Colunas

Ganhar a alma e perder o mundo

“Pois que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” Mateus 16:26

Era um momento crucial na caminhada de discipulado entre Jesus e os doze. No decorrer do capítulo 16 de Mateus, o Senhor traz revelações profundas sobre a relação dos filhos de Deus com o mundo. Adverte a não serem confundidos com idéias religiosas, as quais, por suas teologias e doutrinas, são inúteis para perceber a dimensão profética, bem como os sinais dos tempos e culmina no ponto onde O Rabi se revela o Ungido de Deus.

A partir disso, um ensino radical é transmitido, no qual mostra a sublime missão e o elevado status de quem vive com os pés na terra e com a mente no Reino de Deus. Primeiramente, (verso 17), Jesus ensina que só podem ter essa visão aqueles a quem o Pai revela e depois lhes mostra os poderes que essa revelação outorga aos que crêem: edificar sua Igreja, viver além do poder de influência do ‘inferno’ (os dominadores malignos na sociedade) e a capacidade de conectar o céu com a terra.

É a partir daí, então, que o Mestre passa a mostrar as futuras rejeições que sofreria, justamente pelo fato de ser uma interface celeste que traria todas essas manifestações à realidade em seu tempo, as quais iriam levá-lo invariavelmente a ser assassinado (21).

Pedro, no auge de sua humanidade, tenta dissuadir o Senhor dessas idéias tão ‘apocalípticas’, mas é censurado severamente e ouve uma das frases mais duras de sua vida: “Pedro, você é um crente carnal, sua mente é uma mente diabólica, decaída, você não sabe nada sobre as coisas de Deus”, parafraseando o verso 23.

É aí que Jesus inicia sua ‘teologia da cruz’, pregando a morte para este sistema humano – e diabólico – e a ressurreição para o Reino de Deus. Tudo dentro deste corpo, nesta existência, reforçando “os pés na terra e mente no céu”.

Chegamos então na indagação, no questionamento que o próprio Jesus propôs pros seus seguidores: “pra que ganhar o mundo e perder a alma?”

O que é o mundo? O mundo é tudo o que os olhos podem ver, o que se pode desejar, o que é físico, tangível. É o que pode produzir, onde se pode lucrar, onde a beleza que impressiona é a exterior, no qual, ainda que ruim, mentiroso, maléfico, uma boa propaganda fará todos acreditarem ser bom e os levará a consumir. Enfim, o mundo, kosmos, o sistema belo e bem organizado, no qual os homens são alinhados em pirâmides sociais que massacram 99% e privilegia o restante, sobre esse mundo Jesus pergunta de que vale ganhar tudo nele se você perder sua alma.

Alma, por sua vez, ‘ψυχή’, (psyqué), ou ainda ‘anima’ em latim é, segundo Wikipédia, o ‘alento’; ‘sopro’ e é utilizada como definição de ‘vida’, ou ‘princípio da vida’, portanto, alma.

O termo ‘anima’, ou seja, ‘aquilo que dá ânimo’, ‘que dá vida’ esclarece melhor ainda o que essa parte humana incorpórea e interior representa. Segundo, Jung, a ‘anima’ é um dos aspectos inconscientes do indivíduo, que estão em oposição aos aspectos conscientes, que são os que formam a personalidade.

A alma é o indivíduo! É o que você e eu somos, tirando todas as máscaras (personas) e rótulos que utilizamos por vontade própria ou por imposição social. Nela está impresso destino, a vocação os desejos intrínsecos, os sonhos, os projetos mais primitivos que cada pessoa possui.

Por baixo de toda personalidade que nos veste está nossa alma, pura, limpa, original, (cheirando a talco, como um bum bum de bebê, disse Gil) e vejo como missão principal de vida reencontrar esse ser que Deus projetou que seríamos, individualmente.

Pressões sociais, históricos familiares, cargas genéticas, heranças malfadadas, maldições, enfim, fatores assessórios (nem sempre externos, mas às vezes, interiores) nos moldam e produzem novas formas sobre o ser humano bruto e fiel ao projeto primevo de Deus para cada ser.

Cabe a cada um, em sua jornada pela vida, encontrar-se primeiramente com o espelho perfeito, Jesus, ‘a imagem do Deus que não se vê’ rebater sua própria imagem em seu interior, decidir, se esforçar, buscar a renovação e recomeçar de onde caiu.

Deixar personas pra trás não é tarefa fácil e renegar os ganhos deste mundo também não é. Todavia, ao olhar nos olhos dEle e ser iluminado, a glória desta fraca existência humana desvanece e, pálida, perde todo o sentido. É aí que nos apaixonamos pela nossa alma, pelo plano de Deus, pela missão, pelo mandamento maior, pela nova posição celeste que passa a ocupar, suspenso e flutuante no kosmos.

Vida no espírito!! #AMO

Sair da versão mobile