira à tarde os céus enegreceram e a terra tremeu. Desolação. A esperança acabou. Seus discípulos estavam frustrados e o negaram na última hora. Porém ao terceiro dia ele ressuscitou. Agora eles podem ver o Rei da Glória. O Senhor Todo-Poderoso. Antes não entendiam, agora tudo faz sentido. Jesus é o servo sofredor de Isaías 53. Ele pagou pelos nossos pecados e nos salvou da condenação. Ele venceu a morte e o pecado para todo sempre.
Agora eles enxergaram. Agora eles falarão acerca do Rei. Eles viram o Rei glorificado, ressurreto. Antes aqueles que o negaram, agora estão dispostos a servi-lo e obedecê-lo até a morte. Agora seus olhos não estão mais obscurecidos, tudo está claro. Seus olhos viram o Rei de forma clara. Eles agora compreendem.
Diante do Rei do Universo, o Senhor dos Senhores, Jesus Cristo, aquele que tem toda autoridade, nos céus e na terra, aquele que pagou pelos nossos pecados. Agora eles estão dispostos a tomar sua cruz e segui-lo, não para serem os maiores no reino, mas em meio à perseguição e mesmo a morte, levarem o reino de Deus por onde forem. Quem é Jesus para você?