Em recente reportagem publicada aqui no Gnotícias (Reportagem Especial: Cresce Relação de Protestantes com Políticas Ambientais), tecemos alguns pontos relacionados ao aumento da relação de evangélicos com políticas sociais, de defesa do Meio Ambiente. O avanço do desmatamento, do aumento de poluentes e de doenças respiratórias decorrentes da intervenção humana na natureza é um alerta para toda a humanidade, para todos os credos, das diversas nacionalidades e culturas. O cientista Rajendra Pachauri, em relatório publicado em 2014, deixa claro que “ninguém neste planeta ficará imune aos impactos”.
Diante do quadro alarmante descrito pelo representante do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), Rajendra, e de manifestações de intelectuais nas últimas duas décadas, o Protestantismo Histórico vem se posicionando de forma relevante e inédita no Brasil no que se refere à Sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a iniciativa é uma resposta ao chamado de Lausanne III (Congresso Internacional sobre Evangelização Mundial, Cidade do Cabo, 2010) que conclama os cristãos a “cuidarem da criação de Deus” (Parte I, item 7, Letra A. Confira, na integra, o chamado de Lausanne III aqui). Luteranos, metodistas, presbiterianos e batistas estão na dianteira do diálogo ambiental, no comprimento integral do Evangelho, do amor ao próximo.
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Apesar do avanço, o movimento pentecostal brasileiro ainda está aquém do verificado no Protestantismo Histórico. Como prováveis causas do pouco envolvimento direto de denominações pentecostais podemos apontar a formação inadequada de lideres, distanciamento do diálogo social, centralismo exacerbado na liturgia religiosa, resistências “teológicas” e certo fanatismo religioso localizado que impede uma visão ampla da problemática que o mundo se vê em meio e que também envolve os cristãos. No entanto, é só uma questão de tempo para que o pentecostalismo passe a entender a importância da participação – mesmo que esporádica – da Igreja com políticas de conservação da fauna e da flora, do ecossistema criado por Deus e entregue ao homem.
O Deputado Federal Roberto de Lucena (PV/SP) e a ex-ministra do Meio Ambiente e vice na chapa do socialista pernambucano Eduardo Campos, Marina Silva, são alguns dos lideres nacionais – evangélicos – que se destacam no quesito meio ambiente e sustentabilidade. Nos EUA, a cientista evangélica Dra. Kathrine Hayhoe recentemente foi mencionada na prestigiada revista semanal Time como uma “das 100 personalidades mais influentes do mundo”. Consultora no Centro de Ciências do Clima do Texas Tech University e na Rede Ambiental Evangélica, a astrofísica Hayhoe escreveu – em parceria com seu marido, o pastor Andrew Farley – o livro “A Climate for Change: Global Warming Facts for Faith-Based Decisions together with her husband”, no qual discorre sobre o aquecimento global e o posicionamento cristão sobre o tema, da relação fé e vida em sociedade.
Também pesquisador e escritor, o britânico Peter Herris – após o alcance de seu livro A Rocha, uma comunidade evangélica lutando pela conservação do meio ambiente – em 2001 fundou a ONG evangélica ambiental A Rocha. Iniciada em Portugal, a ONG chegou à França e a 18 outros países, dentre os quais o Brasil. Estabelecida na cidade de São Paulo, no dia 18 de março de 2006, a ONG passou a atuar em diversos eventos cristãos por todo o País, com ministrações de palestras sobre o envolvimento de crentes com políticas ambientais, de sustentabilidade. No mesmo ano, A Rocha, em parceria com agências missionárias realizou o Fórum Missão Integral: Ecologia e Sociedade em Araçariguama. Na ocasião, o pastor Ariovaldo Ramos ministrou a palestra “O Homem, a Salvação e o Meio Ambiente”, com base na relação do primeiro casal com o jardim plantado no Éden.
Movimentos localizados, de grupos contrários ao envolvimento de cristãos com políticas ambientais, argumentam que a Igreja não deve se envolver com grupos ou movimentos ambientais pelo o fato de que Deus destruirá a Terra. Teólogos cristãos contra-argumentam dizendo que as previsões escatológicas não impedem que a Igreja exerça o “dar a César o que é de César e a Deus o que é de Deus”, em uma associação com a responsabilidade social de cada cristão. Como pontua o pastor e diretor da Câmara de Ação Social da Igreja Metodista e coordenador da cartilha “Ser Cristão é Ser Sustentável”, Renato Saidel Coelho, “Uma igreja que não olha para fora de si está fadada a afundar em seus próprios problemas. A preocupação com o meio ambiente deve ser de todos e de todas”. É de igual repúdio a ideia de que ONGs evangélicas representam um perigo para os cristãos por supostamente possuírem um víeis “socialista”. São os mesmos que são a favor de ditaduras, da prática de tortura, do linchamento público, do desrespeito a autoridades democraticamente constituídas – que moral tais grupos extremistas, localizados, em fase de extinção têm a demonstrar à Igreja, aos cristãos que entendem o chamado de Lausanne III como um dever?