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Pichação é crime, pois constitui-se em depredar patrimônio público. Ainda que com a intenção de arte se ocorrer sem permissão das autoridades competentes é delito. A imagem pública dos evangélicos neste país também sobre algo parecido como uma pichação ideológica e até moral. Nos atacam porque fornecemos muitos motivos e não nos levam a sério porque a maioria de nós não faz a metade do que professa como crente. Maus exemplos nos envergonham a todo o momento e o que fazer?
Do ponto de vista espiritual o século XXI não é um tempo de luz e sim de densas trevas. Parece que estamos no crepúsculo da autêntica vida cristã e no obscurantismo da genuína igreja. Ao passo que sutilmente se configura no ocidente uma perseguição filósofica contra os fundamentos do cristianismo e sua representação humana – i.e aquele que se professa como fiel seguidor de Cristo. A igreja brasileira através de seus crentes, infelizmente tem espalhado tinta negra sobre a superfície de um protestantismo confuso, omisso, ideologicamente segregado, doutrinariamente sectário, pouco fundamentado nas Escrituras, nutrido as vezes por aberrações e lembrado por maus exemplos de seus outrora maiores representantes. Atravessamos uma época carente por uma igreja profética e relevante para uma geração contestadora e desiludida com os representantes do cristianismo.
Do ponto de vista eclesiológico notamos entre algumas igrejas evangélicas uma “evangelização horizontal” que parece não se preocupar em arrolar convertidos no Livro da Vida e sim para os relatórios de membresia e de contribuições das denominações emergentes. Os impérios eclesiásticos se orgulham de seu crescimento numérico e poder financeiro e mesmo assim nunca se viu tamanha pequenez da caridade cristã. Se todos esses milhões investidos em programas de rádio, TV e para a construção de mega-templos fossem canalizados para minorar o sofrimento de gente necessitada – a tal evangelização seria mais eficaz e convenceria muito mais “gente perdida”. Essa catequese que orienta servir a Deus com foco em contribuições para as “obras da igreja” e que subtrai partes do Evangelho não é um discipulado completo da vontade de Deus para os homens.
Do ponto de vista bíblico a vaidade não é apenas um distanciamento do que realmente tem valor, é também a peçonha do pecado inculcada na velha natureza humana que quando não contida faz ressurgir o pior de nosso eu através de futilidades e extravagâncias ímpias. Dentro do cosmos evangélico também há vaidade entre pastores, reverendos, bispos e apóstolos; é o estrelismo de alguns, o narcisismo de outros e a esculpida aparência de perfeccionismo da maioria que se acha melhor que os demais. Muitos desses homens têm deixado de apresentar a Cristo e passaram a pregar suas placas denominacionais, seus ministérios eclesiásticos e a própria liderança personalista. Fizeram atalhos, construíram viadutos e estenderam pontes sobre o único e verdadeiro caminho. Dessa forma o pecador continua perdido diante de tantas encruzilhadas e desvios que lhe são apresentados antes da graça da vida eterna oferecida por Jesus Cristo.
Do ponto de vista da vida cristã louvar a Deus é uma das mais significativas expressões da adoração a Deus, ainda mais para aqueles que se intitulam “cantores”. Entre os tais, há aqueles que ao “louvarem” passam uma mensagem contra a televisão, mas quase não perdem um capítulo da novela das nove (hipócritas); tem os que cantam contra as redes sociais, mas as utilizam para se promoverem com páginas gigantescas de seguidores (enganadores); os que admoestam multidões e depois se prostituem no oculto de seus encontros íntimos e secretos (infiéis). A perdição se arreganha num horizonte cinzento em que a falta de temor a Deus e o compromisso com a Palavra de Deus envolvem a esses para a emulação da vida cristã. Chega um momento para muitos “levitas” que descer do pedestal é prejuízo para a posição e o status de “ungido” é mais importante que a própria salvação; é como uma grande cova de boca larga e que tem como entranhas o abismo da própria danação.
Do ponto de vista soteriológico parece que aquele evangelho transformador que conhecemos há 20 anos foi vencido pelo poder de iluminação e emancipação do homem, trazidos pela pós-modernidade e assentamento do século XXI. Esse “evangelho atual” é fraco, ralo, sem gosto e sabor – é realmente sem graça. Geralmente prega-se o que gostamos de ouvir, não somos confrontados, doutores nos apascentam no que parece ser o aprisco de nossos desejos, sonhos e preferências – deve ser por isso que estamos tão perdidos. O céu nunca se pareceu tanto com a terra, na verdade nem pensamos mais no céu prometido por Jesus – afinal é tão bom aqui. E se algum “fanático”, “fundamentalista” e “careta” vier com esse papo de renúncia, de ser diferente do mundo, estamos prontos para ignorá-lo e continuar vivendo o “nosso evangelho”, seguindo a nossa compreensão da verdade – pois agora todos pensam, não somos bitolados e é por isso que tudo está tão bom (coitados de nós).
Do ponto de vista prático o evangelho que vivemos às vezes é muito teórico e firmado em conjecturas infelizes e distantes da realidade do Evangelho de Cristo. A pichação do evangélico no Brasil não é apenas feito por uns bispos, apóstolos, pastores e cantores da mídia que às vezes dão exemplos destoantes, nós também participamos efetivamente para o bem ou para o mal desse tão grande serviço. Como temos testemunhado em nossas igrejas, casas, vizinhança e sociedade geral? Temos fornecido as credenciais do amor, perdão, fé, esperança (que são virtudes cristãs), ou temos comprometido o nosso próprio testemunho com mentiras, intrigas, brigas e tantos outros atos ímpios? A grande questão para o cristão não é apenas sua fé declarada em Cristo e sim sua vida comprometida e ligada a Ele!
Vamos repassar uma demão de arrependimento e outra de recomeço, utilizemos a cor escarlate do sangue de Cristo que nos purifica de todo o pecado; onde há pichação que espalhemos com o testemunho renovado uma nova camada de fé, com cores de transformação e credibilidade. Que Deus nos abençoe!