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A Estatolatria da bancada evangélica

Não há cristão em Brasília que resista à combinação de boas-intenções e engenharia social. Nossos representantes caíram na armadilha de eleger o Estado – no lugar família – como fornecedor de educação moral e corretor de falhas comportamentais de jovens e crianças.

O caso exemplar é o fenômeno do bullyng. Todos os membros da bancada evangélica apresentaram propostas que atribuem aos (mal remunerados) professores a responsabilidade de prevenir e combater a agressividade juvenil. Nas gerações anteriores a educação moral era uma responsabilidade dos pais. Agora ela é mais uma tarefa para funcionários públicos.

Em nome das boas-intenções, os congressistas evangélicos adotaram a crença herética nos poderes mágicos do Estado em corrigir o comportamento humano. Eles deveriam saber que a tradição judaico-cristã ensina que apenas Deus pode realmente transformar os homens. E que a disciplina é uma tarefa dos pais (o livro de Provérbios é um manual de disciplina dos filhos).

Mas quase todo projeto de lei que vem embalado em boas-intenções recebe o apoio acrítico da referida bancada. Não importa se para corrigir uma alegada injustiça a lei em gestação priorize mecanismos que reforçam os poderes do Estado e enfraquecem a sociedade civil. Dez em cada 10 parlamentares confiam mais em burocratas do que em pais de família.

Por meio de propostas politicamente corretas que criam disciplinas escolares como “educação religiosa” ou “educação cívica”, a bancada evangélica contribui involuntariamente com o esforço dos engenheiros sociais do Estado que tentam roubar da família sua responsabilidade essencial de oferecer os parâmetros morais necessários às novas gerações.

Guerra cultural

A interferência do Estado dentro dos lares brasileiros resulta na diminuição dramática da autonomia dos pais na criação de seus filhos. Nada disso é por acaso. O filósofo Antonio Gramsci (1891-1937) postulou que a esquerda deveria promover uma “revolução cultural” no interior das instituições da sociedade civil para abrir o caminho da revolução violenta.

Gramsci ensinou que os revolucionários deveriam minar os pilares da sociedade: a cultura, as instituições, a religião, o sistema legal, etc. No interior dos pilares da sociedade, escreveu o marxista italiano, seria necessário substituir os valores tradicionais pelos valores “do Partido” e assim cooptar instituições como tribunais, imprensa, escolas, igrejas e até mesmo famílias.

A “lei da palmada” é gramsciana em cada vírgula. O objetivo da então deputada federal Maria do Rosário era simplesmente o de doutrinar os pais sobre a criação de seus próprios filhos de acordo com os “novos valores” dos que sonham com “outro mundo possível”.

Aliás, a oposição à famigerada lei veio da sociedade civil, nas vozes de pais e mães indignados, e só depois foi encampada por parlamentares evangélicos. Não fosse pela pressão, a lei teria recebido o mesmo apoio acrítico empenhado por eles no teatral combate ao bullyng.

Todo poder ao Estado

A adesão involuntária da bancada evangélica ao projeto gramsciano de estatização das famílias confirma que a esquerda brasileira se saiu vitoriosa no campo cultural. Praticamente todos os segmentos da sociedade aceitam o Estado como uma espécie de “pai-provedor” coletivo.

A falência em curso da família abriu verdadeiros rombos no tecido social, os quais vêm sendo ocupados pelas burocracias do aparelho estatal. Primeiro os engenheiros sociais atacaram sistematicamente a família; agora vendem soluções mágicas estatais para corrigir toda sorte de anormalidade social causada pelo ocaso da instituição primaz da sociedade.

Por medo de desafinar no coro dos contentes ou por simples despreparo intelectual (quantos leram Gramsci?), os parlamentares evangélicos embarcaram na utopia perversa que coloca o Estado como centro absoluto da vida social, esmagando sociedade, estatizando a família.

É claro que esse Estado todo-poderoso é um reservatório de boas-intenções: se ele interfere até na educação familiar é porque sabe o que é melhor para os nossos filhos mais do que nós mesmos. Em Brasília abundam as boas-intenções. Dizem que também no inferno.

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