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A crítica de Ariovaldo Ramos às investigações da Lava-Jato sobre Lula tem razão de ser?

Os escândalos de corrupção envolvendo os governos do Partido dos Trabalhadores, expostos através das investigações da Operação Lava-Jato, têm causado grande trauma na política brasileira, uma vez que os índices de reprovação dos representantes populares eleitos a cada dia superam os recordes negativos anteriores. Mas também tem causado grande celeuma entre os evangélicos.

Recentemente, o pastor Ariovaldo Ramos – a quem muito admiro como ministro da Palavra – protagonizou um capítulo de histeria. Ramos é adepto da ideologia socialista, tem histórico de associar as boas ideias de evangelismo da Missão Integral com seu pensamento político, e por vezes, causou polêmicas por essa postura.

Usando o Twitter, Ariovaldo – que integrou o chamado “Conselhão” do primeiro mandato do ex-presidente Lula – saiu em defesa do líder petista e da presidente Dilma Rousseff no caso do grampo, autorizado pela Justiça, feito pela PF.

“Estado de Direito já”, bradou o pastor, que pareceu ignorar a função garantida pela Constituição ao Poder Judiciário para investigar os cidadãos brasileiros, condição atual do ex-presidente, e criticou as investigações que vem esclarecendo aos brasileiros os desmandos da política em prol de um plano de poder criminoso traçado pela trupe de José Dirceu.

“O presidente não tem celular, a presidenta tem… Adivinha quem foi grampeado!”, escreveu Ramos, novamente alheio ao fato de que o perito Ricardo Molina, contratado pelo governo federal para analisar o grampo, constatou que a escuta havia sido feita realmente em um celular de alguém ligado a Lula.

Por último, Ramos teceu críticas ao juiz Sérgio Moro: “Aviso aos navegantes: juiz não pode desfilar de toga em passarela nem ser fofoqueiro!”.

Toda essa histeria causou grande rebuliço entre evangélicos, pois o pastor – defensor passional do PT – possui grande número de seguidores em suas redes sociais.

Ainda em seu campo de influência – conquistado ao longo de uma carreira de relevantes serviços prestados à causa do Evangelho – Ramos mobilizou um abaixo-assinado entre pastores e outras lideranças para pedir “respeito ao voto”. “Não concordamos que os ritos necessários para o juízo legal sejam adulterados apenas para atender ao clamor público”, diz o texto.

Novamente, sua indignação seletiva expõe a paixão partidária/ideológica do pastor, que enxerga a democracia como via de mão única, onde o eleito – quando abraça os ideais socialistas – deve cumprir seu mandato até o fim. Ora, o impeachment não é algo previsto na lei que rege o país e a própria democracia brasileira em si? Teria Ariovaldo Ramos esquecido que o PT apelou para pedidos de impeachment – todos rejeitados pelo Congresso Nacional – contra todos os presidentes que antecederam Lula?

O episódio de destempero do pastor Ariovaldo Ramos motivou diversos sites e blogs da comunidade evangélica brasileira a relembrarem um artigo, escrito pelo pastor presbiteriano Alfredo de Souza há oito anos, sobre a também guinada à esquerda de outro admirável pastor, Ricardo Gondim.

No artigo, que reproduzo na íntegra abaixo, Souza lamenta que formadores de opinião do universo evangélico brasileiro tenham trocado a orientação bíblica por uma ideologia que se apossa dos conceitos ensinados por Jesus de atenção e cuidado aos humildes para, uma vez no poder, estabelecerem-se como um distorcido paradigma político e democrático.

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Recentemente, um conhecido líder evangélico definiu-se ideologicamente da seguinte maneira: “Sou um pensador independente, de esquerda. Não acredito no neoliberalismo capitalista. Ele produz os excluídos. O Evangelho defende os pobres e os marginalizados”.

Causa-me espanto que um homem que se diz “de Deus” seja tão rápido em enfileirar-se nas trincheiras da teologia da libertação, como se ela se constituísse leitura fiel do Evangelho, sem, no entanto, aperceber-se das claras divergências entre ambos. Pelo menos foi o que ficou evidente.

Com base nesta percepção, gostaria de fazer as seguintes considerações:

  1. O Evangelho não está restrito a uma classe social. Uma das pessoas mais mal compreendidas do mundo é o Senhor Jesus. Em seu nome muitos abusos foram e ainda são praticados. Um deles é restringi-lo à pobreza e à miséria. Na verdade, o Evangelho não defende a pobreza, ele defende unicamente a glória de Deus e a vitória de seu Filho para a salvação dos eleitos, sejam eles riquíssimos, medianos, pobres ou miseráveis financeiramente. Nesse contexto há cinco considerações importantes. Em primeiro lugar, Jesus recebeu e conviveu com ricos, além de frequentar a casa dos publicanos, indivíduos censuráveis, não por terem recursos financeiros, mas pela maneira como enriqueceram. Em segundo lugar, o próprio conceito de pobreza não está restrito às posses materiais. Mt 5: 3 menciona acerca dos pobres de espírito, enquanto o próprio rei Davi, em meio à sua fortuna, afirmou no Sl 40:17: “Eu sou pobre e necessitado, porém o Senhor cuida de mim; tu és o meu amparo e o meu libertador; não te detenhas, ó Deus meu!” Em terceiro lugar, a defesa bíblica dos pobres ocorre no contexto da Aliança de Deus com o seu povo, ou seja, é o pobre crente que recebe as promessas dos cuidados divinos para a sua penúria. Em quarto lugar, o problema levantado pelas Escrituras não estava na riqueza, mas no apego a ela que promovia o orgulho, o egoísmo e o desprezo pelos necessitados. Em quinto lugar, condicionar as Boas Novas aos pobres, portanto, é permitir que a falta de recursos seja, em si mesma, santificadora do homem. O Evangelho não defende os pobres nem os marginalizados, pois o pobre sem Cristo será condenado, assim como o rico com Cristo será salvo.
  2. A esquerda é, em essência, contra a moralidade divina. A esquerda defende uma liberdade pecaminosa ao homem. Não importa se se trata do Democratic Party americano, do Bloco de Esquerda português, do Sozialdemokratische Partei Deutschlands alemão ou do PSOL brasileiro, o alvo principal é o mesmo. A luta em favor do aborto, do feminismo, do homossexualismo, do divórcio, da compartimentação radical da sociedade, do uso de células-tronco embrionárias etc. são claramente contra a Lei de Deus. Se, historicamente, alguns segmentos da direita cometeram abusos, os da esquerda, de igual modo, cometeram também. O que determina tal posição é o humanismo em detrimento do teísmo (o mesmo ocorre com a teologia relacional, o neopentecostalismo e, obviamente, a teologia da libertação).
  3. Toda cúpula governamental é abastada. Este é outro ponto que os esquerdistas não entendem. Os líderes da esquerda clássica vivenciaram a opulência e o conforto financeiro diante da miséria social. O próprio Fidel Castro é um exemplo clássico disso, sem falar de Hugo Chávez ou Evo Morales. Todos estão encastelados devorando faisões enquanto seus patrícios morrem por migalhas. Mas não são apenas estes que vivenciam o usufruto de bens materiais, até mesmo os homens de Deus sérios que ocuparam cargos públicos gozaram da riqueza e do conforto como foi o caso de Davi, de Salomão, de José e de Daniel.
  4. Cuidar dos pobres é uma parte do cumprimento da Lei. Há vários textos que alertam o crente quanto ao cuidado aos necessitados. Mas isto não ocorre para que haja uma transformação social radical. Isto é utopia. Aliás, “nunca deixará de haver pobres na terra” (Dt 15: 11). A responsabilidade do crente está em partilhar daquilo que Deus concede generosamente, pois nada é nosso, tudo é dele. A riqueza não deve embrutecer ou criar a sensação de autossuficiência, pois em tudo dependemos da graça. Por isso, somos obrigados a servir ao próximo, inclusive com o bolso. É nesse contexto que o Evangelho promove mudanças na sociedade, embora isso não seja o alvo principal.

Além de tudo o que acima foi exposto, é preciso ressaltar que o esquerdismo manifesto na Teologia da Libertação lê as Escrituras com um programa de mudança social, isto é, a interpretação que ela faz do Evangelho pretende ser apenas uma justificativa para as práticas políticas voltadas à sociedade. Afinal, para a Teologia da Libertação, a leitura é uma “produção de sentido” onde leitor constrói o significado do texto.

Concluo dizendo que “ser de esquerda” e “ser cristão” estabelece uma grande contradição, cuja síntese – se é que isso exista – sempre prejudicará o Evangelho e contribuirá maciçamente para com a esquerda. Ser cristão é não pertencer ao mundo, é ser peregrino, é ser louco para com os inteligentes deste mundo.

SOLA SCRIPTURA

Ao final dessa reflexão, resumo dizendo que oro a Deus para que a verdade sobre o nosso país venha à tona, que nosso povo amadureça e estabeleça um pensamento político desprendido das paixões partidárias e afeito ao combate ao hediondo crime de corrupção, em todas as esferas.

Não é possível que nós, cristãos brasileiros, admitamos que ideologias nos ceguem a respeito das verdades bíblicas, da retidão e honestidade que a Bíblia nos cobra e da nossa obrigação cidadã que Jesus nos ensinou.

Oro ainda que as paixões políticas de Ariovaldo Ramos não sufoquem o pastor, que muito contribuiu à causa do Evangelho, e ainda pode doar.

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