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Evangélico na política? Que tal Marina Silva?

A História de Marina

Marina Silva nasceu em Rio Branco, capital do Acre no dia 8 de Fevereiro de 1958. Foi desenganada pelos médicos quatro vezes. Na primeira delas, tinha 16 anos e ouviu um doutor do serviço público dizer para sua tia: “A alma dessa menina já está no inferno”. Uma hepatite tratada como malária deixou a jovem prostrada na cama por um ano. Os remédios destruíram seu fígado. Para cuidar da saúde, Marina teve que abandonar o trabalho na extração de borracha em Seringal Bagaço e se mudar para a capital do Acre, a 70 quilômetros dali. Enquanto se tratava progredia rapidamente nos estudos. No entanto, ao ouvir a profecia do médico, a garota irritou-se e disse: “Eu não morro de jeito nenhum”. Salvou-se. Três anos depois, contraiu nova hepatite. Daquela vez, a situação era mais grave. Teve que ser internada. Certo dia, do leito, ouviu uma conversa entre um médico e uma freira. “Ela tem cirrose e vai morrer”, disse o doutor. “Vou morrer nada”, respondeu Marina. Resolveu deixar o hospital e foi obrigada a assinar um termo de compromisso isentando os médicos de responsabilidade caso o pior acontecesse. De lá, Marina seguiu para a residência de dom Moacir Grecchi, então bispo da cidade, e contou que morreria, se não fizesse um tratamento em São Paulo. O bispo providenciou para que a menina de 19 anos fosse encaminhada ao hospital São Camilo, na zona oeste paulistana. Após longo período de cuidados médicos, curou-se.

Chico Mendes e Marina 

Chico e Marina conheceram-se no movimento político clandestino. Ela cursava história na Universidade Federal do Acre e encantou-se com a cantilena da mais-valia e da exploração do proletariado. Em 1985, ajudou na fundação do PT no estado e, três anos depois, elegeu-se vereadora de Rio Branco com votação recorde. Marina era uma espécie exótica na cidade. Extremamente magra, longos cabelos, voz esganiçada, discurso recheado de jargões socialistas. Uma novidade à época, conquistou uma parcela do eleitorado que gozava os primeiros anos da abertura democrática e estava enjoada dos políticos tradicionais. O Acre era uma terra de ninguém, dominada por tipos como Hildebrando Pascoal, que futuramente seria deputado federal e condenado a 65 anos de prisão por esquartejar seus rivais com motosserra.

Marina é uma das ambientalistas mais respeitadas no mundo. Foi homenageada pela Organização das Nações Unidas, ao lado do ex-vice-presidente dos Estados Unidos Al Gore, pelos seus préstimos realizados a favor do desenvolvimento sustentável. “Ela é o vetor de boa imagem internacional do Lula”, disse Tião Viana (PT/AC), Marina é o selo verde da presidência da República, uma espécie de ISO 14001.

A respeitável reputação internacional de Marina começou a ser construída em 1984, quando Chico Mendes fundou a Central Única dos Trabalhadores e empreendeu uma série de viagens ao coração da Amazônia. Marina sabia bem como viviam os seringueiros que trabalhavam no interior do Acre. Nas visitas, ensinava-os a resistir às expulsões, a tirar os recursos das árvores sem matá-las e a não ser roubados pelos latifundiários.

Exemplo de Caráter

Na Câmara Municipal, Marina aumentou sua lista de inimigos. Devolvia as gratificações destinadas aos parlamentares e ia a público exigir que os colegas fizessem o mesmo. Alguns empresários da cidade nutriam ódio por ela. Certa vez, durante uma greve geral promovida pela CUT, a moça comandou um grupo de sindicalistas que foi à porta de uma empresa de transportes para evitar que os ônibus deixassem as garagens. O dono da empresa disse que botaria os veículos na rua de qualquer jeito e convocou uma tropa de choque da Polícia Militar para protegê-lo na empreitada. Naquela manhã, dois grupos se formaram. De um lado, os ônibus alinhados, tendo à frente policiais armados com cacetetes. Do outro, os sindicalistas, liderados pela vereadora. O comandante da PM gritou, na direção de Marina: “Vou dar um passo à frente e se algo me acontecer, a culpa é da senhora”. E deu o passo. Do outro lado, ela devolveu: “Eu também vou dar um passo à frente e se algo me acontecer, a culpa é do senhor”. Andou meio metro. O dono da empresa, vendo aquele impasse, subiu num dos ônibus, girou a chave na ignição e avançou contra os policiais que, revoltados diante do atropelamento iminente, voltaram-se contra ele. Para usar um jargão socialista, naquele dia “opressores” e “oprimidos” se aliaram contra o grande capital, sob o comando de Marina.

A carreira política de Marina Silva teve ascensão meteórica. Logo ela seria eleita deputada estadual e, na sequência, senadora. Quando aceitou o convite para comandar a pasta do Meio Ambiente, em 2003, contabilizava 15 anos de vida pública e uma dívida de gratidão para com o presidente Lula e o deputado federal José Genoíno: foram os dois quem, na época em que seu corpo definhava por causa da contaminação de metais, conseguiram um tratamento para ela.

Durante sua carreira, ao contrário de dezenas dos seus companheiros, não teve seu nome envolvido em escândalos.

Dilma e Marina: um relacionamento impossível?

Dilma e Marina sempre tiveram um relacionamento difícil, desde quando Dilma, então ministra da casa civil, defendia a construção das usinas hidrelétricas. Marina e Dilma se detestavam. Quando se encontravam invariavelmente discutiam. Dilma acusava Marina de atravancar o desenvolvimento do país, dando guarida para ecologistas xiitas que se apegavam a peixinhos e, desta forma, atrasavam o progresso. Marina achava que, se dependesse da vontade de Dilma, as obras seriam tocadas à revelia dos danos ao meio ambiente.

Enquanto ministra, num encontro com o presidente Lula, as duas discutiram feio. “Se não for hidrelétrica, vamos usar carvão. É isso o que você quer?”, perguntou Dilma, ameaçando optar por uma forma de produção de energia extremamente poluente. Marina Silva defendia a energia gerada por usinas termelétricas, eólicas e solares, que não poluem e nem causam impacto ambiental. Mas na época não encontrou uma única voz no governo que se levantasse a favor dela. ”

O maior motivo de orgulho de Marina Silva continua sendo a diminuição do desmatamento da Amazônia. Em seu ministério, os índices de devastação diminuíram 52%. Segundo o ministério do Meio Ambiente, isso evitou a emissão de 400 milhões de toneladas de gás carbônico no período. Ainda que haja controvérsias, o fato é que Marina Silva entrará para a história como a ministra cuja gestão registra algumas das mais favoráveis estatísticas da maior floresta do mundo.

Evangélica desde 1997 é consagrada missionária pela Assembleia de Deus do Plano Piloto.

Apoio de Silas Malafaia?

Silas Malafaia muda de opinião de acordo com o rumo de suas ambições: Lula, depois Marina, Serra (que quando Ministro por mais de uma vez defendeu a descriminalização do aborto, por uma questão de saúde pública) e agora elogia Marina sinalizando apoio. Tudo indica que para Silas, o debate é puramente eleitoreiro (interesseiro).

Fonte: Adriana Negreiros para o Planeta Sustentável e Renato B. Resumo de Raquel Elana

 

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