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A “coalizão católica-protestante” e sua influência sobre a política, mídia, entretenimento e o consumo de seus fiéis.

União de católicos e evangélicos no Brasil

Início minha proposição considerando que o cenário social, o diálogo ecumênico e os líderes religiosos necessários e conscientes para a formação e manifestação de uma coalizão de interesses dos dois maiores blocos religiosos de nosso país – já existem. Os atores dessa aliança estratégica estão a seu modo e com enfoques específicos propondo unificações cristãs. E isso me faz considerar que é questão de curto tempo – para que todos contemplem a minha exposição em configurações e movimentos mais delineados – daquilo que nomeio aqui como “coalizão católica-protestante”.

O que é a coalizão católica-protestante?
Convém explicar que “coalizão católica-protestante” não é simplesmente um incabível composto neológico – pois diferente disso, trata-se da esperada expressão da grande sociedade brasileira; e que como reconfirmação de sua existência imperceptível (a da coalizão) na resposta política que esses milhões de católicos e evangélicos darão nas urnas e sobretudo, de uma pitada teológica. Sim, também tem teologia como levedura dessa impensável e agora necessária aliança. Teologia enquanto estudo do Divino e, por conseguinte das vontades do Divino sobre decisões e escolhas humanas – sempre influenciará uma sociedade como a nossa – formada majoritariamente por cristãos (e esse é o ponto que torna possível e mais que isso, real essa coalizão), uma vez que o censo do IBGE de 2010 divulgou que a população brasileira é 64,6% católica e 22,2% protestante, ou seja: quase 87% dos brasileiros são cristãos declarados.

O que provocou a necessária coalizão católica-protestante?
Com o desregramento moral de uma minoria desejando impor sobre a maioria as suas vontades e paixões – os horizontes cristãos no Brasil, sobremodo enegreceram. Ainda mais que recentemente ocorreram ataques declarados de parte da mídia bem como de grandes corporações alinhando-se numa série de bombardeios publicitários pela promoção e inculcação a qualquer preço da ideologia de gênero, perversão de menores e desconstrução da família tradicional como nunca fizeram antes. A mídia (com muita ênfase a Rede Globo) com suas matérias e reportagens “especiais” sobre temas que desagradam a maioria. Outrossim, divulgação inverídica da associação de evangélicos com traficantes em periferias do RJ, que pelo exibido proposto teriam ocasionado o fechamento de terreiros de religiões afro-brasileiras. Não preciso dizer o quanto que católicos e evangélicos se sentiram ofendidos com tudo isso – pois digo que estão feridos e virão à forra – dando resposta, principalmente na próxima eleição.

O que afirmei – a formação de uma coalizão de católicos e protestantes – está claro como o dia, pois é cada vez mais comum ouvir e assistir a conclamações de diferentes bispos e padres da igreja católica aos evangélicos – convidando-os a unirem forças em torno de valores comuns a ambos para boicotarem ou deixarem de vez a audiência de programações de canais de tv (principalmente as novelas da Rede Globo) que tripudiam dos princípios e da fé doutrinária dos cristãos nacionais. Também têm sido constantes as convocações de pastores à evangélicos (principalmente os pastores políticos ou aqueles outros que detém certa influência junto a classe) para cessarem atividades de consumo com algumas marcas de empresas que publicamente (através de suas campanhas publicitárias) apoiam causas opostas aos ensinos da Bíblia Sagrada. Esses posicionamentos de ambos os lados se entrelaçaram – e a meu ver são a origem ou a razão da nomenclatura aplicada a essa atípica coalizão.

A justificativa política para a formação da coalizão
Então, essa sociedade brasileira que é predominantemente cristã quando vê suas crenças sendo vituperadas ou percebe ameaças a seus valores familiares, engaja-se e passa a fazer política (porque para católicos e evangélicos essa é à vontade Deus: defender a fé que um dia foi dada aos santos). E nesse particular faz política elegendo representantes seus a cargos públicos afim de defenderem suas posições de fé e seus padrões morais e éticos.
Resultado: em 2014 os cristãos elegeram o congresso mais conservador do período pós-1964. A resposta das urnas foi literalmente a expressão da vontade de eleitores católicos e evangélicos que são simplesmente a maioria da população brasileira. E nesse congresso formado em 2014 pelo voto popular, labutam em maior número militares, religiosos, ruralistas e outros movimentos identificados com o conservadorismo – defendendo causas de interesse tanto dos católicos quanto dos evangélicos.

Mas desde a última eleição federal tantas coisas aconteceram e os últimos eventos ligados a arte – exposições patrocinadas também com verba pública, feriram a religião e a fé da maioria dos brasileiros; ainda mais – parte da imprensa ao que parece declarou guerra aos cristãos desse pais. E por conta disso tudo concorre para que nas próximas eleições (2018) a coalizão católica-protestante se manifeste definitivamente em seu majoritário e enrijecido aspecto político.

Só há um caminho para refrear e interromper os vigorosos ataques que os cristãos desse país estão suportando quer pela mídia ou pelo governo federal – maciça presença política no congresso nacional. Somente isso fará com que os dois grandes blocos religiosos da nação possam continuar através da política – a rechaçar movimentos ameaçadores à família tradicional, a símbolos religiosos e a aceitação “criacionista-biológica” do sexo humano (Deus criou o homem e a mulher e nada além disso). E farão isso através de uma resistência da bancada da coalizão frente às propostas de leis descabidas. Mas, na verdade farão mais que isso; criarão leis mais restritivas a alguns tipos de manifestações artísticas, regularão materiais e programas educativos das escolas mantidas pelo Governo Federal e legislarão sobre tipos de publicidades veiculadas quer na tv, jornais, rádio e internet – e tentarão a todo custo fazer desse jeito – pois é movimento óbvio – aguardado; afinal, a minoria incomodou a maioria que agora reagirá.

O aspecto ecumênico da coalizão
A coalizão católica-protestante só é ecumênica por que envolverá a união de religiões diferentes (pois há diferenças e divergências abissais entre os dois blocos) em torno de princípios e interesses comuns – mas acredito que por fim constituir-se-á mais que isso.
Essa aliança não deve ser ecumênica a ponto de pastores ocuparem palcos de eventos ou altares de celebrações católicas e vice-versa. Mas será ecumênica no sentido de congregar interesses comuns de católicos e protestantes – e isso forjará não somente discursos inflamados e consonantes, mas candidatos alinhados pela convergência de interesses dos dois polos religiosos. Inevitavelmente esse é o tipo de política que o cristianismo tupiniquim vai precisar fazer – se não desejar a sobrevivência sob perseguições de um Apocalipse 13 antecipado e fora da revelação joanina – e unidos nesses aspectos será caracterizado pelo idêntico discurso ecumênico dos candidatos sujeitos à Roma e daqueles que comemoram neste ano os 500 anos da reforma protestante – de certo modo isso é ecumênico.

As novas oportunidades políticas trazidas pela coalizão
Há de se esperar que nas eleições do ano que vem muitos candidatos não serão políticos de carreira; ou seja, serão candidatos pela primeira vez. E eles atenderão aos apelos sociais da maioria e serão solicitados a representa-la – e a maioria é conservadora – pois é católica ou evangélica. Isso à primeira vista (novos candidatos não políticos) pode significar renovação, mas sabemos que nosso grande borrão político (corrupção) não é desfeito apenas pela substituição via voto de parlamentares – é a atual engrenagem política implantada a grande corruptora – e será que esses novos candidatos nada políticos terão condições e conhecimentos necessários para desmontá-la? Independente do desfecho e da capacidade legislativa de cada um – muitos dos novos candidatos estarão lá – isso deve caracterizar a composição do novo parlamento de 2018: gente nova para defender posições antigas da coalizão católica-protestante.

O aspecto midiático e econômico da coalizão
A coalizão requererá um posicionamento mais definido de seus adeptos quanto à suas preferências televisivas, virtuais e impressas (isso já vinha timidamente acontecendo, mas agora encorpou-se), de modo que se alguma fala, cena ou comercial chocar-se com posições tradicionais – principalmente sobre sexo ou família, esse fiel será cada vez mais persuadido a trocar de canal, a cancelar assinatura ou extingui-lo de vez de seus hábitos de entretenimento. Mas, acredito que a coalizão não será capaz de ganhar essa batalha (pelo menos nesse prisma). Pois há fiéis nas fileiras do cristianismo brasileiro mais adeptos dos times de futebol do que a própria igreja que frequentam – isso acabará minimizando os efeitos do tal boicote a emissoras inimigas da fé – como a Rede Globo de Televisão – que reina absoluta nesse campo.

Por conta do hábito futebolístico de seus adeptos a coalizão não ganhará muito no jogo de eliminar os principais canais de futebol – de propriedade de seu maior inimigo doutrinário (as Organizações Globo); já no âmbito moral-econômico ela influenciará cada vez mais com o seu doutrinamento e homilia – e por fim, isso vai atingir as novelas. Ou seja, a igreja vai perder no futebol – mas nas telenovelas vai conseguir reduzir a assistência das tais significativamente – ao ponto de causar preocupações sérias nos respectivos núcleos de teledramaturgia – pois a repercussão negativa junto aos milhões de adeptos da coalizão implicará na redução financeira que a queda de audiência das novelas e séries imporá sobre os valores dos novos contratos com anunciantes.

Ampliando os efeitos negativos que a coalizão católica-protestante poderá infringir nos seus adversários corporativos declarados (companhias e empresas); trago como exemplo contundente o caso do banco Santander que por ter expressado apoio financeiro e escrito (através de uma rede social) a uma controversa exposição num museu de artes no sul do país, em pouco tempo se viu em meio à uma enxurrada de fechamentos de contas, a dezenas de milhares – e imagine o prejuízo. Pois bem leitores, isso já foi um efeito da ainda, anônima coalizão. Pois bem, ela na prática já existe e ganhará forma e caracterizações próprias cada vez mais – quem viver verá.

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