Seu Mahmud é um homem muito simples. Com apenas 45 anos, este pai de família da Síria parece ter ao menos uns 60. Sua esposa,Raja’a, deu a luz a 14 filhos. Uma benção para uma cultura, que como nos tempos do Antigo Israel, considera a esterilidade uma vergonha.
Como em muitas famílias islâmicas, é possível perceber o amor e o respeito que existem entre esposa e marido. As crianças brincam felizes. Parecem não se importar com a extraordinária necessidade da sua casa. Desde que vieram para a Jordânia sentem-se mais seguras. Quando conseguiram sair do campo de refugiados e alugaram um barracão na cidade para morar, os sinais de melhora foram ainda mais visíveis. Não mais apresentaram os traumas aparentes causados pela guerra. Pois logo quando chegaram, gritavam e choravam muito todas as vezes que ouviam o barulho de aviões. Além disso, viviam doentes. No entanto, as consequências das marcas emocionais deixadas pela extrema violência que presenciaram poderão perdurar por toda vida.
Eu os conheci da mesma forma como conheci muitas das outras famílias. Num dia normal de atendimento, ao final de mais uma visita, descarregávamos alguns dos últimos mantimentos do carro. Como sempre acontecia, uma roda de refugiados desesperados nos cercava. Eram pais de família, mães com seus bebês no colo, crianças chorando e todos falando ao mesmo tempo. Raja’a puxava meu braço incessantemente, tentando chamar minha atenção. Cansada e estressada falei em alta voz que procurassem o escritório da Igreja e que tentassem se inscrever com outra equipe de visitação, pois estávamos trabalhando além da nossa capacidade. Mas você já tentou dar algum tipo de resposta “civilizada” para um grupo de pessoas famintas, com medo e maltrapilhas? Pois é. Isto não dá certo.
Todas as equipes da Igreja na Fronteira estão trabalhando com poucos obreiros e recursos limitados. Muitos só visitam a região e dezenas de outros querem apenas conhecer o maior campo de refugiados da atualidade. Porém, poucos são aqueles que podem ficar por tempo integral. Menos ainda, são os que podem se comunicar com o povo na língua local.
Não me lembro exatamente como anotei o telefone de Raja’a naquele final de tarde. Provavelmente foi seu desespero que chamou minha atenção e me fez destacar seu clamor em meio a multidão. Como gostaríamos de visitar e ajudar a todos. Mas esta era um tarefa impossível.
O maior pedido que nos faziam era por leite e fraldas. Contudo, era óbvio que precisavam de todo o socorro possível.
Mahmud ficou cego depois de ter sido atingido por uma bomba. Entretanto, não ter como alimentar seus filhos era uma dor pior a da causada pela cegueira. Mas de repente, que maravilha! Que doce sensação ver a alegria e a esperança renascendo através da nossa ajuda e amizade. Quando orávamos por eles (e com eles), lágrimas escorriam dos seus olhos. Lágrimas que me lembravam da misericórdia de Deus e da sua graça em meio a guerra. Ali, Jesus para eles era eu. Eles diziam:
Não há amor entre os muçulmanos! Olhe o que estão fazendo conosco e nossos filhos. Mas sabemos que vocês nos amam, por isso nós amamos Jesus!
Quantos e quantos muçulmanos me falaram mais de uma vez que amavam Jesus e entendiam que nada para Ele era impossível. Quantos refugiados Sírios estão neste momento lendo a Palavra e orando! Este é o maior milagre!
Porém, pouco está sendo investido neles e por eles para que conheçam ao Senhor! Muitos ainda insistem em ignorar esta calamidade mundial. Outros secretamente pensam que os árabes muçulmanos não são objetos do amor de Deus. E sim, inimigos do Evangelho.
Em meio à discussão mundial sobre o futuro do Oriente Médio, o que mais me incomoda não é a omissão de Barack Obama e de seus aliados (num sentido de uma intervenção mais direta e humana – se bem que agora é tarde demais). O que incomoda mais é a omissão da minha igreja: A Igreja Brasileira.
A Igreja Brasileira vive imersa numa armadilha falaciosa onde a Missão foi confundida com uma atuação política partidária, sem compromisso com a sociedade.
Leonardo Boff, escritor, professor e teólogo católico brasileiro, ao comentar sobre o caso “Marco Feliciano”, diz o seguinte ao referir-se aos parlamentares evangélicos brasileiros:
Seus projetos raramente interferem na ordem social e se revertem em “praças da Bíblia”, criação de feriados para concorrer com os católicos, benefícios para templos. Basta conferir o perfil dos partidos aos quais a maioria dos políticos evangélicos está afiliada e os recorrentes casos de fisiologismo. (http://
leonardoboff.wordpress.com/ )2013/05/09/o-que-se-esconde- atras-do-caso-marco-feliciano- da-comissao-de-direitos- humanos/ (O pior é que sou obrigada a concordar).
Às vezes penso que já não há mais esperança para a Igreja Evangélica Brasileira que a passos largos se afasta a cada dia da Missão. Marchas e ameaças de processo não vão salvar a família brasileira (nem quero comentar a grana que rola por trás destes eventos!). Gritos e disputas para garantia das liberdades individuais não vão salvar a família brasileira. Contribuições para os programas dos pastores da TV (frutos da manipulação dos sem vergonha da fé), não vão salvar a família brasileira. Campanhas na internet não vão salvar a família brasileira. Um presidente evangélico no Brasil não vai salvar a família brasileira. Sabe como preservar a família? Convertendo-se ao Senhorio de Jesus, ensinando os pequeninos no Caminho, fazendo o bem, exercendo a misericórdia, vivendo o Evangelho da Justiça e Santidade e ganhando os corações dos perdidos das nações para Jesus. Mas do jeito que anda a ganância da Igreja, o futuro é enfermo.
Que a omissão da Igreja nas questões da Missão cesse! Que a Igreja reflita na situação dos povos e invista seus recursos nisso. A família que faz Missão é saudável. A igreja que faz Missão é saudável. A criança que aprende a andar na Missão é saudável.
O segredo para salvar a família é muito simples o segredo é esquecer nossa sede de poder e voltar para Jesus!