O colega Johnny Bernardo ofereceu uma resposta ao meu primeiro artigo sobre o Welfare State. Quero começar o texto com alguns apontamentos técnicos, mas ressalto que o mais importante para mim é o quanto este modelo econômico é imoral.
Em algum momento do pós-guerra, quando metade da Europa estava em ruínas, o Estado de Bem Estar Social cumpriu um papel importante de assistência às viúvas, aos desabrigados e a todos aqueles que perderam economias e pequenos comércios.
Faço uso desse recorte para mostrar que minha crítica ao Welfare State não é orientada por dogmas ideológicos. Em contextos históricos específicos, reconheço que ele pode ter utilidade. Mas exceções não podem gerar regras – ou ficamos em apuros.
Os países escandinavos formam uma Disneylândia de referências para quem pretende defender o assistencialismo com sofisticação. Não caberia no texto as refutações individuais a cada país, mas farei um esforço usando o exemplo mais conhecido, a Suécia.
Todo o seu aparato industrial se manteve, basicamente, sem nenhum arranhão causado por uma bomba nazista. Isso somado a uma economia de livre mercado transformou o país em pólo exportador durante o processo de reconstrução da Europa.
A Suécia era ainda uma das economias mais livres do mundo, e os gastos governamentais em relação ao PIB eram, com efeito, menores que os dos EUA. Mas sempre aparece alguém que acha que bons sentimentos salvarão o mundo. Aconteceu por lá.
O economista Rodrigo Constantino explica que as sementes de problemas econômicos na Suécia haviam sido plantadas em 1932, quando os social-democratas subiram ao poder por conta da Grande Depressão. Os gastos estatais eram inferiores a 10% do PIB.
Nas décadas seguintes a expansão do governo na economia foi assustadora: entre 1950 e 1975, os gastos subiram de 20% para 50% do PIB. As mudanças tornaram o país menos competitivo em termos globais, e a moeda, o krona, acabou sendo desvalorizada.
O governo sueco começou a instituir um maciço programa de assistencialismo estatal no decorrer da década de 1950, 60 e 70, fazendo com que os gastos governamentais explodissem para mais de 50% do PIB. Em um dado momento em meados da década de 70, a alíquota máxima do imposto de renda chegou a inacreditáveis 102%.
Eis a síntese da minha argumentação contra o Welfare State: a longo prazo é suicídio econômico, já que a parcela da população que trabalha para sustentar a outra pode simplesmente pleitear trocar de lado. Daí quem vai sustentar quem?
Outra questão levantada por Astrid Lindgren é o caráter imoral do modelo assistencialista: alguns são punidos por terem sucesso e outros recompensados por terem fracassado.
A caridade é voluntária. O Welfare State, contudo, se baseia exclusivamente na coerção: o governo rouba o seu dinheiro, via impostos, para dar a outros – em forma de programas de comida, vale-gás, vale-leite ou seja lá o que for.
Não é caridade; é uma forma mitigada de comunismo.
É óbvio que temos responsabilidades com os mais pobres. Mas manter adultos em pleno uso de suas capacidades dependentes do governo é algo absolutamente imoral. O Welfare State estimula a degradação moral das gerações mais jovens, que aprendem desde cedo que alguém sempre será responsável por pagar a conta, não por caridade; mas por dever mesmo.
E hoje a situação na Suécia não é mais das melhores. O peso do assistencialismo é duro de carregar para quem já trabalhar para sustentar a própria família. Se eu sei que meu vizinho é sustentado por mim, logo reivindicarei trocar de lugar com ele.
Os incentivos – e indivíduos reagem a incentivos – não estão no lugar adequado. Quando o “papai” Estado oferece tudo “grátis”, há menos incentivos para o trabalho e o sustento por conta própria. Nem sempre os suecos ignoraram esta obviedade.
Um leitor argumentou, em comentário ao meu artigo anterior, que o governo de ocasião na Suécia é de centro-direita, como se isso fosse suficiente para dizer que, como sempre, a culpa são dos direitistas feios e malvados.
Reformas liberais têm sido implementadas para reduzir o estrago causado pelo tamanho do Estado, mas ainda não em escala suficiente. A verdade é que os suecos têm um bom padrão de vida não por causa do Welfare State, mas apesar dele.
Mais uma vez, é nobre e válido o objetivo de ajudar os necessitados e combater a miséria extrema. Mas não é o governo que os ajudará e, sim, um mercado forte, dinâmico, que produz riqueza e empregos. Não é o assistencialismo, mas a eficiência.