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Reação contra atuação dos evangélicos na política é uma ameaça à liberdade religiosa

Reação contra atuação dos evangélicos na política é uma ameaça à liberdade religiosa

Foto: reprodução/Google

Temos visto nos últimos dias uma série de manifestações a respeito da comunidade evangélica e sua relação com a política. Ministros do Supremo Tribunal Federal, lideranças do atual governo e até o imitador de focas Felipe Neto abordaram o assunto. Afinal, o que estaria por trás de tamanho interesse?

Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) publicados em 2021, nos últimos 20 anos os evangélicos cresceram 228% no Brasil, representando 7 em cada 10 templos religiosos no país, abrigando uma população que hoje representa mais de 30% do contingente nacional.

Mas, na realidade, apesar dos números serem importantes e falarem por conta própria, outros fatores precisam ser considerados, e dentre eles destaco o poder de influência da igreja evangélica.

Isto significa que mesmo ainda não sendo maioria, somos um segmento altamente influente na sociedade, pois estamos presentes, por exemplo, em lugares onde há pouca representatividade do Estado, como nas periferias. As igrejas evangélicas são responsáveis por boa parte do trabalho social exercido em comunidades carentes, combatendo problemas como a violência doméstica, abuso de drogas, fome e o desemprego.

Além disso, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, a fé cristã passou a exercer maior impacto no setor acadêmico, sendo traduzida através de cientistas, professores e pensadores renomados que hoje fazem questão de vir a público para defender, por exemplo, a louvável relação entre fé e ciência, algo atestado até por quem não professa crença alguma.

Temos ainda uma forte atuação nas mídias, graças à própria natureza evangélica, que é o evangelismo. Isto é, anunciar o nome de Jesus Cristo. Com isso, pregamos não apenas nas ruas e praças, mas também na TV, nas rádios e, agora principalmente, na internet. O resultado disso, portanto, não poderia ser outro, senão o crescimento exponencial da Igreja.

Realidade inevitável

Com esse crescimento, naturalmente os evangélicos passaram a atuar em todos os segmentos da sociedade, sendo a política apenas um deles. Assim, temas outrora mais discutidos no âmbito político passaram a ser comuns, também, no seio da igreja, uma vez que os fiéis, consequentemente, se tornaram mais conscientes do papel que devem exercer nas decisões do país.

Eu mesma sou testemunha desse processo, pois há mais de 20 anos atuo junto às igrejas buscando conscientizar os irmãos em Cristo no tocante à proteção da vida, da liberdade religiosa, infância e família. Foi assim que trouxe, em meados de 2010, o tema da ideologia de gênero para o debate nacional, junto a nomes como Marco Feliciano e o então deputado federal Jair Messias Bolsonaro.

Essa imersão dos evangélicos no debate público, portanto, foi uma realidade inevitável, tendo em vista o crescimento do segmento. O que antes era mais restrito ao mundo católico, passou a ser dos protestantes, que assumiram nos últimos anos o protagonismo do debate público entre religião e política.

Falta de controle

Exposto o contexto, voltemos à questão: o que está por trás do grande interesse atual sobre a atuação dos evangélicos na política? A resposta não é única, mas uma delas pode ser a falta de controle dos grupos poderosos que há décadas dominaram a opinião pública, mas que agora se veem confrontados por formadores de opinião e mídias independentes.

Neste cenário, nós evangélicos temos grande vantagem, porque a natureza evangelística, essencialmente cristã, nos encoraja em direção ao posicionamento público, transformando cada cristão realmente comprometido com a Bíblia, em um foco de resistência contra o avanço do mal.

Não poder barrar esse ímpeto que ganhou força através das mídias sociais é um grande fator de incômodo por parte dos que desejam manter o controle da sociedade, e como os evangélicos pautam grande parte da agenda política conservadora, nos tornamos alvos naturais das reações autoritárias.

O grande perigo sobre isso diz respeito à restrição da liberdade religiosa, e a forma como isso pode ser feito é justamente o que temos visto acontecer no Brasil atual: políticos se intrometendo no discurso religioso, fazendo julgamentos sobre o que consideram ser crenças legítimas ou não.

Cito como exemplo a fala mais recente do presidente Lula, maior autoridade do país, durante uma reunião ministerial esta semana. Citando diretamente o pastor líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, o petista declarou que “o Deus do Malafaia não é o mesmo que o nosso, mas eu sei que o Deus do evangélico é”.

Em outro momento, Lula declarou: “Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo nesse país”.

Sobre esta fala, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, endossou, com destaque meu: “O que o presidente, como todos nós concordamos, é que a fé das pessoas, a crença das pessoas não pode ser usada na disputa política partidária, a religião e a crença é muito maior do que os partidos políticos, do que as disputas políticas e portanto assim devem ser colocadas e respeitadas as crenças religiosas das pessoas, foi isso que o presidente voltou a afirmar, sua crença e seus respeito por todas as religiões”.

Esses não são os únicos exemplos, pois nos últimos dias vimos jornalistas, políticos e juízes dando “pitaco” sobre a relação entre fé e política como nunca antes, todos endossando a narrativa de “manipulação da fé”, sugerindo implicitamente haver a existência de grupos ligados à igreja que não seriam legítimos em matéria de crença, o que é absurdamente falso.

Mas afinal, são eles teólogos? São, por acaso, autoridades em Bíblia para julgar o que é legítimo ou não em termos de crença? Na verdade, em um país cuja liberdade religiosa é garantida constitucionalmente, podemos rotular o que é a fé legítima das pessoas? Evidentemente, não. Podemos, isto sim, no campo teológico, discordar de doutrinas e suas diferentes abordagens, mas não invadir a competência do que para um é deus ou Deus.

O fato inconteste

O fato que põe medo nesses sujeitos é que nós, cristãos e seguidores de outras religiões PODEMOS, sim, pautar o debate público com base em nossas crenças, exatamente da mesma forma que ateus e céticos defendem as suas próprias… crenças, neste caso, no materialismo e na ilusão de combinações do acaso que teria criado o Universo e a vida.

Rui Costa erra ao dizer que “a crença das pessoas não pode ser usada na disputa política partidária”, endossando o viés autoritário do seu chefe. O que está por trás desse discursinho malicioso e raso – e aqui está o cerne do meu alerta – é a intenção implícita de criar mecanismos (jurídicos, políticos) para censurar o discurso evangélico no debate público, precisamente o de pastores influentes como Silas Malafaia, que representa a maioria conservadora.

Para isso, eles precisam desacreditar os líderes mais influentes que contrariam as suas agendas ideológicas, surgindo daí a narrativa de “manipulação da fé” e a visão arcaica de que nós, cristãos, devemos viver reclusos dentro de um templo, não podendo “misturar religião com política”, quando na realidade o que fazemos é nada mais do que interpretar a vida pública sob às lentes da cosmovisão cristã.

Diferentemente do que alegam, podemos usar nossa fé nessa disputa política, sim, justamente porque ela envolve assuntos que impactam direta e indiretamente as nossas crenças. É por isso que nos envolvemos em temas como aborto, drogas, ideologia de gênero, educação, família e tantos outros – porque ser cristão não é ser alienado!

Termino dizendo que não aceitaremos ser tratados como cidadãos de segunda classe! Como cristãos evangélicos, atuaremos como agentes de transformação em todos os aspectos, seja dentro ou fora da política, bem como dentro e fora dos templos, tendo sempre como norte dessa atuação os princípios bíblicos que sustentam as nossas crenças, gostem eles ou não!

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