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Caso Jéssica: um grito de socorro ignorado pela ‘desumanização’ nas redes sociais

Caso Jéssica Vitória: um grito de socorro ignorado pela 'desumanização' nas redes sociais

Foto: reprodução/Google

Esta semana tivemos a triste notícia da morte de Jéssica Vitoria Dias Canedo, uma jovem de apenas 22 anos que tirou a própria vida após ser vítima de fake news compartilhada em um perfil de fofocas com milhões de seguidores nas redes sociais. Com base neste caso, quero fazer alguns alertas que infelizmente encontram pleno respaldo no mundo atual.

Primeiro, a morte de Jéssica não foi apenas em decorrência de um problema de saúde mental que ela já vinha enfrentando, a depressão, mas ao modo como a própria doença foi ignorada por pessoas que, mesmo diante do apelo feito por sua mãe, continuaram atacando a jovem, conforme prints de mensagens que circulam na web.

Esse comportamento animalesco e indiferente é reflexo da objetificação humana nas redes sociais, algo que pode estar associado à busca constante, e desenfreada, por visibilidade e engajamento. Ou seja, um verdadeiro vale-tudo em nome de curtidas, cliques e compartilhamentos.

O resultado dessa busca insana é a desumanização do “outro”, que cada vez mais passa a ser tratado como um concorrente em potencial, alguém a ser “eliminado” ao menor sinal de rejeição. Podemos observar isso claramente nas campanhas de “cancelamento”, algo do qual a Jéssica também foi vítima.

Segundo, o caso Jéssica também nos mostra o quanto um perfil, página ou mídia com milhares e milhões de seguidores pode ser responsável por afetar tragicamente a vida de alguém, caso não seja utilizado com a devida responsabilidade por parte do seu proprietário e/ou empresa, etc. O envolvimento da “Choquei” nessa história é uma prova disso.

Neste sentido, assim como os veículos de imprensa, os influenciadores precisam ter a plena consciência das suas responsabilidades ao abordarem determinados assuntos, especialmente quando isso envolve a exposição de pessoas, uma vez que a reputação de alguém, consequentemente a sua vida, pode ser gravemente prejudicada.

No caso de Jéssica, a difamação pública, caluniosa e, portanto, mentirosa, pode ter sido o gatilho determinante para que a jovem resolvesse desistir de viver, fazendo com que a sua condição de saúde mental não conseguisse suportar tamanha exposição negativa e irresponsável.

Infelizmente, já vimos casos parecidos em situações onde os jovens foram influenciados por “desafios” da internet ou personagens. Há anos participei de uma audiência pública no Congresso Nacional, como psicóloga, onde abordei o problema do jogo “Baleia Azul”, algo que exemplifica muito bem o desafio que enfrentamos diante do poder das mídias sociais.

Não ignore

Em terceiro e por último, outro alerta que faço é sobre os riscos do adoecimento mental/emocional entre os jovens. Essa é uma realidade que cresceu nos últimos anos e continua aumentando, acredito, pelo contexto de desconstrução de valores e também pela própria desumanização nas redes sociais, como afirmei acima.

Se você é pai, mãe ou responsável por alguém que manifesta algum tipo de sintoma indicativo de transtorno emocional, não ignore! Procure ajuda especializada e busque identificar quais estratégias poderão ser aplicadas em favor da pessoa que precisa, considerando que cada caso deve ser compreendido de forma específica.

No mais, sejamos agentes do bem, espalhando o que é bom, sempre enxergando que por trás de uma tela, dos perfis, há um ser humano, muitas vezes alguém que precisa de ajuda em muitos aspectos, e que talvez esteja fazendo uso das mídias como forma de pedir socorro.

Aos familiares de Jéssica, deixo os sinceros sentimentos e o desejo de que Deus, que é misericordioso, conforte os seus corações.

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