O movimento dos ‘sem igreja” cresce notavelmente. Não é um movimento rebelde ou mesmo prepotente. Em sua grande maioria, as pessoas que aderem a este estilo de vida se declaram cristãos, praticam os ensinamentos do evangelho e teologicamente não se diferenciam da maioria das denominações em nosso tempo, apenas decidiram viver suas vidas a parte de qualquer estrutura religiosa, inclusive das igrejas institucionais que passo a chamar aqui de igreja local.
Compreendo claramente seus anseios, que é basicamente experimentar um relacionamento com Deus e com seus irmãos da fé sem filiação formal a uma estrutura que pode roubar-lhes a espontaneidade e lançar-lhes num ambiente vazio e sem significado chamado religiosidade. É um caminho. É preciso respeitar. Os chamados Pais da espiritualidade já fizeram isso há muito tempo. Se estão certos ou errados, o tempo vai dizer.
Mas enquanto o tempo não julga, quero refletir sobre o tema. Seria esta a via mais correta? Como pastor de uma igreja local já podem imaginar que minha resposta é não. Mas não é apenas por isso e sim porque realmente creio na igreja, não apenas na invisível e intangível, que prescinde de placas e CNPJ, mas na visível, estruturada, institucional e por isso criticável. Os riscos de se pertencer a uma igreja local são imensos, afinal seremos expostos a uma série de compromissos que não estão nas Escrituras. São convenções humanas que foram estabelecidas para o bom convívio. Ou você já achou na sua Bíblia que o culto deve começar as 10h da manhã de domingo logo após a EBD? Relaxe! Sim, é uma estrutura humana que é organizada por pessoas que falham e estão sempre se corrigindo e pedindo perdão.
Um dos textos que mais gosto sobre o tema é quando Paulo fala que é necessário que existam divisões dentro da igreja:
Em primeiro lugar, ouço que, quando vocês se reúnem como igreja, há divisões entre vocês, e até certo ponto eu o creio.
Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados.
1 Coríntios 11:18-19
Não, não estou defendendo rebeldia ou mesmo partidarismo. Mas o que penso ser lindo na reflexão de Paulo é que na igreja existe algo mais profundo do que nossos gostos pessoais, e haverão divergências em todo o tempo! E é neste momento que teremos a oportunidade de exercitar este algo mais profundo que é o amor ao próximo, no caso seu irmão dentro da igreja, atitude que o Paulo vai chamar de APROVADO.
Como experimentar isso sem se comprometer com estruturas? Sim, estruturas cheias de falhas e defeitos. Que muitas vezes é o ambiente da graça, mas às vezes não. Mas é lá que temos a oportunidade de sermos provados e aprovados. É fato que muitos que estão dentro das igrejas locais hoje não tem este tipo de senso crítico e passam a idolatrar as estruturas e fazem dos seus ritualismos a sua fé, por isso experimentam uma fé vazia e sem sentido, que os “sem igreja” abominam e eu também.
Mas é também lá na instituição que sou semanalmente incomodado a me adaptar ao programa de ensino da igreja, aos horários da igreja, as regras humanas da igreja e as pessoas que compõem a liderança da igreja. Isto tudo me ajuda a pautar a minha vida e cria um espelho de como anda a minha fé. Você talvez diria que deveríamos poder viver sem estruturas e numa fé simples e sem igrejas locais formais. Quem sabe um dia, quando nossa fé for suficiente, por enquanto, vamos ficar com o conselho do escritor de Hebreus:
Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês vêem que se aproxima o Dia. Hebreus 10.25
pr Osmar