A curta e desafortunada carreira no universo gospel legou-me algumas vivências interessantes e aprendizados profundos que me ajudaram a compor muito de minha teologia.
Observando o segmento, uma das primeiras coisas que aprendi foi que as bandas e ministérios que mais tocavam nas rádios evangélicas, não eram as que tinham o ‘vinho novo’ para compartilhar (como me disseram), mas sim, as que tinham condições financeiras para bancar sua publicidade, ou seja, a execução de suas músicas, o chamado jabá.
Com o tempo, aprendi que aquilo era uma prática execrável, mas não era só isso!
Vi que em nosso meio utilizava-se uma série de ferramentas, ligadas à propaganda, para que produtos e serviços chegassem ao conhecimento dos irmãos, com o objetivo de se alavancar e fechar bons negócios. Nada de errado nisso, não fosse a larga utilização do “migué” nas propagandas dos produtos cristãos.
Sério mesmo, eu achava que a rádio cristã tocava aquilo que era considerado bênção e que o sucesso de um ministro era proporcional ao nível de unção que Deus havia derramado sobre aquele vaso. Devia ter vergonha de escrever isso, mas não. Eu acho até engraçado.
Entendi que as ‘coisas’ são assim e que a comunicação dos tempos modernos se dá com o intuito de tornar algo atraente para que possa vender e cada um de nós deve ser capaz de diferenciar o falso do verdadeiro, em nós mesmos e nos outros.
Sim, é um sistema de mentiras e a Verdade deve ser revelada no interior de cada pessoa!
Imagine ‘qual não foi minha surpresa’ quando comecei a conhecer pessoalmente os artistas famosos do meio, concluindo que, de fato, o Photoshop faz verdadeiros milagres.
Não acreditava e ainda não acredito que filhos de Deus, cristãos, como representantes da Verdade que são, deveriam utilizar o “migué” em proporções tão descaradas, mas…
O universo virtual é outro meio no qual se pode pregar qualquer coisa que um monte de gente engole. Ali fica evidente o volume de personalidades fake que abarrotam a rede social em todas suas ramificações. Um monte de crente caiu na conversa da Irmã Zuleide, que na verdade é um cara, por exemplo.
Bandas, músicos, pensadores, pregadores e avivalistas são criados diariamente nessa esfera e do dia pra noite angariam milhares de seguidores no Twitter, Youtube, Facebook, Instagram…
Não há obra, não há feito, somente uma grande e poderosa estratégia de marketing, geralmente carregada de sofismas que transformam estupradores em pregadores cheios de poder, composições teologicamente fracas em verdades de grande sucesso, reverberadas em igrejas e programas de TV Brasil e mundo afora.
Jesus disse que com uma pequena fé poderíamos realizar grandes coisas e a igreja deste tempo nos ensina que com um pequeno “migué” também.
Afinal, o que é mais fácil: usar a fé ou o “migué”?
Ambos são admiráveis, pois removem montanhas. O primeiro transpõe barreiras e nos torna fortes o bastante para permanecer fiéis aos princípios, mesmo que estejamos fracos. Já o outro, melhora nossa imagem, nos fazendo ficar bem na foto mesmo que sejamos feios e incapazes.
Pelo Espírito devemos discernir o falso do verdadeiro, é fundamental isso.
Na Bíblia, as profecias nos exortam a não nos deixar enganar por quem quer que seja.
Talvez a banda mais tocada não seja a bênção que aparenta ser, nem a voz do cantor é verdadeira, tampouco aquele rosto imaculado das fotos do encarte do CD. Nos sites da internet, só se propaga o que colabora para aumentar as vendas… portanto, utilizem o dom que o Espírito concedeu à igreja para situações como estas: o discernimento.
Nele, poderemos enxergar as coisas da perspectiva do Senhor e decidir se queremos ou não ser enganados!