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Batistas Nacionais discutem Pastorado Feminino. “Se a pauta passar, pode haver um racha”, afirma pastor.

Embora não seja novidade, a ordenação feminina ao ministério pastoral ainda gera muita polêmica e discussão no Brasil. Com fácil aceitação entre as Igrejas Neo-Pentecostais, é nas Igrejas de origem histórica que a questão encontra as maiores barreiras.

Num passado não tão distante, divisões e desligamentos marcaram a história de muitas igrejas lideradas por mulheres que acabaram por se tornarem independentes. Ao contrário do que muitos pensam, “pastoras” tem se mostrado muito eficientes quanto a abertura de novas congregações e administração das mesmas. É só ver que igrejas assim tem crescido em todo o país.

Antes marginalizadas, muitas hoje alcançam respeito diante da sociedade. Resta-nos saber, entretanto, porque ainda há dificuldades em aceitá-las. E o mais importante é saber o que a Bíblia diz a respeito. Seria interessante também saber, que tipo de desafios este ministério representa para as mulheres.

Sem tentar emitir uma opinião pessoal, falei com o Pr. Gilberto Nascimento que é um dos líderes da Juventude Batista Nacional e presidente da Ordem de Ministros Batistas do Rio Grande do Norte, para saber a quantos anda a discussão e o que em geral os pastores pensam sobre isso. Acompanhe a entrevista completa e deixe sua opinião: Você é contra ou a favor?

Pr. Gilberto, quando se deu sua conversão ao Evangelho? Aconteceu há 23 anos! Na escola onde estudava, havia um grupo de adolescentes que se destacava pelo bom comportamento, a forma de falar e a alegria contagiante que era transmitida aos demais colegas de classe. Era algo diferente! Chamou minha atenção! Quando me aproximei deles, descobri que eram evangélicos, daí me convidaram para a igreja. A princípio, relutei. Cresci numa igreja romana e sempre fui muito ativo. Era comprometido com o coral e possuía um vínculo. Com o tempo, a amizade foi se fortalecendo com os irmãos. Aos poucos, passei a frequentar a Igreja Batista do bairro onde morava. E por fim, a Palavra de Deus que diz que a fé vem pelo ouvir, se cumpriu em minha vida.

Quando e como se deu seu pastorado? Seis a sete anos depois que me converti a Cristo. Existe uma expressão que diz: “diga-me com quem andas e eu te direi quem és”. Esse dito popular mostra quem eram as minhas companhias. Meus pais ainda moram na mesma rua onde existe a casa pastoral da Igreja Batista. Então, desde os meus primeiros passos na fé, minha vida foi caminhar com os dois pastores que em épocas diferentes moraram lá. Como éramos vizinhos e amigos, me chamavam para acompanhá-los nas visitas as famílias necessitadas, nos hospitais e onde era preciso. Eu os acompanhava de perto em tudo que faziam na função pastoral. Já era Deus me preparando para o ministério. Por este tempo, já orava para que Deus confirmasse este chamado em mim.  Um dia fui visitar uma igreja. O ônibus demorou muito. Quando cheguei ao local de culto, o pastor da igreja já estava ministrando. Assim que entrei, olhei para o púlpito e não consegui vê-lo. O que vi foi minha imagem ministrando naquela igreja. Fiquei surpreso, pois creio que era uma visão. Lembro-me de que esfregava os olhos mas a cena não mudava. Caminhei até o meio da igreja e quando sentei, tudo voltou ao normal. Ali Deus confirmou este desejo em meu coração.

Há quanto tempo exerce este ministério? Onde trabalhou? Há quase 14 anos. Trabalhei em três interiores de Pernambuco, Moreno, Paudalho e Goiana, passei três anos e 2 meses em um dos litorais do Rio Grande do Norte e já estive no Paraguai com a JAMI em Missões. Hoje estou com a minha família no Agreste Potiguar há cinco anos.

O Sr. também exerce cargos dentro da convenção batista nacional? Sim. Hoje, estou como presidente da ORMIBAN, Rio Grande do Norte. A ORMIBAN é uma instituição da Convenção Batista Nacional (CBN), constituída de pastores e ministros que pertence às igrejas filiadas.

Também sou Vice-presidente da JUBAN Brasil (Juventude Batista Nacional).

Quando será a discussão (votação) da CBN sobre a ordenação feminina? Acredito que acontecerá no 19º Congresso de Pastores, que será realizado na cidade de Florianópolis/SC entre os dias 20 à 22 de agosto do corrente ano.

O Sr. é a favor ou contra a ordenação e reconhecimento das pastoras que já trabalham “clandestinamente”, ou seja, sem reconhecimento formal?  Esse assunto não é e nunca será uma unanimidade entre as igreja evangélicas. Entre os Batistas Nacionais também não será diferente. Eu sou contra. Não vejo nenhum respaldo Bíblico ou ortodoxo em relação a ordenação feminina. Em outras palavras, não há nenhuma citação na Bíblia endossando o chamado feminino. Alguém diz mais o Espírito me revelou! Se revelou, porque não está nos Oráculos de Deus? Nas Sagradas Escrituras? Os gálatas por exemplo, eram culpados, ainda, de outro pecado que causava grande aflição ao apóstolo: distorciam o evangelho de Deus. Os judaizantes afirmavam pregar “o evangelho”, mas não é possível haver dois evangelhos, um com base nas obras e outro com base na graça. “Eles não estão pregando outro evangelho”, escreve Paulo, “mas uma mensagem diferente – tão diferente do verdadeiro evangelho que, afinal, não é evangelho”. Os judaizantes diziam: “Cremos em Jesus Cristo, mas temos algo maravilhoso a acrescentar ao que vocês já creem”. Como se alguém pudesse “acrescentar” algo melhor à graça de Deus! O termo traduzido como perverter em Gálatas 1:7 é usado apenas três vezes no Novo Testamento (At 2:20; GI 1:7; Tg 4:9). Significa “fazer uma reviravolta, passar a seguir em direção contrária” e também poderia ser traduzido por “inverter”.

Há alguns que acreditam que se a ordenação feminina for aprovada haverá um racha na convenção. Acredita que isso seja possível? Permita-me parafrasear o que o pastor Rosivaldo Araújo (um dos fundadores da convenção), escreveu em seu livro: Ninguém Detém, É Obra Santa! sobre a ordenação feminina: Já havia dois anos que todas as ordens regionais do Brasil estavam debatendo a matéria, e havia várias opiniões, pró e contra. É que os dois grupos fecharam a discussão, se um ficasse o outro sairia. Qualquer posição que fosse tomada desagradaria a um dos grupos. A comissão que foi formada não havia encontrado um ponto em comum, como já discorremos acima para embasar tal ideia.

Voltando para Gálatas, quais as consequências dessa “perversão” para os cristãos da Galácia? Ela os perturbava (GI 1:7). O verbo “perturbar” tem o sentido de perplexidade, confusão, inquietação. Não é de se admirar que Paulo estivesse aflito por causa de seus convertidos: passavam por grande inquietação por causa das falsas doutrinas que haviam trazido para dentro das igrejas. A graça sempre conduz à paz (ver GI 1:3), mas os cristãos abandonaram a graça e, portanto, não tinham paz alguma no coração. Se é possível haver um racha? A Palavra nos ensina: “Amai-vos uns aos outros” é o princípio fundamental da vida cristã. É o “novo mandamento” que Cristo nos deu. Quando praticamos o amor, não precisamos de nenhuma outra lei, pois o amor abrange todas as coisas! Se amarmos os outros, não pecaremos contra eles. Paulo concentra-se no cerne do problema: o coração humano. Com certeza, haverá um racha se o homem pensar no seu lado egoísta e mesquinho.  Já haveria na época que o pastor Rosivaldo presidiu a comissão sobre esta mesma matéria. Que a proposta desta comissão permaneça: Que o assunto de consagração feminina deveria sair das mãos das ORMIBAN’s regionais, para ficar nas mãos das igrejas locais, uma vez que, em nossa posição batista, a igreja local é quem tem a última palavra.

De forma geral, como se posicionam as igrejas batistas nacionais em relação ao assunto? Este assunto que sempre não é novo. O que o diferencia é que a lideranças estaduais e nacionais sempre estão em transição, então torna-se novo para quem está conduzindo o processo. Participei de uma discussão com este tema com pastores de outros estados e tenho conversado com algumas lideranças do Brasil. Não sei em relação às outras regiões, mas em se tratando de Nordeste, posso afirmar que da Bahia ao Ceará, os pastores da Ordem não são favoráveis pelo simples fato de não haver respaldo Bíblico.

Qual o seu conselho para uma mulher que tenha o desejo de se tornar “pastora”? Continuem servindo ao Senhor em suas igrejas, pois o Evangelho é revelado pelo Espírito mediante a sua Palavra, se não for pela Palavra não é Evangelho. Eu não tenho nenhuma dúvida que vocês são mulheres de Deus e tementes. Deixo para a meditação de vocês I Coríntios 2: 13 – Disto também falamos, não em palavras ensinadas pela sabedoria humana, mas ensinadas pelo Espírito, conferindo coisas espirituais com espirituais. Jesus prometeu que seu Espírito nos ensinaria e nos conduziria à verdade. No entanto, devemos observar com cuidado a sequência dos fatos: o Espírito ensinou Paulo sobre a Palavra, e só depois Paulo ensinou aos cristãos. A verdade de Deus encontra-se na Palavra de Deus, e é extremamente importante observar que essas verdades espirituais são apresentadas por meio de palavras específicas. A Bíblia não contém apenas pensamentos inspirados, mas também palavras inspiradas. “Porque eu lhes tenho transmitido as palavras que me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste”. De que maneira o Espírito ensina o cristão? Compara “coisas espirituais com espirituais”. Traz à memória o que nos ensinou, relaciona essa verdade com algo novo e, em seguida, nos guia até uma nova verdade ou novas aplicações de uma verdade conhecida. É grande a alegria de colocar- se diante das páginas da Bíblia e deixar que o Espírito nos revele a verdade de Deus!

 

 

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