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A esquerda dentro do PSDB

Estava certo Eduardo Jorge (candidato do Partido Verde à Presidência da República) quando disse que PT, PSB e PSDB “fazem parte da mesma família socialista”, embora estabeleça algumas diferenças entre o Partido dos Trabalhadores e o Partido da Social Democracia Brasileira. O fato principal da discussão – e que veremos de forma breve neste artigo – é que o PSDB possui fortes raízes na Social Democracia com tendência à centro-esquerda. Aliás, a própria origem e composição do quadro político do partido tendem a demonstrar a veracidade do que o presidenciável pelo PV declarou de forma espontânea por ocasião do encontro com Aécio Neves. Vamos aos fatos.

Origem

Fundado em 25/06/1988 por Fernando Henrique Cardoso (FHC), o PSDB surgiu a partir de reflexões de vertentes democráticas do socialismo e da luta por igualdade social pregada pelo comunismo. A própria origem da Social-Democracia, aliás, tem ligação com o Partido Social-Democrata Alemão. É a partir de então que diversas vertentes da Social-Democracia alemã são abertas por toda a Europa e América Latina. Eduard Bernstein (1850-1932) foi um dos idealizadores do movimento embora tenha feito duras críticas ao Marxismo. Apesar das críticas, Bernstein parte do socialismo científico para desenvolver seu pensamento social-democrata. É, portanto, a Social-Democracia uma ideologia de esquerda que busca a igualdade de direitos via uma gradual reforma do sistema capitalista. FHC, ao adotar o título para compor o Partido da Social Democracia Brasileira dá claros sinais de sua propensão à centro-esquerda ou esquerda de forma clara e literal.

FHC e Aloysio Nunes

Duas figuras em especial devem ser tomadas nesta análise: Fernando Henrique Cardoso e Aloysio Nunes. O primeiro, sociólogo, é declaradamente de esquerda e o principal mentor da ideologia e formatação do PSDB. Em encontro realizado com intelectuais no Rio de Janeiro (8/4/2014), FHC declarou sem titubear: “Hoje, se disser que sou de esquerda, as pessoas não vão acreditar. Embora seja verdade. É verdade!” (Folha de São Paulo). Ainda convém destacar que, além de fundador do PSDB, FHC fez parte do grupo de resistência à Ditadura Militar Brasileira. Segundo um registro disponível no Serviço Nacional de Informações (SNI), datado de 25 de agosto de 1975, FHC é descrito como “reconhecidamente comunista”. O hoje candidato à vice-presidente na chapa encabeçada por Aécio Neves, Aloysio Nunes, teve maior participação na resistência do que FHC. Da militância política iniciada na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, em 1963, Nunes ingressou no Partido Comunista Brasileiro um ano depois. Posteriormente Nunves ingressou na Ação Libertadora Nacional (ALN), “organização guerrilheira liderada por Carlos Marighella e Joaquim Câmara Ferreira, o Toledo”, segundo Luis Maklouf Carvalho em “Golpe levou Deputado às Armas: Ditadura marcou vida do ex-guerrilheiro que hoje quer reformar a democracia” (1999).

Relação com Venezuela e Cuba

Em meio a polêmica em torno do porto de Mariel – construído pelo governo federal com recursos do BNDES – surge a informação de que Fernando Henrique Cardoso teria sido um dos primeiros presidenciáveis brasileiro a conceder empréstimos exorbitantes a Venezuela de Hugo Chávez e Cuba da família Castro. De acordo com registros disponíveis nos arquivos do BNDES – relatório de atividades 2000 – foram investidos na construção da linha IV do metrô de Caracas US$ 107,5 milhões. Em Cuba, segundo o relatório, pelo menos US$ 28 milhões foram alocados na exportação de ônibus de turismo e urbanos para Cuba. Veja, a seguir, dois recortes do relatório do BNDES.

Venezuela: “Projeto da Linha IV do Metrô de Caracas (Construtora Norberto Odebrecht S.A.) – Construção do primeiro trecho, com extensão de 5,5 km. O investimento total do projeto soma US$ 183 milhões, sendo o financiamento do BNDES de US$ 107,5 milhões, correspondentes a 100% das exportações brasileiras de bens e serviços e ao seguro de crédito às exportações.”

Cuba: ““(…) o apoio do BNDES a exportações de ônibus de turismo e urbanos para Cuba somou cerca de US$ 28 milhões. Cabe destacar o financiamento concedido para a aquisição de 125 ônibus Busscar com mecânica Volvo, utilizados na dinamização da atividade turística desse país, no valor total de US$ 15 milhões”.

As informações em destaque são de domínio público, disponíveis no link – http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Arquivos/empresa/RelAnual/relato00.pdf.

Palavras-chaves para consulta: Cuba, Caracas.

Projetos populistas

Apesar das críticas ao Partido dos Trabalhadores e tendência ao liberalismo econômico, o PSDB é marcado por projetos populistas, a exemplo do Bom Prato, Poupatempo,  Dose Certa, Vence do PSDB São Paulo. Um dos programas vitrines de FHC, o Bolsa-escola – posteriormente anexado por Lula ao Bolsa Família – foi implantado originalmente em 1995 em Campinas, pelo tucano José Roberto Magalhães Teixeira. Seis anos depois foi adotado pelo governo de Fernando Henrique Cardoso. O autor do projeto foi o socialista Hebert José de Souza, o Professor  Betinho.

A composição PSB-PSDB

Carlos Siqueira, novo presidente do Partido Socialista Brasileiro, declarou recentemente que a ideia por trás da aliança é “puxar o PSDB para a esquerda“. A guinada do Partido Socialista Brasileiro rumo aos sociais-democratas começou com a composição da chapa paulista Márcio França (PSB) e Geraldo Alckmin (PSDB) e, no plano federal, o recente apoio de parte das lideranças do PSB ao tucano mineiro Aécio Neves, parece indicar o deslocamento do PSDB mais à esquerda. É um fato incontestável do ponto de vista histórico e contextual que coloca na mesma balança PT e PSDB.

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Resposta

Em resposta ao nosso amigo Tiago Cortês – com referência ao fenômeno do Welfare State – por hora cabe lembrar que a Suécia é um dos melhores exemplos de funcionamento de um Estado, com justiça social e crescimento econômico. Está no topo do Ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 2014, por motivos que passam pela excelente rede de assistência médica, educacional, de segurança pública e mobilidade urbana. Saúde e Educação não são programas assistencialistas, mas direitos reconhecidos internacionalmente, desenvolvidos historicamente.

Convido os leitores a apreciarem nosso artigo “O sucesso do Estado de bem-estar social” – http://colunas.gospelmais.com.br/o-sucesso-estado-de-bem-estar-social_10239.html.

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