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A Casa de Deus – Parte 2

Continuação:

Ao concluir a aliança com Moisés, Jeová ordena:  “Faz-me um santuário, para que possa residir com eles, os israelitas” , Ex 25:8. Construído e consagrado, o santuário, “a glória de Jeová encheu o Tabernáculo (mishkan)” Ex 40:34.

A hermenêutica dos versículos do Êxodo referentes ao Tabernáculo Ex. 25 a 40, santuário portátil que acompanhou os israelitas após o Êxodo, pode conduzir-nos a diferentes níveis de significação. A um primeiro nível, corresponderá a sua figura literal: um santuário portátil destinado a   acolher a Arca da Aliança. A um segundo nível, surge-nos a pré-figuração do Templo de Jerusalém, do seu plano arquitectónico, do  seu conteúdo emblemático e da sua expressão cultural. A um terceiro nível, surge-nos a identificação do Templo com a Comunidade de Israel.

É este terceiro nível, o de mais profunda significação, que referiremos. dado que os dois outros apontam para o arquétipo espacial do Templo, do qual nos ocuparemos mais adiante.

Quando no Deut. 4, Moisés se dirige a Israel, passando à exortação directa, afirma, em tom interrogativo: “Qual é, na realidade, a grande nação cujos deuses se tornaram tão próximos como Jeová nosso Deus o é para nós cada vez que O invocamos? Deut. 4:7“. Na mesma linha de significação, poderá ler-se no Salmo 68: 35, 36:

“Reconhecei o poder de Deus.
Sobre Israel o seu esplendor, no céu o seu poder:
É ele, o Deus no seu santuário.
É ele, o Deus de Israel,
Que dá ao povo força e poder”

O Salmo 68, hino à gloriosa epopeia de Israel, tal como os citados versículos do Deuteronómio, aponta para um Templo que se confunde com a Comunidade de Israel: “Deus habitará verdadeiramente com os homens da terra. Os céus, e os céus dos  céus não podem conter, menos ainda esta casa que eu construí” I Reis, 8:27.

Se Jeová está espacialmente presente no Templo, não pode estar nele contido porque o seu lugar – o seu Templo – de manifestação é a Comunidade de Israel.

Esta realidade espiritual do Templo, ou a mística realidade de um Templo Espiritual, torna-se patente na situação de Exílio, pois a Sechiná acompanhava Israel no exílio: “Dispersei-os pelos países estrangeiros e fui para eles, israelitas, um santuário Ezequiel 11:16. O que significa que possuir um Templo de pedra, um edifício consagrado, não é essencial para garantir e assegurar a manifestação divina. O próprio Deus será para os exilados o santuário que acolhe no seu seio a Comunidade, mantendo-a na sua esperança messiânica.

A profecia de Nathan, tal como surge em II Samuel 7, aponta para o sentido comunitário e espiritual do Templo, dado que, no seu sentido críptico transparece o contraste em que se apoia: não será David que fará construir uma casa, Templo a Jeová,  mas Jeová que fará uma casa, dinastia, a David. A promessa visa a permanência da linhagem davídica e, através desta, a continuidade temporal e espiritual da Comunidade de Israel: “A tua casa e o teu reino subsistirão para sempre perante mim, II Samuel 7:16“.

Através da teofania, o Templo identifica-se com Israel e com a sua “Gloriosa epopeia”. Continua.

Fraternalmente, casal com uma missão,

Amilcar e Isabel Rodrigues

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