Comecei esta semana abordando um tema delicado e bastante complexo que infelizmente ainda é um tabu na maioria das igrejas. Se trata da violência doméstica, um problema que, diferentemente do que alguns imaginam, também está presente na Igreja Cristã, assim como qualquer outro que é fruto da origem pecaminosa humana.
Há uma diferença, contudo, que precisamos ressaltar em relação a esse tema. Quando falamos de pecados como os de natureza sexual, abuso de drogas, avareza e muitos outros, tratamos estes assuntos com certa naturalidade e frequência, o que não acontece em relação à violência doméstica.
Creio que parte disso é devido à dificuldade que temos, como Igreja, de compreender e abordar questões da vida íntima entre o homem e a mulher.
Desenvolvemos uma cultura de que assuntos do casal são “problemas do casal”, o que não é totalmente verdadeiro, pois a violência doméstica, por exemplo, é algo que extrapola a esfera familiar e íntima, visto se tratar de um crime.
A capacitação é necessária
A falta de compreensão sobre a natureza da violência doméstica leva a outros erros, como a omissão diante dos casos. Por isso, a Igreja precisa estar capacitada para identificar e lidar com as situações que fogem da esfera íntima do casal, a exemplo da agressão.
Uma mulher agredida precisa de ajuda e não do silêncio. Ela precisa contar com o apoio dos irmãos em Cristo, seu pastor e líderes em geral, para que tenha a segurança necessária para denunciar o marido agressor de acordo com a gravidade da situação.
A capacitação da Igreja envolve a abordagem do tema de forma taxativa e ampla, para que todos saibam qual é a posição civil e teológica da denominação quanto ao problema. Também diz respeito à capacidade de se identificar quando a mulher vítima da agressão está sendo ameaçada pelo agressor.
É comum que mulheres vítimas da violência doméstica sejam ameaçadas pelo esposo a não denunciar a agressão. Por causa disso, algumas desenvolvem síndromes de ansiedade, pânico, depressão, baixa autoestima e outros sintomas nocivos de ordem emocional.
Em alguns casos, a mulher também procura esconder as consequências da agressão, como marcas pelo corpo, por se sentir envergonhada. São situações onde a vítima desenvolve um sentimento de culpa, assim como algumas vítimas de abuso sexual se sentem após a violência.
Isso ocorre devido ao poder alienador do agressor, que usa a opressão psicológica para fazer com que a vítima se sinta merecedora da violência. É uma triste realidade que a Igreja precisa estar atenta e capaz de identificar, mesmo quando a pessoa agredida não está consciente de que precisa de ajuda urgente.
Por fim, peço a Deus e aos irmãos para que esse tema não seja negligenciado pelos líderes cristãos. A violência doméstica é um crime que precisa ser tratado no âmbito doutrinário, mas também civilmente, pela justiça. Que sejamos, portanto, uma Igreja responsável pelo cuidado das mulheres vítimas desse tipo de barbárie.