Vemos na Bíblia que, em várias oportunidades, Jesus realizou milagres, pedindo que as pessoas não contassem nada pra ninguém. Fui questionado sobre essa atitude do Senhor por um amigo, dia desses, e me pus a pensar sobre as razões que levavam o Mestre a agir dessa forma.
É interessante ver o contraste dessa atitude “tímida” de Jesus com a da igreja da atualidade. É muito comum, hoje, quando um milagre acontece – mesmo que supostamente – criar-se uma onda frenética de euforia sobre o fato. As conversas correm, as pessoas falam muito sobre o assunto e a igreja, ou pessoa que foram veículos do milagre acabam por ficar famosos.
Em minhas reflexões, concluí que Jesus não desejava contribuir com a criação de novos mitos e ídolos. Conhecedor da natureza humana e de nossas fortes tendências em sistematizar conceitos, procurando formatar as coisas invisíveis e difíceis de entender, parece que o Senhor estava tentando – inutilmente – frear um ímpeto eufórico popular religioso.
De fato, Deus cura e liberta, utilizando para isto, meios de abençoar o povo, mas nós temos a tendência de tornar os meios em deuses, ao invés de adorar somente a verdadeira fonte de todo milagre e provisão.
Vejo um exemplo histórico desse tipo de confusão que pode lançar luz nesta reflexão. Em certa oportunidade da história dos Hebreus, Deus mandou Moisés construir a imagem de uma serpente de bronze para curar o povo de uma maldição. Veja que coisa mais confusa! Foi o próprio Deus que mandou construir a imagem, contudo, foi o povo quem tornou a mesma imagem em um ídolo – que passou a ser cultuado por Israel por séculos.
Essa tendência idólatra se mostra forte quando da construção do Bezerro de Ouro, o qual ergueram com a bênção e a participação do próprio sacerdote de YHWH, Arão. Pressionado a dar respostas e a erguer algo visível diante dos olhos incrédulos do povo que o seguia, ele foi culpado justamente por não tentar quebrar a tendência idólatra deles, pois a atitude correta de um representante de Deus e sua palavra deveria no mínimo apontar para o único caminho genuíno que poderia conduzir em verdade a Deus, a fé.
Eles veneravam, adoravam e faziam cultos a uma imagem que o próprio sacerdote ajudou a erguer na mente religiosa pagã daquele povo, mas Deus reprovou o que o sacerdote fez.
Ambos os casos demonstram o homem criando imagens e transformando-as em deuses e é aí que vejo o cuidado de Jesus, ante o fato dele não querer que as pessoas saíssem falando que realizava milagres. Sua preocupação era fruto – penso eu – de seu desejo de não criar mais um ídolo que confundisse o povo.
Parece um tanto difícil de entender isto, mas observe com carinho essa tendência forte da igreja moderna de, quando um milagre acontece, o povo e os próprios líderes dizerem coisas como: “tal igreja tem poder”, “tal homem tem unção”, “o pastor tem uma palavra forte”, “a campanha funciona” ou ainda “a visão nos faz crescer” etc.
Isso sem falar no volume de apetrechos e acessórios que se utilizam para “viabilizar” os milagres na mente das pessoas. Lenços, mirras, óleos, símbolos e outras fórmulas mágicas (note que estas aqui citadas estão todas contidas na Bíblia) que se tornam em meios para “provocar” fé.
Ora, o que é um meio senão um caminho, um mediador? Se somente Jesus é o Caminho e o Mediador entre nós e Deus, então, qualquer outra coisa (seja pessoa, instituição, objeto, conceito, palpável ou não) consiste em anti Cristo.
Quando digo “Anti Cristo”, não estou afirmando que esse “meio de fé” signifique abertamente contra Cristo, mas paralelo a Cristo o que, no final das contas, resulta na mesma coisa.
Quem faz os milagres é Deus, mas nós temos a tendência de criar rotas milagrosas, meios de manifestação e lugares sagrados para que as pessoas acreditem que Ele age daquele jeito e naquele lugar.
Talvez até exista em alguns o dolo de cobrar ingresso ou manipular o povo, ou ainda outros que acreditem que Ele age daquele jeito específico, dentro de uma forma pré definida. No entanto, tudo o que se imagina conduzir a Deus, que não é o próprio Senhor Jesus, consiste em idolatria e prática do Anti Cristo.
Pensemos melhor sobre isso!