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Princípio da dependência

Quem entrega sua vida a Jesus nunca deixa de depender de Deus. O que está escrito “fomos comprados por preço”, pressupõe que não nos pertencemos mais. Como escravos, fomos colocados num mostruário e Jesus olhou pra nós, gostou dos ‘nossos dentes’, viu que seríamos úteis ao seu projeto e investiu seu sangue em nossas vidas. Não somos mais de nós mesmos! Um escravo sempre depende de seu Senhor. Nós somos funcionários de sua fazenda e nos esforçamos para fazer o que nos compete, trabalhando abnegadamente para que os fins desejados sejam atingidos. Sei que esses conceitos de escravidão, dependência, trabalho forçado são altamente fora de contexto pros nossos dias.

Hoje vivemos no tempo da independência e da liberdade e, ainda que tais conceitos sejam tão complexos de se definir e explicar, estou certo de que ser escravo e dependente de Jesus não parecem ser coisas adequadas à vida moderna.

Na minha história pessoal tenho aprendido muito sobre essas questões e venho passando por grandes aulas de dependência e entrega abnegada ao evangelho. Uma das lições mais interessantes sobre a dependência me foi ministrada num dia fatídico, lá no longínquo ano de 2002 (nossa! já faz um tempão).

Havia menos de um ano que eu tinha saído de um emprego muito bom, deixando pra trás um excelente salário e ótimas perspectivas de futuro para ser missionário num projeto em que ganharia R$300 por mês, mais uma ajuda de custo da igreja no valor de R$100 e uma casa pra morar com minha esposa. Entramos por aquela porta com muita fé e disposição, mas passamos por algumas dificuldades.

Todos os meses, eu deveria ir até a assistência social da igreja para pegar um “rancho” (cesta básica), mas eu ficava altamente incomodado com aquilo. Ora, meses antes, eu ia ao supermercado e fazia compras sem a menor preocupação com o valor, enchia o carrinho com coisas supérfluas e saborosas e simplesmente passava meu cartão de crédito, ou utilizava os muitos ticktes que ganhava da empresa, mas agora deveria receber alimentos doados pelos irmãos.

Como eu trabalhava na igreja, a moça que nos atendia na assistência social, não me dava uma sacola fechada com vários itens, ao contrário, perguntava o que eu queria levar. Era só escolher, colocar o que precisasse nas sacolas e levar embora. Foi numa daqueles desconfortáveis manhãs diante da adolescente da assistência social da igreja que Deus me fez entender o princípio da dependência.

No supermercado, eu fazia a mesma coisa, ou seja, escolhia os itens que julgava necessários e colocava no carrinho, porém, no final das compras, diferentemente da assistência que recebia, sacava meu cartão de crédito e pagava. Ao pagar, ao possuir, ao ter, desenvolvemos uma sensação de controle da situação. Ainda que seja uma sensação falsa, enganadora, quando temos o dinheiro – ou o crédito – pensamos ter o controle nas mãos. O que eu já sabia intelectualmente, mas ainda não havia percebido na carne, era que sempre foi Ele pagando minhas contas, me dando um salário, me ensinando a crescer na vida.

Ao compreender o princípio da dependência, entendi que com ou sem dinheiro, pagando ou não pagando, tudo o que tenho é dEle, procede dEle e poderia ser usado para a Glória dEle. Em algumas situações, acabamos nos esquecendo disso e perder o controle, passando a depender de Deus, se torna uma lição maravilhosa que nos conduz à humildade e ao quebrantamento.

Hoje, não trabalho mais na igreja, mas continuo servindo com o mesmo senso que adquiri faz 10 anos. Faço meus trabalhos ganhando algum dinheiro escrevendo, compondo jingles, produzindo CD´s, tocando e pregando o Evangelho, com o que ganho algumas ofertas das igrejas. Agradeço a Deus pelos talentos que me deu, os quais tenho usado pra pregar a Palavra e ainda ganhar uma grana, de vez em quando, mas trabalhando como freelancer, muitas vezes, tenho dificuldades de receber (quem é freela sabe bem do que falo), ou seja, nada mudou!

Continuo dependendo dEle, como sempre foi. A missão é a mesma, continuo escravo do meu Senhor, pois me submeti de coração a isto, no entanto, sigo confeccionando minhas tendas, sem o menor controle da minha vida. Fazendo sempre a minha parte, declarando com confiança que prefiro os R$100 reais que vêm da mão de Deus, do que qualquer outra soma com a qual possa me auto justificar, ou sentir-me independente.

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