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Pra quem iremos nós?

Tenho ótimas recordações do compositor Renato Russo. Que saudade dele!

Saudade singular, uma saudade sem “s” no final, uma saudade forte, única e especial.

Como o Renato foi importante para a minha geração. Ele cantou e, mesmo morto, canta coisas tão significativas – que, certamente, é a razão de seu estrondoso sucesso – que gente do meu tempo sempre tem algo dele pra citar, como se carregasse algumas de suas boas e certeiras palavras, que vêm direto ao encontro de suas situações cotidianas.

Aliás, falando no Renato, tenho comigo uma espécie de cânon filosófico, literário, artístico – não sacro, obviamente – que transporto sempre no coração.

Sei que é herético demais pra alguns, mas eu também nem me importo se posso ferir o senso de ortodoxia de alguém. Isso porque acho a ortodoxia uma chatice, que enjaula, enquanto a heresia, por sua vez, liberta. Meu ponto de vista!

No meu cristianismo encontro espaço pra gente de todas as religiões, de todas as raças, de todos os meios, de qualquer lugar, de qualquer segmento, seja artista, pensador, atleta, seja religioso, ou não, enfim, seja lá quem for, pode até ser crente. Sim, crente! Tem vários crentes que eu curto, aliás, alguns dos meus melhores amigos são crentes. Curioso é que os únicos inimigos que encontrei na jornada também sejam, mas disso nem quero falar…

No meu caso, ao contrário do cristianismo conquistador/aculturador/colonizador que sempre tentou globalizar o planeta, aos moldes do velho e poderoso Ninrode, quero ganhar almas, agregar amigos, “granjear talentos” – numa linguagem mais revista e corrigida -, mas não faço questão que eles sejam da minha religião.

Quanto mais ganhar, melhor pra mim, no entanto, não me importa se eles prestarão contas de suas vidas para este pecador, como se eu pudesse cumprir esse papel fedido de “cobertura espiritual”. Eu não quero cobrir ninguém, só se for com um abraço!

Quem gostava de percorrer o mar e a terra para fazer prosélitos eram os escribas e fariseus, os quais, segundo Jesus, acabavam se tornando duas vezes mais filho do inferno do que eles próprios, suas “coberturas espirituais”.

Essa ‘brain storm’ de palavras tortas que ora deixo pros queridos irmãos do Gospel+ são uma espécie de ato confessional, revelando um pouco das minhas fontes inspiradoras nestes dias de secura de profetas genuínos.

Tenho preferido ouvir as pedras clamando (como vocês mesmos gostam de dizer), pois pelo menos meus artistas favoritos são afinados e quando cantam algo, cantam sobre suas verdades, me convencendo a tocando a alma muito mais profundo do que esses profetas ‘chinfrins’, que proclamam auto negação e cruz, mas vivem em palácios, sob os auspícios do corrompido axioma bíblico “comereis o melhor desta terra”.

Prefiro ficar com os “meus heróis que morreram de overdose, enquanto vocês, meus inimigos, estão no poder”. Prefiro ficar também com o Russo, na sua esperança de que “quando tudo está perdido, sempre existe um caminho… quando tudo está perdido, sempre existe uma luz”.

Prefiro ficar com o Pedro, que, sem saber pra onde ir, abandona-se nos braços do Senhor e declara: “para quem iremos nós, se somente Tu tens as palavras da vida eterna?”.

Vou ao teu encontro, meu Mestre, onde quer que tu fores, irei!

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