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Igrejas que pedem muito com templos que oferecem pouco! (2ª parte)

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Antes de alguns escreverem abaixo de que a igreja somos nós e não templo, reitero que não é este o enfoque dos artigos – afirmar que o templo é a igreja absolutamente. Antes, propus uma reflexão ambiental do culto coletivo e sobretudo, o aspecto congregacional e estrutural desta experiência.
Continuação

Existem igrejas abastadas financeiramente que submetem seus membros a uma miséria congregacional. Do ponto de vista estrutural alguns templos de melhor dotação orçamentária não têm sequer bebedouros adequados, os banheiros são ruins, o som é sofrível, o ambiente é abafado, a iluminação é precária, os assentos de madeira (em alguns lugares sem encosto) são desconfortáveis, os ventiladores atrapalham o culto e falar em ar condicionado central é proibido. Tais igrejas oferecem a seus membros um serviço religioso inadequado e decadente se considerarmos o que estas instituições obtêm com a captação de tanto dinheiro advindo de contribuições.

Do ponto de vista experiencial essas igrejas indiferentes a qualidade de vida de seus mantenedores não valoriza aos que tanto se doam pela causa da instituição. Começa com o serviço de portaria e recepção que deixa a desejar, pois falta simpatia e até educação. A disposição dos bancos é tão apertada que não se consegue passar sem esbarrar em quem já está acomodado. Não oferecem sala ou culto infantil para que as crianças possam assimilar o Evangelho de forma adequada e dirigida, permitindo que os pais possam dispensar sua atenção para prestarem o culto racional. Os anúncios são desorganizados, ocorrem várias adições no momento da condução dos avisos semanais. A apresentação dos visitantes é tão desajustada que eles (os visitantes) acabam sentindo-se constrangidos ao invés de presença valorizada no ambiente. Os horários de término das reuniões são variáveis, prejudicam quem depende de ônibus ou tem que trabalhar muito cedo, além de enfadar a assistência e afastá-la da igreja por falta de pontualidade. Em suma: falta cortesia, compreensão, aplicação pelo bem coletivo e zelo para com o patrimônio de Deus – as pessoas.

O que dizem os líderes desses templos desumanos e desatualizados de adequações estruturais e de convivência a seus frequentadores? A afirmativa que tentam encaixar é a de fundamentação bíblica para justificar o modo paupérrimo e desorganizado da casa de Deus que é administrada por eles. Alegam que Deus é Espírito e que não habita em templos bonitos e organizados feitos pelas mãos de homens, e desta forma o que prevalece na composição do argumento ensaiado é a espiritualidade do culto e não a estrutura física e a organização a favor da convergência de pessoas que prestarão o culto (não que a colocação seja inverdade; só não pode tentar justificar o desconforto geral).

Que bom se todos soubessem que o tabernáculo construído no deserto com ofertas voluntárias dos israelitas (Leia essas passagens deslumbrantes no livro de Êxodo do capítulo 28 a 35 pelo menos) era bem organizado, com medidas razoáveis, com mobiliário adequado, com utensílios requintados e com ministros vestidos a caráter (tudo sob a orientação detalhada do Senhor Jeová). Quem teve o prazer de contemplar o tabernáculo se encantava pelas cores, harmonização e significados ambientais. Ajudaria também se conhecêssemos sobre toda a história e composição dos melhores materiais aplicados na construção do templo de Salomão (2 Crônicas do capítulo 2 ao 7); na disposição daquele sacro ambiente, nos adornos esculturais que enalteciam a beleza do local de culto à Deus – tudo isso para deleite reverente e adoração conseqüente do povo de Deus – por certo, era prazeroso desfrutar da harmonia ambiental daqueles locais de culto coletivo, o sentimento de filiação ao Rei do Universo seria instantânea.

A leitura bíblica literal do tabernáculo e do templo de Salomão é totalmente oposta à desses líderes que são hábeis gestores financeiros e exímios redutores de custos operacionais (essas competências não são más – o problema é quando o saldo desaparece com despesas convenientes a uma burguesia clerical). O tabernáculo e o Templo expressavam aos adoradores que o ambiente do culto comunicava a riqueza da pessoa de Deus, a ordem e a perfeição de Seu reino eterno – o ambiente precisa retratar Deus (e não estou sutilmente defendendo a teologia da prosperidade e nem a esplêndida arquitetura de construções vazias da graça). A bem da verdade, esta articulação propõe a experiência de que temos de ter nos ambientes consagrados a adoração coletiva em nossos dias. É necessário sentir-se bem na igreja, isso denota completude do ser humano no ato da adoração, envolve espiritualidade em instância primária (Sl 122), satisfação, conexão em plano espacial e prazer em caráter experiencial (Sl 84. 10) e essa é a possibilidade, contribuição e doação que o templo onde congregamos precisa nos oferecer!

Você pode adorar a Deus num templo módico coberto com folhas de amianto sem ventilação adequada e com suor escorrendo pelo corpo se o contexto financeiro te impuser essa realidade – mas se não for esse o caso, peça uma melhoria à direção, afinal os irmãos merecem. A igreja local precisa ofertar mais que reuniões regulares em templos apertados e sufocantes; oferecer mais que sermões exortativos em aparelhagem de som sucateada; necessita corresponder à nossa dignidade de servos de Deus, a nosso contexto social e econômico e à nossa boa fé. A instituição precisa, sobretudo reverter às finanças que compartilhamos por amar a Deus em benefícios à coletividade assídua do templo. Chega de arrancar lã, tirar leite e comer a carne das ingênuas ovelhas sem lhes oferecer ao menos um local descente e agradável à nossa experiência no momento congregacional de cultuarmos ao Senhor (Jo 10. 1-5). O mais importante para um local de culto evangélico são as pessoas sendo bem recebidas e acolhidas pelo ambiente, para ali serem alcançadas e edificadas pela presença do Santo Espírito.
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