Não sou um dos cristãos que se sentiram ofendidos com o famigerado “Especial de Natal” do grupo Porta dos Fundos. Não assinei petições contra patrocinadores do grupo e acho um exagero que alguém recorra a processos judiciais contra humoristas.
Faz parte da dinâmica da democracia: Você tem o direito de ridicularizar crenças alheias e, por outro lado, deve aguentar quando as suas próprias crenças forem ridicularizadas. Sem tal dinâmica, a liberdade de expressão não passa de ficção.
Tendo dito isso…
Faz parte da dinâmica da liberdade de expressão: Eu tenho todo o direito de questionar quando os nossos humoristas – que se mostram tão hábeis em ridicularizar valores e símbolos caros aos cristãos – terão a coragem de fazer o mesmo com a religião islâmica.
Quando o Porta dos Fundos fará uma piada com o profeta Maomé? Aliás, quando veremos humoristas brasileiros ironizando os homens-bomba que gritam por “Alá, o Misericordioso” e em seguida se explodem, matando um monte de gente?
O objetivo deste artigo, contudo, não é o de fazer um lobby pela ofensa contra a religião alheia. Apenas quero ilustrar o fato de que fazer troça de cristãos – em qualquer lugar do mundo – é a coisa mais fácil e indolor que existe.
Quem zomba de Cristo normalmente é filho de cristãos gentis e tolerantes. Ao imaginar as pessoas que podem se ofender com suas piadas sobre a religião, os humoristas enxergam seus próprios pais, avós, amigos. Não há risco algum nisso.
Na Europa de hoje, por exemplo, ninguém mais consegue se vender como corajoso por fazer piadinhas ginasiais com a virgem Maria. Os europeus aprenderam que piadas – e principalmente charges – sobre outras religiões é que podem ser mortais.
A liberdade de expressão da qual gozamos no Ocidente inexiste nas teocracias das quais o Brasil é aliado. Fábio Porchat é garoto propaganda da Caixa Econômica Federal. É improvável que ele faça piadas sobre tal fato desagradável.
Desejo que nossos humoristas façam bom uso do privilégio que é viver em uma democracia ocidental, de maioria cristã, onde não correm os riscos que tantos missionários enfrentam lá fora apenas por ensinar a tolerância que Cristo pregava.