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Distante do Trono: Confissões de um Ex-valadete

Por Igor Sabino, 18 anos, Estudante de Relações Internacionais da UEPB

Durante muito tempo relutei em escrever esse texto, não por vergonha ou por não querer reconhecer meus erros, mas por medo de ser incompreendido e magoar pessoas que amo e respeito. Porém, não posso mais guardar essa experiência apenas para mim. Espero que este não seja apenas mais um desses textos de “apologética” que mais parecem textos de fofoca gospel. Quero compartilhar minha experiência, pois realmente me preocupo com os milhares de jovens que hoje fazem parte do movimento “Gospel” brasileiro e que sequer conhecem o Evangelho verdadeiro e caminham para o inferno.

Minha experiência com a cultura Gospel começou cedo. Nasci em um lar cristão e quando ainda era uma criança o Evangelho fez sentido para mim. Sempre gostei muito de música e comecei a me envolver com o Gospel através dos CD’s infantis do Diante do Trono que eram lançados anualmente. Ao me tornar pré-adolescente, comecei a buscar alguns referenciais em minha caminhada cristã e foi aí que entrei de vez no mundo Gospel. No início, eu ouvia apenas Diante do Trono. Naquela época as músicas do DT ainda eram tocadas com muita frequência nas igrejas e como a internet ainda não era muito acessada ninguém aqui na Paraíba sabia ao certo o que acontecia na Lagoinha. Hoje vejo que muito do que a Ana Paula Valadão prega e faz o que considero errado teologicamente, já era praticado por ela há muito tempo atrás. Foi aí que virei, digamos um “valadete”, embora não goste muito de usar esse termo, pois nunca cheguei a extremos que hoje vejo os fãs do Diante do Trono fazerem.

“Valadete” convicto

Eu sabia todas as músicas, é verdade, mas não era desses de gastar dinheiro com produtos do DT ou ir a todos os shows onde quer que fossem. Eu mesmo nunca fui à BH, tampouco conheço a Lagoinha, a “meca” dos “valadetes”. Ao longo dos dez anos em que acompanhei o DT só participei de 2 gravações e fui a 3 shows, todos aqui no Nordeste. Hoje ao olhar para isso percebo com mais clareza o que me levou a me envolver tanto com o Diante do Trono. Eu realmente amava a Deus e tinha sede por Ele, ao mesmo tempo era um jovem adolescente em busca de referenciais e deslumbrado com o mundo da música e da fama. O que me fez buscar na Igreja aquilo que via meus colegas de escola buscando no mundo, em seus ídolos musicais. O Diante do Trono, era na verdade, uma grande fuga para mim, em uma série de aspectos.

Essa minha relação com o DT começou a mudar de uns dois anos para cá. Mesmo tendo frequentado uma Igreja Presbiteriana desde de criança só então tive contato de verdade com a teologia reformada. Mas por estar em contexto pentecostal, não aceitei tudo de primeira. A partir desse momento, comecei a ver o quanto a cultura Gospel aqui no Brasil se distanciava cada vez mais do Evangelho verdadeiro. Comecei a perceber o quanto o culto estava virando um show e quis me distanciar disso. Fui a alguns shows do Diante do Trono durante esse período e mesmo reconhecendo a idolatria que mantive por eles durante tanto tempo (e me arrependendo disso), já estava apegado demais à “adoração profética”; espontânea. Gostava daquele ambiente em que se repetia diversas vezes as mesmas frases de uma música e de repente Deus “começava a falar”. Palavras proféticas eram liberadas às nações e eu me emocionava. Achava que aquilo realmente era bom.

Viciado em “Adoração Espontânea” 

Foi nesse momento em que o DT se tornou insuficiente para mim. Eu queria mais daquilo, eu queria “experimentar” a presença de Deus. Foi aí que descobri a indústria Gospel americana. Aprendi a falar inglês e assim como hoje, meu coração possuía um forte desejo de ser missionário, de influenciar a sociedade com o Evangelho e mudar o mundo! Foi exatamente isso que encontrei em movimentos como o Jesus Culture e a Bethel Church. Só que isso nunca era suficiente para mim. Sempre queria mais e foi aí que a “adoração” se tornou um vício para mim. Eu baixava um novo CD em inglês de “adoração” praticamente todo dia. Nesse período eu nunca deixei de ler a Bíblia, mas ainda assim não conseguia enxergar o meu erro. Necessitava diariamente de um novo hit, de uma nova canção de adoração para “experimentar” a presença de Deus, mas quanto mais eu buscava a Deus dessa forma mais eu me distanciava d’Ele.

Até que nessa minha busca por “adoração” comecei a ler um livro escrito pelo Zach Neeze, um pastor da Gateway Church dos Estados Unidos. Embora ele não seja um autor reformado, nem defenda o princípio regulador do culto, encontrei em suas palavras exatamente a resposta para o que eu estava vivendo. O Zach fala que o movimento de “adoração” está cada vez voltado para nós mesmos, para os nossos gostos e preferências e é por isso que muitas músicas aparentemente voltadas para Deus, tem o intuito de satisfazer apenas o homem. É aí que nos tornamos idólatras de nós mesmos. Após terminar a leitura, percebi que muitas coisas estavam erradas em meu coração, foi aí que me lembrei de uma outra pregação do Zach Neeze aqui no Brasil, em um congresso do Diante do Trono no ano passado.

Cheio de Adoração, mas Distante do Trono

Essa pregação se encontra no Youtube e nela o Zach se utiliza de uma mesa cheia de objetos aparentemente lícitos para explicar o seu conceito de adoração com base atitude de Jesus ao entrar no templo e virar a mesa dos vendedores no templo. Segundo o Zach, adoração é virar as mesas dos nossos corações e tirar tudo o que nos afasta de Deus, até as coisas lícitas, até a “adoração”, em meu caso. Depois disso comecei a pedir a Deus que me mostrasse o que me afastava d’Ele e como eu poderia virar as mesas do meu coração. Confesso que não foi fácil descobrir isso, mas agradeço a Deus por ter me respondido de uma forma que eu nunca poderia imaginar. Lembro-me de alguns dias depois ao me aconselhar com meu pastor sobre outros problemas que vinha enfrentando, algo aparentemente sem nenhuma ligação com isso, o primeiro conselho que ele me deu foi: pare de ouvir as músicas que você tem ouvido, até mesmo as inglês. Desde então, um longo processo se iniciou em meu coração e aos poucos fui percebendo o quanto estava Distante do Trono, mas agradeço a Deus por ser fiel em completar a obra que Ele mesmo começou em mim!

Um culto cada vez mais feminizado

Por fim, gostaria apenas de fazer alguns esclarecimentos com relação à Ana Paula Valadão e aos chamados “valadetes”. Em primeiro lugar, gostaria de esclarecer que em momento algum julgo o coração da Ana Paula ou de qualquer outra pessoa do DT. Ao contrário, creio realmente que eles são crentes fiéis, mas que infelizmente tem trilhado um caminho que embora lhes pareçam bom, não é. Como diz Provérbios 16.2, “Todos os caminhos do homem lhes parecem puros, mas o Senhor avalia o espírito.” Digo isso com base em minha própria experiência acima relatada. Vemos um exemplo claro disso em 2 Samuel 6, quando Davi ao levar a Arca. Embora achasse que estava adorando a Deus de forma correta não estava e trouxe morte ao invés de vida para aqueles que estavam ao seu redor. Infelizmente é isso que tem acontecido com o Diante do Trono.

Milhares de jovens tem seguido a Ana Paula Valadão não para adorar a Deus, mas sim para adorar a ela. A Ana infelizmente não passa de mais uma celebridade gospel, venerada por milhares de jovens. Muitos dos quais não tem referenciais fortes de masculinidade e acabam contribuindo para um culto cada vez mais feminizado e distante dos referenciais bíblicos. Não é à toa que tantos gays seguem o Diante do Trono…

Pelo fim da Cultura Gospel

Faço das palavras do Rodolfo Abrantes na Lagoinha as minhas, e realmente oro a Deus pelo fim da cultura Gospel, pelo fim do mercado Gospel, pelo fim dos cantores Gospel. Oro para que o Evangelho verdadeiro seja pregado no Brasil. Oro para que o show acabe e que Deus seja cultuado da forma que Lhe apraz, não satisfazendo nossas vontades. Oro para que os jovens evangélicos realmente conheçam o Evangelho e se deixem transformar por Ele. Oro para que a “adoração” deixe de ser um ídolo em nossas igrejas. Oro para que outros jovens assim como eu, reconheçam o seu pecado e o deixem.

 

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