A PAZ POSSÍVEL
A questão árabe-israelense
Enquanto escrevo estas linhas, há um povo que vive numa situação deprimente, sub humana, indigna e deplorável há décadas: os palestinos. Esmagados numa estreita faixa de terra e considerados ‘persona non grata’ no Ocidente da terra. Tendo que encarar não só a extremada força de Israel, como toda a beligerância dos EUA. Como se não bastasse tudo isso, ainda se vê às voltas com o extremista Hamas. Do outro lado, há também um povo que luta por sua legítima preservação através de sua histórica e sofrível luta por autodeterminação: os judeus.
Mas há muita mentira por trás da cortina. A primeira vítima numa guerra sempre foi e continua sendo a verdade. No conflito árabe-israelense, ela é a primeira e a última vítimas.
Passemos então para a Cisjordânia. Primeiro, Benjamin Netanyahu disse que não negociaria com o ‘presidente’ palestino Mahmoud Abbas, porque Abbas não representava também o Hamas. Depois, quando Abbas formou um governo de unidade, Netanyahu disse que não negociaria com Abbas, porque este havia unificado seu governo com o “terrorista” Hamas. Agora, está dizendo que só falará com Abbas se romper com o Hamas – quando, então, rompido, Abbas não representará o Hamas… Certo estava Rabin ao dizer que se deveria combater o terrorismo como se não existissem negociações, mas se deveria também persistir nas negociações apesar dos terroristas. Assim caminha a humanidade árabe-israelense, “com passos de formiga e sem vontade”.
A espiral de violência decorrente da opressão aos palestinos na Cisjordânia e Gaza, da não aceitação do Estado judeu por lideranças árabes, o terrorismo contra civis israelenses e as punições coletivas (e covardes) contra a população árabe não favorecem a paz. As raizes históricas do problema são profundas e levar isso em conta como razão para exclusividade de autodeterminação por qualquer dos lados, é eliminar qualquer possibilidade de solução. Aliás, é o que vem ocorrendo desde o fim do século XIX. As vozes que reclamam o direito mútuo à autodeterminação são constantemente desprezadas, como é o caso do movimento pacifista judeu Peace Now. Nesses conflito, qualquer solução unilateral é inviabilizar a paz. Aliás, o cerne do litígio árabe-israelense não é outro senão a unilateralidade.
A coexistência é possível, como possível é a autodeterminação dos povos. Esses povos existem, são um fato e têm direito à existência. Isso é inexorável. E isso à revelia dos interesses escusos do Ocidente. Mais que possível, a coexistência é necessária. Não há outro caminho viável. E esse caminho só é possível por meio de negociações. E numa negociação é assim mesmo, só se ganha perdendo, mas, perdendo alguma coisa, se ganha todas as outras. Enquanto o ódio mútuo for a razão, nenhum dos lados terá razão alguma. Parece simples, não? E é. Talvez por isso mesmo a paz seja tão complicada.
Dilson Cunha
17/07/14