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A Igreja e os Gays: Uma nova abordagem

Uma das questões que mais tem colocado a Igreja brasileira em destaque na mídia e na sociedade nos últimos dias é a sua posição acerca da homossexualidade. O que tem se tornado na verdade, uma guerra entre conservadores e alguns preconceituosos de um lado contra ativistas gays que tem demonstrado cada vez mais que não lutam simplesmente pela defesa de direitos civis, mas pela criação de indivíduos privilegiados na sociedade. Eu sinceramente não quero entrar aqui nos méritos do PL122, até porque, por uma questão política e ideológica a considero totalmente absurda, ainda que ela não venha a cercear a liberdade religiosa, como muitos tem apontado recentemente. Na verdade, o que eu gostaria de fazer é apenas uma breve reflexão acerca da abordagem da Igreja com relação às pessoas que sentem atração por pessoas do mesmo sexo, muitos cristãos, inclusive.

“Vocês não sabem que os perversos não herdarão o Reino de Deus? Não se deixem enganar: nem imorais, nem idólatras, nem adúlteros, nem homossexuais passivos ou ativos, nem ladrões, nem avarentos, nem alcoólatras, nem caluniadores, nem trapaceiros herdarão o Reino de Deus. Assim foram alguns de vocês. Mas vocês foram lavados, foram santificados, foram justificados no nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito de nosso Deus.” (1 Coríntios 6:9-11)

O texto acima é um dos textos bíblicos frequentemente utilizados a fim de condenar a homossexualidade. Entretanto, extrair apenas isso do texto não faz muito sentido, tampouco expressa toda a sua mensagem. Eu realmente creio que o homossexualismo é algo errado diante de Deus e creio que todos aqueles que não arrependerem desse pecado, assim como de qualquer outro pecado, irá sim ser condenado ao inferno. Isso, contudo, não significa que eu creio que todas as pessoas que se sentem atraídas pelo mesmo sexo estão automaticamente condenadas ao inferno.

Desejos homossexuais nada mais são do que consequências do pecado. É um desejo tão errado quanto a cobiça que um homem heterossexual sente por uma mulher. Por isso mesmo, os desejos de uma pessoa não podem ser o único fator capaz de determinar a identidade de um ser humano. Embora a Bíblia deixe claro que há papeis distintos a serem desempenhados por homens e mulheres, deixa claro que em Cristo todas as distinções foram colocadas a baixo e o que realmente importa é a identidade de filhos de Deus, justificados, regenerados, santificados.

É exatamente isso o que Paulo quis dizer à Igreja de Corinto. Entre eles havia diversos tipos de pecadores merecedores do inferno, inclusive homossexuais. Mas o foco maior que o apóstolo dá, não é à condição passada deles, mas sim a presente. Paulo deixa claro aos irmãos de Corinto, uma vez homossexuais, que o que importava não era o que eles haviam sido no passado ou o que ainda sentiam, mas sim quem eles eram em Cristo. O mais importante é que eles eram feitos justos diante de Deus e que um dia eles seriam completamente santos.

Assim como na Igreja de Corinto, na Igreja Brasileira ainda existem pessoas que uma vez foram homossexuais, mas que hoje são justificadas em Cristo. Muitos são irmãos que de fato deixaram tais práticas, mas ainda tem desejos homossexuais. Outros embora tenham esses mesmos desejos, nuca os praticaram. A grande questão é: como temos tratado essas pessoas? Será que temos sido como Paulo e temos buscado acolher esses irmãos lembrando-os de suas verdadeiras identidades em Cristo ou temos condenados, forçando-os a se cassarem com alguém do sexo oposto e se assumirem como ex-gays a fim de puderem realmente serem aceitos pela Igreja?

O que mais me preocupa é perceber o quanto muitas das atitudes da Igreja Brasileira com relação a questões como essa é perceber o quanto ela pensa de forma moralista, porém anti-bíblica. Principalmente no que diz respeito ao casamento. Como compartilhei aqui na semana passada, segundo Jesus em Mateus 19.25, o casamento não é para todos os homens, e foquei naqueles que permanecem solteiros em prol do Reino de Deus. Entretanto, Jesus fala que alguns não podem se casar por causa de sua própria natureza, sendo os “eunucos de nascença”. Eu não quero entrar no mérito das causas da homossexualidade, e embora não creia que isso seja uma questão genética, creio sim que pessoas podem nascer gays e que isso não altera em nada a mensagem do Evangelho, uma vez que isso é consequência da natureza pecaminosa de todo ser humano.

Por isso, vejo no celibato uma alternativa bíblica e santa para aqueles que sentem desejos homossexuais, mais ainda assim querem ser cristãos e levarem uma vida santa. Fico muito feliz ao perceber o quanto essa mentalidade tem se fortalecido, por exemplo, na Igreja de alguns países de língua inglesa. Existem alguns autores cristãos como o Christopher Yuan, Sam Albery e Wesley Hill, que mesmo lutando com a atração por pessoas do mesmo sexo, optaram por seguir a Cristo e honrá-lo através de uma vida de pureza sexual e celibato. Para esses homens, suas identidades verdadeiras estão em Cristo e Ele lhes é muito mais prazeroso do que qualquer relacionamento humano ou satisfação sexual. Eles encontram na Igreja, a família de Cristo e vivem radicalmente o cumprimento da promessa de Jesus em Marcos 10.28-30, segundo a qual receberemos ainda nessa vida 100 mais de tudo aquilo que renunciamos para segui-lo e ainda a vida eterna.

Meu desejo sincero e a minha oração é que a Igreja Brasileira se deixe moldar pela Bíblia e passe a acolher homens e mulheres assim. Que a Igreja seja realmente a família de Cristo para as pessoas que sentem atração pelo mesmo sexo. Que Deus capacite Seus servos a deixarem tudo por amor a Ele. Que os cristãos que se sentem assim não se sintam constrangidos a serem abertos acerca do que sentem. Que eles encontrem na Igreja um lar seguro.

Quem sabe um dia não haverá no Brasil Igrejas pastoreadas por sérios homens de Deus, que vivem uma vida de pureza sexual e celibato ao mesmo tempo em que lutam contra desejos homossexuais? Parece radical demais para nós e nossa cultura, não? Pois é, tão radical quanto Jesus e o Evangelho!

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