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Pela Espada

Recentemente ouvi uma frase do Benjamim Nolot, líder de um movimento contra o tráfico humano, que me marcou muito. Ele falou que nos últimos dias Deus tem movido o seu coração de compaixão pelos homens viciados em pornografia, pois ele percebeu que não foram esses homens que escolheram a pornografia, mas ela quem os escolheu quando eles ainda eram crianças e sem querer foram expostas a ela. O Benjamim Nolot chegou a essa conclusão após conhecer toda a miséria da prostituição e do tráfico humano em vários lugares do mundo e perceber que a razão disso tudo era exatamente a pornografia, mas mesmo odiando o tráfico humano e combatendo-o devia amar os responsáveis por aquilo tudo.

Hoje posso dizer que sinto o mesmo pelos extremistas islâmicos, pois Deus me deu a oportunidade de ser como um deles, pelo menos brevemente. No final do ano passado eu escrevi um texto aqui sobre o extremista islâmico em mim, mostrando o quanto eu sou tentado a ser um extremista. Pois bem, pequei dessa forma novamente, ontem, aqui. Às vezes a gente não tem noção da gravidade do que pensa até que externalizar. Eu mostrei como fazia sentido para mim a “lei anti-gay” de Uganda, o que realmente ainda tem uma lógica racional para ela. A questão, porém não é se algo é justificável, mas sim se algo é correto de acordo com a Bíblia. Depois de tudo o que escrevi percebi que era como um extremista islâmico e usei a mesma lógica que eles utilizam para justificar a perseguição aos cristãos. Eu percebi que estava utilizando a mesma lógica deles de querer resgatar a honra de um deus ofendido, como se o meu Deus realmente precisasse disso. Esse é o raciocínio do extremismo.

O maior problema é o coração. Jesus nos alerta que é de lá que procede todo o pecado do homem. O meu maior problema é o meu coração, que mesmo disposto a amar a Deus, é tão pecaminoso que sem a graça dele, acabo amando-o de forma errada.

O que mais me consolou nisso tudo foi perceber que eu não sou o único cristão que um dia já cedeu à tentação do extremismo, de querer impor o Reino de Deus com a força do braço. Lembro-me da história de quando Jesus foi preso e um dos seus discípulos estendeu a espada e cortou a orelha do servo do sacerdote. As palavras de Jesus naquela ocasião não saem da minha cabeça:

“Mas Jesus lhe disse: Guarda a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. Ou pensas que eu não poderia rogar a meu Pai, e ele me enviaria agora mesmo mais de doze legiões de anjos? Como se cumpririam as Escrituras, que dizem ser necessário que assim aconteça?” (Mateus 26.47-56 A21)

Assim, como aquele discípulo, muitas vezes quero utilizar da espada para estabelecer o Reino de Deus, mas Jesus sempre me lembra que Ele é soberano e que nada foge do seu controle, por isso caso eu queria usar a espada, por ela morrerei. Não, eu não quero morrer pela espada e é por isso que hoje lamento não apenas o meu pecado, mas me lembro também cristãos da República Centro-Africana, que hoje tem vivido um grave conflito civil. Antes eles viviam sob o domínio de uma ditadura islâmica, hoje a ditadura caiu, mas o país virou um campo de batalha entre milícias cristãs e muçulmanas, quando na verdade eram os cristãos quem deveriam estar buscando a paz. Não, eu não quero ser um cruzado.

Enfim, hoje mais do que nunca estou disposto a defender a causa dos cristãos perseguidos e combater o extremismo islâmico, pois hoje pude conhecer o extremismo de perto em meu próprio coração pecaminoso. Hoje amo ainda mais os extremistas islâmicos e estou ainda mais disposto a gastar minha vida para que eles recebam a mesma graça que tenho recebido. Hoje os amo ainda assim porque sei que se não fosse Jesus eu seria igual ou pior do que eles.

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