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Pastor- Missionário abandonado na África conta a sua história

*Apesar do testemunho ser baseado em fatos reais, os nomes das personagens e alguns detalhes da história foram mudados por questões de segurança.

Meu nome é Daniel Antônio, sou angolano e tenho 32 anos de idade. Sou pastor-missionário, consagrado aos 25 anos de idade. Sou casado com Rebeca Flores do Paraná. Fomos consagrados juntos. Ela tinha 21 anos de idade. Viemos para Angola em 2007, depois de termos cursado Teologia e Missões em Bauru, no Interior de São Paulo.

Antes de ir ao Brasil, trabalhei como Assistente Coordenador do Projeto DRA (Distribuição de Alimentos e Insumos Agrícolas) apoiando as populações que haviam acabado de sair de zonas onde a guerra civil tinha sido muito dura. Trabalhei em zonas de guerra onde fui tradutor para os técnicos durante o processo de desminagem. Nesta época vi a miséria de perto e corri sérios riscos de vida.

Foi no meio da mata, em cima de caminhões e no meio do povo sofrido, onde Deus confirmou meu chamado ao ministério. Meus pais são pastores também. Sou o primogénito de 3 irmãos. Nossos pais chegaram a ter de sustentar toda a família com apenas 20 dólares por mês. Mal nos alimentávamos.

Não quero só compartilhar a nossa história. Preciso muito de ajuda para continuar a sonhar e viver o ministério que Deus colocou em nossos corações.

Quando viemos para Angola, vim como obreiro autóctone e Rebeca como missionária brasileira. Angola é um país onde ainda não existe uma democracia verdadeira. Tínhamos o apoio da Igreja onde congregamos no Brasil. Havia ainda o apoio de outros irmãos que tiveram contato com o projeto que estávamos implantando na África. A Igreja nos enviava 500 dólares e os mantenedores 1.800 dólares. Esse sustento nos chegou durante o ano de 2007 até meados de 2008.  Nesse período trabalhamos com a igreja, no treinamento de casais, com o ministério de jovens e ainda implantamos uma base missionária entre um povo não alcançado. Assim, iniciamos o projeto de treinamento de jovens obreiros. Desde 2008 até hoje, já enviamos mais de 40 obreiros para serem treinados no Brasil.

Quando o nosso primeiro filho nasceu, em Dezembro de 2008, nossa vida virou um caos. Nunca recebemos nada de ninguém. Minha esposa andava a pé por toda a parte, trabalhava nas lojinhas da cidade. Eu comecei a vender areia, água, pedras e viajava cerca de 800 Km para comprar e vender peixe. Usava uma camionete bem velha. Se não fosse isso, não teria nem como alimentar a família.

Por mais de 5 anos Rebeca não soube o que era um salão de beleza. Sinto-me muito triste por isso, pois não era o que gostaria de oferecer a minha família. Fico mal só de escrever.

As igrejas locais que viram o trabalho crescer ao invés de se alegrarem, começaram a nos boicotar, especialmente os pastores. Fomos perseguidos pela Polícia. Doze homens armados entraram em nossa casa com fuzis na frente de Rebeca e de nosso primeiro filho. Eles me prenderam. Fui algemado e agredido. Até o mês de Dezembro passado, a polícia secreta continuou a receber denúncias falsas. Diziam que os jovens que enviamos ao Brasil estavam sendo traficados. Às vezes diziam que éramos feiticeiros e por isso sofríamos tanto.

Nesse momento Rebeca encontra-se no Paraná com as crianças. Foi deportada porque diante do sofrimento, seus pais entraram em contato com a embaixada brasileira que decidiu intervir. Eu, vergonhosamente, nem dinheiro tive para comprar uma passagem […]. Nesse momento estou em casa, sozinho.

Infelizmente neste país, quando um pastor ou Igreja sente-se ameaçado pelo crescimento do trabalho do outro, reagem de forma muito negativa. Inventam mentiras (assim como acontece no mundo muçulmano) e boicotam o ministério do outro. Há muita competição. Não temos muita confiança nos pastores e líderes religiosos. Esse amor que geralmente os brasileiros têm facilidade de demonstrar pelas pessoas, aqui não existe. Minha esposa sofria mais discriminação e racismo por parte dos irmãos da Igreja e de meus familiares do que por parte de pessoas de fora.

Angola viveu vários anos em guerra. O tecido espiritual e emocional está destruído. O investimento na Educação (também a Cristã), Construção Civil, Saúde, Agricultura e Pregação do Evangelho deve acontecer por pelo menos 100 anos e com muita seriedade se desejamos ver o povo alcançado e uma nação estruturada.

Desculpe. Não consigo escrever mais. Tudo ainda é muito sofrido para mim […].  Meu desejo é colocar toda a minha história num livro. Mas preciso de ajuda para isso. Será que alguma igreja, alguém pode me ajudar?

Desejo continuar o Sonho que Deus plantou em nossos corações até morrer. Mas preciso de oração e apoio financeiro para continuar a pregar e a viver na África.

 

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