Esta exposição não pretende ser polêmica, mas incisiva e servir de motivo para reflexão. É sabido que muitos cristãos estão saindo de suas congregações por falta de sensibilidade pastoral, transparência, coerência religiosa quanto a arrecadações, despesas e investimentos. O preço cobrado pelo crescimento de algumas igrejas que através de programas de televisão, construção de mega templos e eventos de grande expressão, têm-nas obrigado a oprimir financeiramente seus membros e congregados para manterem o status de “igrejas emergentes”, diante das fortunas que tem gasto nessas frentes de divulgação. A questão é que todo esse dinheiro doado às “missões sagradas da denominação”, nem sempre tem retorno para os contribuintes.
Dirigentes que pela natureza do próprio ofício pastoral não deveriam ser administradores dos recursos e necessidades temporais da igreja. Infelizmente em muitas matrizes os pastores são tudo: tesoureiros, secretários, investidores, pagadores de contas e em alguns casos o que se vê é uma gestão decrépita e questionável sem qualquer planejamento administrativo. Essa forma de dirigir as finanças da igreja centradas na pessoa do pastor está em boa parte ancorada em atrasos injustificáveis e nada transparentes gerando com isso enfrentamentos com os membros locais. Vivemos num tempo em que quando filiados percebem que o comunitário não tem mais o óbvio sentido de bem comum e que a falada unidade da igreja é só mais um discurso conveniente a uma mascarada oligarquia bispal; um pavio de murmurações é aceso no meio da congregação e algo como um barril de insatisfações explode lançando crente pra tudo quanto é lado nas igrejas da adjacência; caem naquelas que oferecem melhores condições de congregar.
Muitos líderes carecem refletir sobre a vida da igreja enquanto comunidade local sob os prismas bíblico e contextual. Menciono a fundamentação bíblica porque conhecê-la é ter uma diretriz segura sobre o que foi, o que é, e o que pretende a igreja enquanto agência do Reino de Deus (Mt 16.18; At 5:11; 11:26; 1 Co 11:18; 14:19, 28,35; Ef 1:22; 3:10, 21; 5:23-25 27,32; Cl 1:18, 24; 2 Pe 2.9-10). O enfoque contemporâneo precisa considerar os aspectos: pessoal, social e espiritual.
Pessoal porque a igreja é formada por pessoas diferentes e negligenciar suas necessidades com base na Palavra é uma omissão frente às realidades humanas (At 6.1-4; Gl 6.10); percebemos um empenho generalizado em muitos ministérios, quando há gritantes carências específicas. Social porque desconsiderar o perfil do tipo de gente (cultural e financeiramente) que congrega na igreja é um erro estratégico e posicional (Tg 2.9); é muito provável que em muitas igrejas, tem irmãos que mais precisam receber ajuda do que dar o pouco que tem. Espiritual porque a igreja precisa fornecer um ambiente próprio ao desenvolvimento de espiritualidade, um local agradável e prazeroso contribuirá para a enlevação transcendente da congregação (2 Cr 7.15-16; Ec 5.1; 1 Co 14.26); neste particular, esses grupos sanguessugas que só pedem dinheiro, ao menos precisam oferecer um local de reuniões mais confortável e com assentos, ar condicionado, banheiros, estacionamento, sala infantil e recursos audiovisuais (quem me dera que ser igreja fosse apenas isso). E acredite, tem muitos templos pelo Brasil afora que se pede até a alma e não se oferece nem sequer água fresca ao sobrecarregado contribuinte!
Nesse novo tempo pelo qual atravessa a igreja evangélica em nosso país não dá mais pra aceitar “cobranças” por dízimos e ofertas sem ao menos existir prestação de contas e algum retorno para o bem comum da congregação. Outrora, as necessidades temporais da “obra”, resumiam-se a pagamentos de aluguéis, salários, encargos sociais, energia elétrica, água, telefone, material de limpeza e higiene. Mas a nova consciência cristã considera essas “saídas” muito poucas frente ao tanto que as instituições religiosas pedem e arrecadam. É verdade que o problema agravado em que membros embalam manobras de evasão de algumas igrejas tem mais a ver com dificuldades de gestão (má liderança e administração) do que com a conceituação e aplicação eclesiológica de seu funcionamento e manutenção. Estou dizendo que os irmãos não querem deixar de contribuir com a obra – o que desejam é que haja uma retribuição da instituição em melhores estruturas e condições de culto e serviço cristão.
Assistência fraterna e social, obra missionária, caravanas, cantinas, construção de templos e tantas outras necessidades estão fora do objetivo-foco dos dízimos – é tudo por fora, ficando sob responsabilidade dos já sobrecarregados contribuintes. Não sai da tesouraria dinheiro nenhum a não ser para as despesas enxutas da igreja e para as benesses pastorais (em alguns casos é claro). Para vergonha nossa, boa parte dos cristãos no Brasil sofrem pela alta carga tributária imposta pelo governo e também por um jugo ofertório e contribuitório determinado por algumas instituições religiosas de confissão evangélica.
Se existe correspondência cristã na prática do segundo mandamento, ela não acontece em regra geral pela instituição que se proclama “igreja”, mas pelos irmãos com suas ofertas avulsas. A justificativa é que a instituição já tem seus custos elevados e não pode ajudar – não tem como oferecer auxílio de alimento, abrigo, agasalho ou qualquer suporte material (Tg 2.14-17; 1.27). O discurso é bonito, mas não convence e muito menos cumpre a bíblia.
Artigo com continuação, aguarde…