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O grande ídolo do Brasil

“… e fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera; porquanto até àquele dia os filhos de Israel lhe queimavam incenso, e lhe chamaram Neustã”. II Reis 18:4

Sobre política nacional, às portas do segundo turno que definirá quem será nosso presidente nos próximos quatro anos, quero propor uma reflexão acerca de um dos maiores males da nação brasileira: a corrupção!
O sentido da palavra, etimologicamente, tem a ver com o apodrecimento, ou seja, corrupção quer dizer deterioração, decomposição ou putrefação. É uma palavra que diz muito, sem dúvida alguma!

No versículo da referência, citei o momento exato em que um novo rei toma seu posto em Israel. Ezequias foi uma figura emblemática, querida por Deus, a ponto de ser dito que “depois dele não houve quem lhe fosse semelhante entre todos os reis de Judá, nem entre os que foram antes dele”. Ou seja, esse verso aqui declara que Ezequias foi o melhor rei de todos os tempos, por quê? Uma atitude o diferenciou de todos os outros que vieram antes e depois dele.
Está escrito que Ezequias “fez em pedaços a serpente de metal que Moisés fizera” e foi nessa atitude ousada, ferindo de forma implacável uma tradição arraigada de seu povo, que ele foi alçado a um status de grande rei.
Sempre admirei pessoas que atacam com força o mal instituído e chamo de mal instituido tudo aquilo que está errado, que é injusto, que é contra a vontade de Deus, mas que está de tal forma incrustado na alma coletiva, que se torna um hábito incorrigível. Podemos chamar isso de iniquidade, também.

Assim é a corrupção brasileira! Ela está embutida na mente de todos os brasileiros como algo do tipo, “a gente é assim mesmo”. Um absurdo total para mim!
Essa coisa é tão grudada em nossa conformação que todos compreendemos intuitivamente essa iniquidade como algo inerente ao jogo político da nação, o qual se desenrola num ambiente dominado por quadrilhas, corjas e gente da pior espécie, formando um cenário sórdido, com histórico ininterrupto de furtos, espoliações, intrigas, assassinatos etc.
O pior nesse quadro é que, seja com o partido A ou B no poder, o cancro nacional nunca é curado!
Todos estamos de tal forma acostumados com essa chaga que ninguém mais imagina que isso possa ser mudado.

Esse é, sem dúvida, um fruto dos noticiários que diariamente emitem tragédias, más notícias, informações sobre desvios de verbas públicas, obras superfaturadas, enriquecimentos ilícitos de políticos, prevaricações de cargos públicos, nepotismos… enfim, são tantas a formas de se fazer a ilegalidade no Brasil, que nem dá para nomear tudo aqui e é essa sequência continuada de más notícias que, por anos, vem formando o que chamo de mente conformada em cada brasileiro que se senta diante da TV todos os dias. É o mais puro ritual de aniquilação do poder de reação popular.

Quero fazer uma comparação entre a corrupção do Brasil e a Neustã de Moisés. Judá, em sua sucessão de reis, cada qual com suas particularidades, fazendo o bem ou o mal, aliando-se com bons ou com os maus, agradavam a Deus ou não, mas houve um fator que uniu a quase todos: ninguém queria mexer em Nesutã!
A “Serpente do Deserto” estava de tal forma arraigada no imaginário litúrgico dos israelitas que, mesmo não tendo a menor ligação com o culto original e genuíno a YHWH, ela permanecia ali. Não havia rei que tivesse a coragem de encarar de frente aquela tradição, mesmo que soubessem ser ela um grande mal para toda a sociedade.
Assim é o Brasil, nossa nação bipolar, politicamente esquizofrênica e que padece moribunda em séculos de hemorragia moral, incapaz de reagir e sentir qualquer possibilidade de mudança, mesmo quando ela parece despontar em um frágil fragmento de esperança.

Grande parte de nossos pastores e demais sacerdotes religiosos estão aliançadas com o sistema político e, pior, mamam em suas tetas, com favorecimentos, apoio e subvenções. Uma nojeira sem fim!
O mais surreal, para mim, é que quando aparece alguém que pode ser diferente disso tudo, que apresenta uma via alternativa, um discurso moderno, apontando para uma nova direção. Alguém que parece ter o mesmo ranço, que tenta andar pelos caminhos do debate de ideias, que busca conhecer o pensamento do povo e dos adversários, tratando a todos com delicadeza e respeito, o povo não consegue ver credibilidade. Por quê?
Porque quando alguém tenta não entrar no jogo dos ataques, mas procura se abrir a discussões, quando não utiliza do ad hominem, das falácias, dos factoides, quando tenta alcançar o consenso, logo se imagina que esse alguém é fraco, incapaz e inapto para exercer um cargo executivo.

O povo, em sua fraqueza, precisa de uma figura forte, mesmo que sua força seja virtual, demagoga, mesmo que fale muitas mentiras, mesmo que tenha um passado que lhe condene. Nada disso importa! O que importa é que tudo fique do jeito que está, seja um, seja outro, que fique como sempre esteve, pois a mudança que querem é somente do A para o B, da euforia para a depressão (e vice e versa), pois somos todos assim, bipolares. Estamos doentes e de momento, não queremos cura, pois a corrupção é uma patologia da qual não podemos abrir mão agora, uma patologia que justifica muitas coisas, que gera desculpas para muitos desmandos, mascarando nossa incompetência e falta de coragem para andar no novo caminho.

Ficaremos com Neustã por mais quatro anos e por mais quatro séculos, até que apareça um Ezequiel que seja capaz de enfrentar esse mal tão profundamente enraizado em nosso DNA nacional.
Vi o que parecia ser um ezequiel entre nós no pleito deste ano, mas o povo não o quis. Acho uma pena!

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