“Segurando a Bíblia em sua mão, Mahmud gritou:
-O que é isso? Como ousa trazer esse livro corrompido para nossa casa? Eu poderia matá-la por isso, mulher”! Mahmud aproximou-se de Hanan e a esbofeteou. Ela caiu no chão em prantos enquanto o marido repetia: “- Nós somos muçulmanos e se eu encontrar qualquer vestígio de que você está se corrompendo com os infiéis, eu a mato! Não deveria ter me casado com você, sua inútil…
Dois anos haviam se passado e a vida de Hanan tornara-se muito difícil. No entanto, tinha se apegado a Mahmud e nem ela sabia exatamente a razão. Ele vivia ocupado com o negócio e conseguia ser gentil algumas poucas vezes. Hanan sentia-se muito só, mas Mahmud nunca mais a havia agredido fisicamente, apesar de se mostrar constantemente irritado. Era a influência de sua sogra que mais a incomodava. Como Hanan ainda não tinha engravidado, Ahlan sugeriu ao filho que pensasse em arrumar outra esposa que pudesse lhe dar filhos homens. De acordo com a tradição, muçulmanos podem ter até quatro esposas simultaneamente se tiverem condições financeiras para sustentar cada família de forma digna. Esta prática está perdendo força e sendo desencorajada devido à influência ocidental e aos custos. Entretanto, para muitos muçulmanos ricos, especialmente do golfo, esta situação é perfeitamente aceita.
Hanan sabia que Mahmud não tinha dinheiro para isso, mas ficava muito triste e preocupada ao ouvir tais insinuações, pois ela escolheu se casar achando que o casamento lhe traria alegrias. Muitas vezes chorava e orava em silêncio. Pedia perdão a Deus por ter se dobrado ao Islamismo tão facilmente e ter negado Jesus. Como não possuía mais uma Bíblia, era complicado lembrar versículos Bíblicos. Vivendo no meio de uma comunidade totalmente muçulmana sentia falta de sua pequena igreja. O que falar de sua família? Os telefonemas que no início eram tão freqüentes, agora diminuíram e custavam caro. Que saudade tinha do Brasil! Algumas vezes pensara em voltar para casa, mas nem seu passaporte lhe pertencia mais.
Numa manhã sentindo-se indisposta pediu permissão para ir ao médico. Suas suspeitas se confirmaram. Deus tinha ouvido suas preces: estava grávida! À noite, sem poder conter sua alegria, contou ao marido e por um instante pensou ter visto um sorriso vindo dos lábios dele.
“-Pode ser que ele me ama”, disse a si mesma”
O trecho acima é parte do livro “Anjos Do Deserto”, uma história de amor a Deus, de compromisso com a Grande Comissão, de aventura e fé de uma jovem missionária, jovem que obedientemente, aceitou o desafio de servir à Igreja Perseguida no Oriente Médio. Este livro é um relato verídico de que o Senhor é Quem chama e sustenta com Sua graça e poder os que Ele vocaciona e Ele é que a seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labaredas de fogo, para no deserto assistirem quem a Ele serve.
Cecília C. N. Carvalho, Missionária da Junta Administrativa da Convenção Batista Nacional e Diretora do Centro de Estudo Transcultural e Missiológico da JAMI/CBN
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