Os mais recentes dados colhidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e divulgados em 2012, não deixam dúvidas de que o protestantismo histórico (PH) foi superado há muito pelo pentecostalismo. Mas à que se deve o baixo crescimento do PH? Antes de compreendermos o porquê da superação numérica, convém ressaltar três principais aspectos que, teoricamente, dariam vantagem ao PH.
Presença no Brasil – O PH possui ramificações no Brasil desde pelo menos 1810, com o estabelecimento das primeiras capelanias anglicanas, submetidas à Igreja Anglicana da Inglaterra. Posteriormente, em 1824, os luteranos chegam ao País, tendo como principais áreas de atuação o Rio Grande do Sul e a cidade de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. A partir dos anos 50 o protestantismo de conversão começa a se desenvolver no Brasil, por meio de presbiterianos (1859), metodistas (1876), batistas (1881) e episcopais (1890). Segundo Antonio Pierucci, trata-se de igrejas para cá trazidas e aqui implantadas pela palavra de pregadores e missionários enviados apenas com este fim: converter brasileiros (O Livro das Religiões, p. 281). De 1810 a 1910 temos, portanto, um período de 100 anos de atuação exclusiva do PH, no Brasil.
Investimento em Missões – O PH é referência em investimento missionário, a exemplo das inúmeras agências missionárias mantidas por igrejas batistas e presbiterianas, mas também por metodistas. Não apenas estrangeiras, como a Missão Antioquia – fundada na década de 60, pela irmã Barbara Burns –, há várias agências de origem brasileira e mantidas por igrejas protestantes históricas e de conversão.
Investimento em Educação – Outra área em que o PH é referência é na Educação. Não apenas na área teológica, mas também em educação secular as igrejas protestantes históricas são citadas como exemplo. É em Teologia, no entanto, que o PH desponta como referência histórica, nacional, como o departamento de Teologia da Universidade Metodista de São Paulo, que há anos veem formando bacharéis e mestres.
Contextualização
Apesar de o protestantismo histórico possuir mais tempo de atuação no Brasil, ser citado como referência em missões e em educação, quais seriam as causas do baixo crescimento verificado nas últimas décadas? Segundo Alderi Souza de Matos, em análise do protestantismo brasileiro no período republicano, em 1930 o total de presbiterianos era de 44.500; batistas: 40.500, metodistas: 15.500 e assembleianos: 13.500. A doutora em Antropologia Carmem Cinira Macedo, em Religiões no Brasil (1991:56), destaca que em 1910 havia no Brasil apenas dois templos pentecostais; em 1970, eles já eram 1100, enquanto todas as outras denominações protestantes reunidas somavam 1400. “Diferindo de tendências históricas, que se desenvolveram mais na classe média, o pentecostalismo brota nas camadas mais pobres como grama após a chuva”, ressalta a antropóloga ao referir-se à disparidade de crescimento entre igrejas históricas e pentecostais.
A questão socioeconômica dos brasileiros é uma das causas do baixo crescimento verificado em igrejas protestantes históricas, particularmente a partir da década de 50 quando o fenômeno migratório – motivado pela mecanização do campo e o aumento da oferta de trabalho nas grandes cidades e capitais – ocasiona os primeiros transtornos urbanos, como moradias precárias, massa de desempregados, diminuição da capacidade educacional e de saúde dos municípios. Neste contexto, o movimento pentecostal alcança as periferias, com inauguração de novos templos e conduzido por obreiros com pouca ou nenhuma instrução teológica e secular. Campanhas de cura e libertação – inspiradas em pregações de pastores norte-americanos – passam a ser um dos meios de alcance de uma população cujos índices econômicos, de acesso à saúde eram mínimos.
O surgimento de igrejas protestantes renovadas ou pentecostais e a introdução, a partir da década de 90, do modelo de evangelização conhecido como G12 ou Grupo dos Doze, são dois fenômenos que surgem em resposta ao avanço pentecostal e, ao mesmo tempo, como consequência de novas “visões” ou meios de sobrevivência de igrejas protestantes históricas – notadamente de igrejas batistas. O pentecostalismo assembleiano e de outras igrejas de segunda geração passam a ser tomados como base de uma nova estratégia missionária, de crescimento espiritual e numérico. Crentes desigrejados, insatisfeitos com o modelo tradicional de culto, vem impulsionando o desenvolvimento de um novo modelo de culto, que consiste na introdução de uma liturgia baseada em danças e ritmos seculares. Igrejas batistas, mas também pentecostais, como a Assembleia de Deus dos Últimos Dias, já adotaram o modelo.