Um assunto bastante sugestivo para uma boa discussão é falar sobre algumas práticas sociais, afinal quem vai andar na contramão e não ouvir nada?! A sociedade tem passado por várias transformações, principalmente em suas práticas e conceitos, como por exemplo, o ficar. De acordo com Bauman[1] o adjetivo líquido é o melhor para descrever nosso tempo pós-moderno, por exemplo ao se referir a um amor líquido[2], trata justamente de relacionamentos sem consistência, sem solidez, frágil e dentre tantas formas de amar assim o ficar é algo bem característico deste tempo em que vivemos.
O que é ficar? Ao fazer esta pergunta para uma jovem ela prontamente respondeu: “é o momento.” Se perguntarmos para qualquer jovem e adolescente a mesma pergunta, ouviremos várias definições ou similaridades com algumas variantes. Afinal, se duas pessoas se beijam na boca isso já se constitui o ficar ou tem que rolar sexo ou apenas um carinho? Segundo o dicionário Houaiss a palavra ficar possui 28 significados, sendo que o último é um regionalismo de uso informal:
manter relacionamento amoroso durante breve tempo,
sem compromisso de estabilidade ou fidelidade[3]
O ficar é um relacionamento amoroso, em que o beijo é o ato mais comum entre pessoas que ficam, porém o que o diferencia do namoro é justamente a ausência do compromisso e da fidelidade, visto que é possível ter mais de um ficante por ocasião.
Os defensores desta prática afirmam que se faz necessário ficar para poder conhecer a pessoa antes de namorar: se beija bem, se é quente, se tem pegada, se é boa de cama e por aí vai. Neste aspecto o ficar está mais relacionado às experiências físicas que levam ao prazer, talvez, seja por isso que em muitos casos, o ficar seja sinônimo de sexo.
Entre cristãos, leia-se, discípulos de Jesus Cristo, que têm a bíblia como única regra de fé e prática, seria o ficarou a pegação um hábito normal? É preciso diferenciar o comum do normal. O comum é o que é freqüente, rotineiro, habitual, enquanto que o normal é o que está conforme as normas. O comum não obedece à regra, a não ser as suas próprias, pois está solto, não faz parte de nenhum sistema, apenas acontece, surge e se repete. O normal ao contrário faz parte de um sistema, cuja harmonia só acontece quando os que fazem parte deste sistema andam consoantes a normas.
Como cristãos fazemos parte de uma religião, o cristianismo e como qualquer religião seguimos um conjunto de regras, que são baseados em princípios, os quais existem para nos orientar em nossa relação com Deus. A bíblia existe não para o homem dentro do jardim, mas para os que vivem fora dele, os quais precisam das Escrituras para saber se relacionar com Deus.
Não encontraremos na Bíblia nenhum um mandamento do tipo “não ficarás” ou “não caireis na pegação” ou “não passarás o rodo”, não obstante encontraremos nela alguns princípios que nos auxiliam em nossas dúvidas e decisões.
É comum um cristão ficar? Sim, basta você fazer uma pesquisa em sua própria comunidade. Mas é normal?
Nunca na Palavra de Deus um relacionamento será visto como mera curtição, porque o ficar não passa de uma curtição, para mim é tratar o (a) ficante como objeto, um descartável, que pode até ser reutilizável, mas sempre descartável.
Na perspectiva cristã, o papel do namoro é uma relação que visa o conhecimento daquele (a) que poderá ser nosso futuro cônjuge e há legitimidade apenas para se dar carinho[4] e não carícias[5], as quais ficam reservadas para o casamento.
Ao lermos a bíblia aprendemos que Deus é um ser pessoal e a única forma de se conhecer uma pessoa é se relacionando com ela. Com Deus não é diferente, pois Ele tanto se relaciona como também faz isso através de pactos e alianças, os quais demonstram que o tipo de relacionamento que Deus tem com os seres humanos são baseados no compromisso e da fidelidade.
Assim, entendo que de forma semelhante o nosso relacionamento com Deus serve de modelo para todos os demais relacionamentos que tenhamos com outras pessoas, sejam comerciais, fraternais, sexuais, esportivos, financeiros etc, em que o compromisso e a fidelidade devem estar presentes.
O grande problema do ficar não é a apenas a possibilidade de haver sexo, mas, além disso, a inversão de valores em que o sexo, algo tão íntimo e especial, precede a fidelidade e o compromisso; o desrespeito com o outro e consigo, num comportamento, que parafraseando provérbios 16.25, parece bom aos seus olhos, mas que para Deus o fim leva a morte.
PS: Desculpem-me leitores pela ausência de referências que fundamentem o que escrevi, não é que não haja, mas porque muito se tem falado, mas pouco se tem escrito sobre.
[1] Sociólogo polonês, iniciou sua carreira na Universidade de Varsóvia, onde ocupou a cátedra de sociologia geral. Em 1968 emigrou, reconstruindo sua carreira no Canadá, Estados Unidos, Austrália e Grã-Bretanha, onde em 1971 tornou-se professor titular de sociologia da Universidade de Leeds, cargo que ocupou por vinte anos.
[2]http://www.zahar.com.br/catalogo_detalhe.asp?id=0861&ORDEM=A
[3] Dicionário Eletrônico Houaiss de Língua Portuguesa 3.0
[4] Ouvi certa vez de um terapeuta familiar que o carinho é algo próprio do namoro e noivado, é algo meigo, apreciador, delicado, como o beijo, o abraço, o coçar a cabeça etc.
[5] Ouvi certa vez de um terapeuta familiar que as carícias são próprias do casamento, pois são manifestações físicas de amor carnal, tal qual o sexo e atividades típicas do casamento, conforme entendemos na bíblia.
Por Zé Bruno no Blog do Zé Bruno: http://zebruno.wordpress.com/2011/11/17/uma-palavra-sobre-02/#more-244