Mahmud Abassi é marido de duas mulheres e pai de 8 filhos. É o mais velho entre 7 irmãos (3 mulheres e 4 homens). Considerado o “chefe” da família já que seus pais idosos, ainda estão na Síria, é em sua casa, em Mafraq, que os parentes se reúnem para comer e para tratar de problemas.
A chegada de mantimentos ou a visita da equipe traziam conforto e certa alegria, especialmente quando conversávamos sobre tudo que não fosse relacionado à guerra. Mas naquele dia em especial, encontrei um clima muito mais triste do que o “normal”. Todos seguravam um copo de chá e estavam sentados ao redor do aquecedor. Mahmud não se levantou quando entramos. Após algumas saudações, soube que o “chefe” estava aguardando uma vaga em algum hospital para a retirada de cálculos renais. Por isso estava com tanta dor. De repente Mahmud olhou para mim e perguntou: Por que o Brasil não faz nada para acabar com a guerra? Por que a América não faz nada? Por que o mundo não faz nada? Eles não estão vendo?
Este foi certamente um daqueles momentos quando a emoção tomava conta da minha voz e era difícil responder. Nestas horas eu só podia falar que minha presença no meio deles era a prova viva de que um povo e um Deus se importavam com eles. Mas não sabia ao certo se esta era a resposta que eles queriam ouvir, já que este fato não mudava a realidade dos ataques e das calamidades que estavam acontecendo. Muitas vezes eu só podia orar (e graças a Deus por isso). Tocava gentilmente em seus ombros, clamando ao Senhor Jesus que os curasse. Acredite se quiser, a presença de Deus se manifestava e mesmo quando só podíamos chorar juntos, sei que o Senhor estava trabalhando para salvar o que mais tem de precioso: sua alma, coração e espírito.
Corações quebrantados como os de Mahmud e sua família são os que mais recebem o Evangelho. Esta história tem se repetido dentro da Síria e ao redor de todo o território da fronteira. Mesmo com todas as dificuldades que uma situação como esta traz, obreiros estão trabalhando por uma colheita sem precedentes. Sem dúvida de que este é um trabalho de Deus e que Ele por amor está salvado as tribos do Oriente. Mas termino este relato com o mesmo sentimento de Mahmud. Como a Igreja Brasileira está respondendo? Até quando vamos colocar nossas preocupações e interesses nas coisas deste mundo? Enquanto perseguições são fabricadas, enquanto nos preocupamos como somos retratados pela mídia, enquanto somos manipulados para as próximas eleições no Brasil, o mundo está morrendo. Posso dizer que tenho tentado fazer a minha parte? Você pode dizer o mesmo?
Algumas organizações missionárias são especialistas em catalogar para onde os recursos da igreja estão indo. O que posso dizer é que a grande maioria não está indo para onde deveria ir.
Até quando, Jeová, clamarei eu, e tu não ouvirás? Grito a ti: Violência, e não salvarás.
Por que me mostras a iniquidade e vês a perversidade? pois a rapina e a violência estão diante de mim; há contendas, e o litígio se suscita…Habacuque 1