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Dois tiozões no retiro de jovens – Rock no Vale

Neste fim de semana fui com um velho amigo a um festival de música cristã. Lá pudemos ver algumas bandas bem legais que têm emergido desse meio nos últimos tempos.

Muito bom ver esses músicos em ação, diante de um público vibrante, uma mulekada bem nova que tem curtido música de uma forma bem diferente de como os crentes faziam tempos atrás, me parece uma postura mais madurecida artisticamente e um tanto menos espiritualizada.

Tenho certeza que pra todas as bandas que subiram no palco do evento foi uma experiência interessante.

No local, onde a natureza e a estrutura reservam experiências bem bacanas, havia um palco alternativo e um palco principal.

(No sábado – dia que eu pude ir – tocaram quatro bandas no palco alternativo, entre elas Crombie e Mahmundi).

Crombie deu um show ali, tocando sua música popular brasileira contemporânea, acompanhados pela incansável platéia que entoava todas as canções da banda, mesmo dentro daquela caixa fechada hermeticamente, cuja temperatura ambiente beirava os 40 graus (maldito forro de brazilit).

Um detalhe importante é que o som ali dentro não estava legal!

Quanto a Mahmundi, particularmente, gosto demais! Do som, da ousadia por trafegar em estradas bem pós modernas, misturando loops eletrônicos bem singelos ao som de sua telecaster clean e um contrabaixo bem marcado.

Não foi um show empolgante, porque o som dela não tem essa pegada de empolgação mesmo, sendo algo mais intimista, do que um show propriamente.

Mas ela é uma jovem de grande talento musical, uma voz delicada e faz letras muito interessantes.

Dos outros shows que rolaram no palco alternativo, não vi. O calor era muito forte e o tiozão aqui desistiu! Mas pude ouvir um pouco de uma banda que emendava em alguns mantras e lances assim, coisa meio teatral. O povo gostou muito deles. Descobri que se chamam {Sí}monami – vamos ficar atentos ao que vem por aí dessa turma de Curitiba!

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O palco principal – ah, o palco principal – parecia mais um palanque de quermesse! Jesus Cristo, gente – evento com banda internacional…

Ocorreram tantos problemas com o som, que as passagens duravam horas, mas pense em horas… tipo, muitas horas mesmo.

Era um som e um palco muito mais ou menos para quem tem as pretensões de “O maior festival de música cristã do Brasil”.

Tem mais, havia alguma coisa errada naquele som, ou era uma uruca da braba, pois todas as bandas tiveram problemas ao tocar.

A mim parecia que eram cabos, cabos ruins, muitos ruídos. O som do baixo no PA soava como baixo de galão de água.

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Sobre as palestras, não posso falar quase nada, pois só ouvi fragmento de uma que versava sobre um assunto pouquíssimo interessante, ate meio estranho, tipo filhote de cruza de sustentabilidade + ecologia + (uma visão metafórica de) ‘Reino de Deus’, que geraram no mínimo um ser bizarro, filhote de cruz credo gospel pós-moderno!

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Já as bandas que subiram ao palco principal, valeu!!

O Gungor que fecharia a noite de sábado, acabou começando. Sim porque a hora já era avançada e eles tiveram um trabalho imenso pra conseguir dar um padrão razoável ao som (foi o que me pareceu, se eu estiver errado, logo saberei).

Mas que show, minha gente! Que músicas lindas, que excussão, que guitarrista, que vocais… excelente!

Curtam Gungor, eu já baixei o disco Beatiful Things e é ótimo. Planejo comprar!

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Logo depois, Tanlan, com aquela responsa violenta de tocar após um show muito forte, gringo, mas eles foram valentes e não deixaram a peteca cair.

Detonaram a seu estilo, falaram e tocaram seu som – um rock gaúcho autêntico – com aquele vocal meio Teddy Correa do Fabio Fábio Sampaio e os músicos alinhados demais, guitas lindas, bem tramadas.

Foi ótimo, embora tenham ocorrido muitos problemas com o som, mais uma vez.

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Depois, Livres – gosto do Livres com aquela pegada sonora meio espacial. Notei que Juliano Son está se parecendo muito com uma entidade espiritualista, que pode ser arrebatada ou levitar a qualquer momento, diante de nossos olhos, no meio daquela nuvem sonora pré-programada.

Seus músicos de apoio logo receberão o título de mais posers da cena gospel.

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Por fim, Palavrantiga. Que banda mais simpática, sobre tudo aquele vocalista deles. O cara é um louco completo (no melhor dos sentidos), se não fosse crente, arriscaria que usava tóxicos (kidding).

Ele botou fogo na turma, arrebentou mesmo diante do público que ficou firme até ás 4:30 da manhã, quando terminou seu show.

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Gostei demais de tudo o que rolou a nível musical ali no evento! Muito mesmo!

Estava com saudades de ouvir e ver gente bacana tocando músicas autorais em alto nível! Valeu demais…

No entanto:

– O lance de se fazer um festival naquele local, “Jovens da Verdade” tem altos e baixos (literalmente). Pra mim que sou um coroa sedentário, aquela montanha íngreme é uma tarefa árdua de ficar subindo e descendo – sobre pra comer, desce pra ir no banheiro, sobre pra ir no palco B, desde pro Palco A etc.

– O local não oferece uma estrutura pra um palco maior, diante do qual se reúna mais gente. Se há a pretensão de ser um festival perene, então, algo terá que ser mais bem pensado.

– Aquele lance de comida só pra quem está acampado é uma coisa muito chata. Eu queria jantar e não pude e o que restou foi comer cachorro quente ou sanduíche natural (caros, aliás).

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No mais, centenas de jovens bonitos, amantes de música legal, descolados mesmo, todos invariavelmente interligados pelas redes sociais com smatphones que cintilavam em meio a pequena multidão. Foi legal mesmo!

Outro detalhe foram as camisetas – aquilo sim dava um tratado sociológico – cada um com sua estampa, sua mensagem, sua bandeira gravada no peito da camiseta. Tinha de tudo, foi muito instrutivo ver aquilo!

Outra coisa que me trouxe certa estranheza foi o fato de um lugar onde funciona uma faculdade de teologia, que estava povoado de cristãos (conforme acusavam as camisetas), ter ouvido pouquíssimo ouvi o nome ‘Jesus’. Na verdade nem sei se realmente ouvi essa expressão lá. Acho que saiu de moda! Talvez falar assim tão abertamente de Jesus “não agregue valor ao camarote”, frase que ouvi ser repetida em vários grupinhos que se formaram na extensão de fartos gramados que haviam do local.

Na hora confesso que estranhei, senti falta de Jesus. Já que era um retiro cristão – e não um show de música cristã, como eu achava que seria – pensei que ouviria mais dessa figura nas conversas, na palestra e nos palcos.

Contudo, enquanto voltava pra casa, lembrei: “ah, é só uma extensão dessa igreja pós-moderna, relevante, emergente, politicamente correta, ultra domesticada, então, normal que o Jesus que eu esperava ver não teria nada com aquilo”.

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