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Algumas considerações sobre o Caso Bruno: o evangélico quer ser perdoado e ter livramento de Deus, porém não quer pagar o preço

Começou o Julgamento do goleiro Bruno, que é acusado de ser o mentor do assassinato de Elisa Samúdio. Algo me chama sempre atenção nesses personagens da mídia, que cometem crimes: a possível conversão ao evangelho.

Como já é lugar comum, pessoas que estão sendo acusadas e ou condenadas por crimes bárbaros e ou que se tornam populares, em um determinado momento, começam ir à mídia dizer que são convertidos, que leem a bíblia… Seria uma manipulação para comover a opinião pública ou realmente conversão?

Creio que Deus recupera qualquer pessoa, seja ela quem for mesmo sendo um assassino, porém o que temos que ter em mente é que há pessoas e pessoas e diferenças cruciais no assassino e ou mandante de um crime de uma pessoa que cometeu um crime sob pressão de momento. Ambos podem se arrepender e se converter, isso é fato, e por exatamente crer nisso é que existem penas e prisões, objetivando que no decorrer do cumprimento,  que este presidiário se recupere e não volte a cometer mais crimes. Isso me parece utopia, devido à situação prisional do nosso país que não recupera ninguém, porém temos que acreditar na resiliência do ser humano e na capacidade de Deus de alcançar esta pessoa em questão onde estiverem.

Entretanto, quando o arrependimento é verdadeiro, e principalmente quando há conversão de fato, o acusado em questão confessa todo o crime com detalhes e suas motivações, ainda que por este ato saiba que sua pena possa ser aumentada, e não busca com este ato confesso um atenuante para sua pena, ou seja, uma recompensa por estar dizendo a verdade, mas o arrependimento de ter tirado uma vida que é tão preciosa para Deus, o traz à realidade, à verdade, e principalmente ao arrependimento.

O verdadeiro convertido, o homem que reconhece o que é bondade, repete uma frase que está numa das mais enigmáticas parábolas de Jesus, que termina assim: “Assim também vocês, quando tiverem feito tudo o que lhes for ordenado, devem dizer: ‘Somos servos inúteis; apenas cumprimos o nosso dever’” (Lucas 17). Dizer a verdade neste caso é sua obrigação. Jesus não está negando que haverá recompensa, mas está dizendo que não é a sua busca que nos motiva.

Temos que ter em mente que quando é um pecado seu, pessoal, que não afeta a vida de terceiros, pessoas da sociedade (como acontece em um crime), a questão é entre você e Deus. Mas quando afeta uma nação, como é este e muitos casos que vão para mídia, a questão deve ser esclarecida para sociedade.

Algumas coisas não entendo: quando há um caso de adultério numa determinada igreja, por exemplo, e isso vem a público podendo trazer problemas para o ministério, alguns pastores fazem os envolvidos confessarem à toda congregação, muitas vezes até causando mais problemas do que solução, prejudicando uma família toda. Mas por acharem que é bíblico e necessário, expõem o fato . Assim fez justiça… Mas quando está tratando de um assassino que está na mídia o protege, não o faz confessar pelo mesmo motivo. É muito complexo, paradoxal em minha opinião, e penso qual seria a real motivação. Essa exposição na mídia de uma possível conversão me soa como apenas um escândalo.

-Ai do mundo, por causa dos escândalos; Porque é inevitável que venham escândalos, Mas ai do homem pelo qual vem o escândalo –Mateus 18.7.

Não podemos ser ingênuos: o assassino manipulador apenas usa a Bíblia como arma para sua defesa, como ferramenta de comoção da opinião pública. Pois a intenção é confundir os jurados e/ou a sociedade. O objetivo é se livrar ou atenuar sua pena, Não consigo ver nisso mão a de Deus.

É fácil perceber. Existem sim, assassinos convertidos, e pelo comportamento, estes, fazem um inventario moral e querem reparar de alguma forma seu erro: confessam, pedem perdão, contam seus reais motivos, pois precisam se libertar da culpa e nesse caso a liberação da culpa é a confissão, a retratação social, o que seria um exemplo para a nação de um verdadeiro homem que se mostra arrependido.

-Não há nada escondido que não venha a ser revelado, nem oculto que não venha a se tornar conhecido -Mateus 10.16b

Porém quando é um embuste, ou um homem assustado, ele apenas se mostra como convertido, aprende como se proteger com atitudes copiadas, mas nunca vai contar realmente o porquê de tudo e sua motivação, pois o que importa para estes é a opinião pública, já que seu ego não suportaria essa verdade de ser taxado como alguém sem atrativo algum. A imagem neste caso é sua idolatria, perdê-la é pior que sua prisão. Mesmo estando presos, estes querem holofotes para si. E isso os mantém ativos, pois se caem no esquecimento, se deprimem.

Parece-me que o goleiro Bruno está fora da realidade quando pensa e expressa esse desejo para mídia em jogar em uma Copa, por exemplo. Isso mostra que ele está negando o fato para si mesmo, ou apenas usando de manipulação pela palavra para confundir a opinião pública. Ou está acreditando em suas mentiras (mitômano), pois para seu ego é insuportável acreditar na verdade de seus atos. Porém se, este está sendo acompanhado por algum líder religioso deve ser trazido à realidade.

Há pessoas que não se arrependem e ainda tentam achar motivos para explicar o inexplicável. Neste caso específico, se Bruno é convertido, então vamos esperar que ele conte exatamente o que aconteceu, seus erros, suas motivações, e ainda que não tenha mandado matar a Elisa, mãe de seu filho, sabe quem fez e deve contar tudo, pois estará sob Juramento. Isso é, se for  convertido como diz.

Porém se, nada de novo for esclarecido, se continuar nessa manipulação típica do direito, infelizmente só me resta crer que é mais um manipulador usando a Bíblia para se defender, da forma mais oportunista que um cidadão possa fazer: como um legítimo psicopata da fé, manipulador do evangelho.

Creio que devemos orar para que esse moço se converta de fato, e fale a verdade nesse julgamento. Aí sim o nome de Deus será honrado pela verdade. Deus não precisa desse tipo de mídia, tipo: “converti-me, leio a Bíblia todas as noites”. Precisa sim, da verdade… “Por ter encontrado Jesus em minha vida, não poderei mais mentir sobre os fatos”. Isso sim seriam a glória e uma divulgação do verdadeiro amor de DEUS pela humanidade, pois Deus é Justiça.

Jesus é apresentado pelos apóstolos como o crivo (diríamos, a lei, a Constituição) pelo qual todo comparecerá diante de um “Pai que julga imparcialmente as obras de cada um” (1Pedro 1.17). Paulo garante que Deus julgará “os segredos dos homens, mediante Jesus Cristo” (Romanos 2.16).
É sempre estranha ao homem, a ideia de julgamento. O homem natural anseia pela liberdade, mas tem horror à responsabilidade. Por isso sempre vai manipular a verdade a seu favor, a não ser, que seja realmente convertido.

Na prática do bem, não devemos ser motivados pelo medo do julgamento, mas na prática do mal precisamos ter em mente que todos seremos julgados. Falta isto aos homens e é por isto que temos que convivemos com a banalidade do mal.

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