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Ahmed, o menino vendedor de lenços e a sua Guerra da Síria

Ahmed Hamdo Abeyd, de cerca de 10 anos, vende lenços de papel. É um refugiado sírio na Turquia. A insana guerra que já vai para quatro anos, não foi iniciativa sua. Sua iniciativa, não tão livre assim, é vender lencinhos de papel. Ele é um dos milhões de refugiados no país vizinho e come das migalhas que caem da mesa de seus senhores.

Ahmed vende singelos lenços de papel na praça Basmane, em Izmir, na Turquia. Papel pode ser tanto um produto derivado do Papyrus, quanto um subproduto social derivado de um conflito que o mundo resolveu ignorar.

Foi o papel, invenção egípcia de 6 mil anos, que nos possibilitou um salto civilizatório ao permitir que deixássemos de escrever nossos textos cuneiformes em tabuletas de pedra ou argila.

Há outros papéis que cuidamos de inventar. O de Ahmed é um deles. E ele sempre se virou como pôde, até ser agredido pelo dono do bar sob a alegação de que incomodava seus clientes quando, para viver, tentava trocar seus papéis por papel-moeda, outra invenção da civilização. Foi agredido a ponto de ficar desacordado. O mundo ficou comovido com o episódio. O mesmo mundo que parece não se comover tanto com a guerra de Bassar al-Assad.

Ahmed, “sem lenço, nem documento”, é um dos desesperados da guerra anticivilizatória da Síria, onde nesses últimos quatro anos ainda não se inventou, nem há sinais de que vá se inventar, qualquer tipo de lenço branco da paz. Enquanto isso, para viver, Ahmed vai se virando como pode na sua guerrinha particular.

Por Dilson Cunha

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